domingo, 31 de maio de 2015

JURO QUE TENTEI

Neste fim de semana tentei assistir alguma coisa de automobilismo.
Por ex. a F-Indy lá em Detroit.
Rodada dupla com chuva no sábado e parte do domingo.
Meninos nem vi direito.
Na minha opinião os caras não são profissionais de fato.
Claro, tem gente grande ali.
Mas, existem momentos de maldonadice difíceis de entender. Caras que saem dos boxes com pneus frios e pisam fundo estampando o muro. Outros tentam ultrapassar onde não tem espaço naquelas intermináveis relargadas. E, etc, etc, etc 
Desisti de ver o final da prova do sábado. Era bandeira verde e menos de duas voltas depois alguém provocava bandeira amarela. Entediante também é a demora nas relargadas. Eles não tem pressa em liberar os carros. Fica aquela lenga lenga do carro de segurança com a pista limpa pronta para outra pancada. 
No domingo quem merecia vencer era Montoya. 
Vinha bem e eu estranhava a falta das bandeiras amarelas numa corrida com chuva.
Para que?
Da metade para a frente nem vi direito o que se passava. Nem duas voltas sem carro de segurança e alguém enchia o muro ou a traseira de outro carro.
Por isso, Montoya teve a estratégia prejudicada, ficou sem combustível no fim e acabou em décimo.
Antes, numa relargada Takuma Sato (ele mesmo!) ultrapassou o colombiano antes da linha de chegada. Pulei para cima com a sacanagem. Mas, dizem que vale. Quanto anunciam bandeira verde salve-se quem puder. Tanto que Sato chegou em segundo.
Não sei se vou ter saco em assistir outra dessas.

vitória com gosto ruim

NUNCA VI

Pela primeira vez uma corrida de monoposto foi interrompida por falta de técnica, ou ímpeto em excesso, por parte dos pilotos.
Foi na F-3 européia lá em Monza.
Os pilotos se envolveram em tantos acidentes no fim de semana que a prova de domingo foi parada pelos comissários.
Tivemos oito entradas do carro de segurança em 3 provas de trinta e cinco minutos em uma pista com bons acostamentos.
No vídeo uma das barbeiragens.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Coisa linda

O vídeo abaixo contém, basicamente, as últimas cinco voltas do GP da Itália de 1971. Cinco carros brigando - e brigando duro - palmo a palmo pela vitória. Peter Gethin, Ronnie Peterson e François Cevert, acompanhados de Mike Hailwood e Howden Ganley (para reconhecer estes dois últimos, confesso que tive que recorrer ao GGL, como diria a Globo). 
A transmissão pela TV ajudava a aumentar o suspense: via-se os carros saindo da Parabólica e entrando na reta; os bólidos, então, somem na entrada da Curva Grande e só reaparecem entre as duas Di Lesmo; somem, de novo, entre a saída da segunda Di Lesmo e a entrada do que, hoje, é a Ascari, reaparecem na resta oposta, para a tomada da Parabólica. 
Eram outros tempos. Reparem nos maluquetes na Parabólica, tirando foto. Tem um semi-retardado em cima do guard-rail. Reparem também na combinação de ímpeto e lisura entre os primeiros colocados: apesar da briga feia, não há uma manobra suspeita sequer. 
Não dá nem para dizer "bons tempos", com aquele ar nostálgico, porque, mesmo naqueles tempos, isso aí era exceção. Deguste, portanto. 


Ah, o vencedor foi o Peter Gethin e o carro dele era branco.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

LAMBANÇA GERAL

A equipe Dale Coyne conseguiu uma bela proeza nas 500 milhas de Indianápolis. Os três carros acabaram envolvidos num acidente que vitimou mais seriamente um dos mecânicos ocasionando fraturas nas pernas.
Liberaram um dos carros de maneira perigosa.
Muitas vezes temos a impressão que algumas equipes são, digamos, amadoras nesta categoria.

Nem fodendo

Era exatamente esta a frase - claro que no inglês "not even fucking" - a ser usado por Lewis Hamilton pelo rádio ao ser cogitada a sua segunda parada para troca de pneus no GP de Mônaco, no último domingo. 
Mil teorias já foram desenvolvidas para explicar a sandice daquele pit-stop. A única coisa que me ocorreu, na hora da corrida, que justificaria a parada seria um pneu furado, o que não foi o caso. Uma explicação seria que Lewis teria visto a equipe pronta para uma parada em um telão e imaginou que o Rosberguinho iria trocar a borracha. Pediu, então, para parar também. Daí, a equipe julgou que ele queria parar de todo jeito, virou uma grande confusão e ele perdeu a corrida. 
Parece que a Mercedes pagou pela soberba, a mesma que, de certa forma, a fez perder a corrida na Malásia: "temos vantagem, podemos parar uma vez a mais que a concorrência e, ainda, ganhar com sobras". Era só fazer o arroz com feijão para garantir a dobradinha.  
Não sou exatamente fã de Hamilton, mas não gostei do resultado. Ele está guiando demais, vem arrasando seu companheiro de equipe e não deu chances para ninguém em Mônaco.  A derrota foi artificial e o equilíbrio no campeonato também. Sem este tipo de incidente, Hamilton vai ser campeão com muita antecipação - e merece isso. 
Mas, o que é realmente triste nesta situação é ver que o principal piloto da F-1 no momento não consegue tomar uma decisão óbvia sozinho. Um pit-stop não deveria sequer ser cogitado, ainda que o Rosberg trocasse os seus pneus. Naquele momento da corrida, andando na frente, borracha nova não faria a menor diferença e disso Lewis é quem teria de saber.

Verstappinho

O acidente de Verstappinho foi normal, coisa que acontece quando um piloto está tentando ultrapassar outro que procura se defender. Grosjean estava tão mais lendo que pode ser mesmo que tenha freado antes do ponto normal, ainda que não por sacanagem. Talvez fosse aquele o ponto permitido pelo seu equipamento naquela altura da corrida e Verstappen Júnior não percebeu em tempo.
Fato é que este tipo de equívoco não foi provocado pela pouca experiência, apenas. Outros pilotos, consagrados, muito consagrados, inclusive, fizeram bobagens como aquela. Veja só: 



Senna já era tricampeão quando cagou pra cima do Mansell. Barrichello nunca foi campeão, mas era já muito experiente quando tentou passar por cima do Ralfinho Schumachinho, irmão do homê, no Brasil, em 2001 (narração em italiano é brinde):



O brasileiro tomou o troco no ano seguinte, na largada do GP da Austrália:



Em 2010, Mark Webber e Heikki Kovalainen protagonizaram um terrível acidente muito parecido com o de Grosjean e Verstappinho. A Caterham de Kovaleinen era tão mais lenta que a Red Bull de Webber que este último cometeu um erro de julgamento e foi aos ares catapultado pelo carro do finlandês:



Agora, um que subia em cima dos outros simplesmente por ser um débil mental era o pai de Verstappinho, o desmiolado Jos Verstappen. Nesta primeira ocasião, ele tenta passar por Irvine e o retardatário Bernard na descida do lago, no GP do Brasil de 1994, fica sem espaço e acaba acertando Brundle, que sabe-se-lá como não morreu:


Este outro é clássico. Também na descida do lago, no GP do Brasil de 2001, Verstappen, então retardatário, deixa Montoya, o líder da corrida, ultrapassar e, depois, o atropela, privando o colombiano daquela que seria sua primeira vitória na F-1, depois de realizar uma ultrapassagem épica sobre Schumacher:


Todos estes pilotos que bateram atrás e são culpados presumidos alegaram suas razões para a lambança e muitas delas são ponderáveis. Assim, não acho que seja possível demonizar o Verstappinho e sua inexperiência. Sim, acho que ele é muito novo para a categoria - afinal, o cara tem 17 anos e já está a dois passos do ápice de sua profissão -, mas não dá para questionar suas habilidades por causa deste acidente. Deixa o menino brincar. 

terça-feira, 26 de maio de 2015

Não deu tanta merda

Ao contrário do que havia previsto, as 500 Milhas de Indianápolis não deram tanta merda quanto o esperado. Pelo menos, nenhum carro decolou, o único bólido incendiado estava no estacionamento e, ao final, o atual ex e futuro ex ex Gordito Montoya levou um monte de dinheiro para a conta.
Quem se ferrou foi o mecânico da Dale Coyne que levou um pneuzada nas costas e, no mínimo, quebrou a perna direita. Para ele, deu merda, sim. 

segunda-feira, 25 de maio de 2015

PITACOS

Muita gente imolou Ven No Tápen Zinho pela batida que mudou o rumo do GP de Mônaco.
Que é muito jovem, que dirige perigosamente e etc. O que ninguém falou é que Romã da Granja fez uma filho da putice muito grande ao frear mais cedo numa pista estreita.
Max Verstappen acabou injustamente punido.
Quem gosta de F-1 gosta de pilotos como ele. Pilota com arrojo e, por que não, com o destempero característico dos jovens. E ainda vai ter muita história bonita na categoria.
Outro que sacrificou o holandês (sua mãe diz que é belga) foi massinha de modelar. Penso que o brasileiro deveria ficar quieto. Não viu o acidente de perto. Só pela TV, se é que viu porque não comentou a atitude de Granja. Reclamou do raspão que levou do incrível Hulk o que ocasionou um pneu furado e o fim de uma prova que já estava perdida. Vejam a performance de Botinas seu companheiro de equipe. Mas, pediu punição para o piloto da Força Aí Índia. Puro chororô uma vez que o raspão foi coisa de corrida.
Outro que foi punido esquisitamente foi El Mimadon. Deu uma pimba justamente em incrível Hulk disputando a freada do fim da descida do cassino. Na minha opinião um chega para lá normal.
Pior foi Ricardão Sem Sorrisão (neste ano) que deu roda com roda em Vodkanem para ultrapassá-lo. Foi um chega para lá que merecia punição. Mas, a F-1 está mais para futebol ultimamente.

MIMADINHO

Já havia acontecido, e o blog comentou, em Barcelona.
Luis Hamiltão não sabe perder. Fez caras e bocas na Espanha e em Mônaco não foi diferente. Tá certo que a corrida teve um resultado tremendamente esquisito e amargo para ele.
Mas, ficar no cantinho cheio de mimimi foi um desrespeito a todos que acompanham a F - 1.
Tem todo o software para substituir El Mimadon.


EX-GORDITO!

O blog está feliz porque um dos pilotos mais injustiçados em passagem pela F - 1 mostrou do que é capaz neste fim de semana nas 500 milhas de Indianápolis.
Juan Pablo Montoya (ex-gordito porque perdeu 11 kg) ganhou depois de levar uma bundada nas primeiras voltas de Simona de Silvestro. Na verdade foi em bandeira amarela devido ao acidente provocado pelo joãoponeis Sato na primeira curva, vamos assim dizer da corrida. Tenha dó.
Montoya caiu para as últimas posições e mesmo assim venceu. Notem que ele vem ziguezagueando pela pista para evitar que os de trás peguem o vácuo. 
No final do vídeo safado de sua entrada para trocar a asa traseira o tombo do mecânico da Simona. 


Aqui o final da prova.
Quinze anos depois de sua vitória nas 500 o colombiano bebe o leite da vitória. Estranho castigo. Lembro que Emersão, em uma de suas conquistas, não queria beber o líquido vacal. Dizem que é tradição ou algo assim.

ASPAS

Depois de ontem à noite tenho que abrir aspas no blog para comentários não ligados ao automobilismo.
Um tempo atrás um avião da TAM foi obrigado a fazer um pouso forçado em Birigui por falta de combustível. Uma situação de emergência com resultados imprevisíveis. Das vinte e nove pessoas a bordo quatro sofreram ferimentos leves e uma vaca morreu atropelada. A imprensa foi lacônica com as notícias sobre o acidente. Ninguém reparou que um avião daquele tamanho descer num pasto praticamente sem turbinas deixando apenas uma vaca como vítima é uma façanha digna de nota.


notem que desceu entre morretes
Neste fim de semana um táxi aéreo transportando os apresentadores globais Luciano (nariz) Huck e Angélica (que sempre vai de táxi) fez um pouso forçado em uma fazenda perto de Campo Grande, MS.
Ontem à noite acabei assistindo reportagem sobre o episódio no Fantástico. O avião teve falha nas duas bombas de combustíveis de um dos motores. O piloto declarou emergência e procurou um lugar para pouso forçado. A manobra foi elogiada pelos bombeiros envolvidos no resgate. Muita perícia do piloto. 
Claro, até eu sei, que não se desce o trem de pouso numa situação desta para não haver risco de capotagem ou, caso quebre o trem, uma peça rasgue a carenagem do avião.
Mas, e aqui é onde reside meu inconformismo, tem sempre um jornalista ignorante na jogada.
Quando o piloto chegava ao hospital, num carro particular e carregando ele mesmo o soro (o que já é surreal), foi abordado por uma repórter sem educação que perguntou na lata o motivo dele não ter baixado o trem de pouso. 
Santa ignorância. Ela não teve a mínima iniciativa em perguntar para alguém os procedimentos usuais em uma situação como esta. E, dispara a pergunta mais irrelevante possível.
Esta falta de preparo de um jornalista global dói na alma. 
Não dá para perdoar mesmo levando em conta que não é uma situação corriqueira na vida de um repórter. Mas, uma rápida leitura do gugle sobre emergências aéreas ajuda um pouco

trem de pouso? Só se fosse para capinar

domingo, 24 de maio de 2015

SACANAGEM

Temos assistido a 'centos GPs pela vida afora. Tem de tudo.
Pilotos fazendo besteiras, sacanagens e coisas inexplicáveis por conta dos meandros da F-1.
Igualmente as equipes tem razões que só a zona cinzenta do esporte pode explicar. Ou não.
Pode ser patetada mesmo.
Dona Mercedes tem uma relação de amor e ódio com seus dois pupilos. Ora parece pender para o lado de Luis Hamiltão e ora para Roseberg. Hoje, pareceu ajudar Roseberg a entrar para a história ao dar a ele a vitória no GP de Mônaco. Foi a terceira seguida. Só gente grande fez essa façanha. Graham Hill, Alain Prost e (claro) Ayrton Senna.
Quando Ven No Tápen Zinho (vulgo Max Verstappen) encheu a traseira de Romã da Granja (falamos disso lá embaixo) vários pilotos entraram para trocar pneus. Entre eles o improvável Hamiltão. 
Dona Mercedes disse que fez confusão com o aviso de carro madrinha virtual (que porra é essa?) e chamou o inglês na certeza de que não iria perder a posição. Ele vinha em primeiro com os dois pés atrás tamanha a folga. Roseberg vinha em segundo tendo que se preocupar com o sempre presente Vetor nos seus calcanhares. Não havia motivo algum para a troca. Tanto que, dos primeiros, só Luis trocou. Estávamos na volta 64 e a corrida teve 78. 
Cheirou mal a defecada de Dona Mercedes. Hamiltão perdeu também a segunda posição e ainda tentou um mimimi para cima da organização dizendo que saiu dos boxes na frente de Vetor. A TV mostrou o contrário.
Enfim, o campeonato animou mas, com um gosto meio estranho. Águas vão rolar por debaixo da ponte.

Quanto ao acidente que mudou tudo.
Podemos notar que Granja freou, ou tirou o pé, bem antes do ponto correto e o piloto de fraldas (e arrojado) Ven No Tápen Zinho mostrou que ainda está cru para estas sacanagens. Não conseguiu frear pimbou legal a traseira da Lotus, essa, não aquela, de Romã e parou na cerca. Foi muita sorte nada de grave ter ocorrido. Queria saber como Romã vai dormir esta noite. 
De qualquer modo culparam o imberbe dos Toros Vremeios Jr. Perde cinco posições na largada no Canadá.

sábado, 23 de maio de 2015

HISTÓRIA

Aprendi a gostar de história por causa do professor Firmino lá dos anos sessenta no Ginásio Estadual de Santa Inês, o famoso Gessi, que foi instalado num antigo quartel da PM incrustado na chamada vila militar perto da escola de bombeiros e o barro branco.
Juntemos ao caldo da ditadura militar e teremos um bolo salgado.
Enfim, professor Firmino era um apaixonado pela história, no caso antiga.
Até mesmo na cantina da escola falava sobre Roma, ascensão e queda. Eu, mais interessado nas saias curtas de minhas colegas acabei influenciado por ele. Comecei a ler sobre história antiga e gostava de uma coleção sobre mitologia. Nada a ver com história propriamente dita mas, está valendo.
Já conhecia o aeroporto Tempelhof e sua trágica e bela história. Outro dia vimos na TV um programa onde ele era citado como o parque que se tornou após a desativação oficial em 2008.
Sua construção foi ordenada pelo regime nazista e, em 1939, quando seu terminal foi inaugurado era o maior do mundo.
A bela história veio quando Josef Stalin ordenou o bloqueio de Berlim ocidental em 1948 por desavenças com os chamados aliados que derrotaram a Alemanha na segunda Guerra Mundial.

vista aérea de Tempelhof 
Berlim Ocidental, no mapa, estava cravada dentro da Alemanha Oriental. Sem a possibilidade de abastecimento da cidade por via terrestre os aliados organizaram uma ponte aérea monstruosa utilizando o aeroporto de Templhof como base. Essa situação perdurou quinze meses quando os soviéticos permitiram a volta do abastecimento da cidade por terra.
Neste sábado 23 de maio o parque foi palco da corrida de F-E. Certamente a corrida mais importante do campeonato. Não pela primeira desclassificação de um competidor ou pela inédita largura da pista. Mas, pelo encontro de um passado importante com o futuro, sempre anunciado, dos carros que serão movidos a eletricidade. Creio, no caso que a pista tem mais importância que o futuro anunciado.

ENQUANTO ISSO...

Na F-1 lá onde Judas perdeu zilhões no cassino, nada mudou.
Luis Hamilton foi pole, Roseberg em segundo e Vetor em terceiro.
Se nada acontecer na largada o tédio vai imperar.
Para anotar a única baixa do dia que foi a McLaren de Mimadon. Entrou em ação aquele dispositivo que deixa o carro em ponto morto em caso de rodada na pista. Só que ele vinha na reta. O butão vremeio estava no carro errado, se me entendem.
Mimadon e Butão, por sinal, reclamaram do tráfego, que ninguém organizou o trânsito, que havia até caminhão de lixo atrapalhando e etc.
Mas, tráfego havia para todo mundo. Sobrou até para o pole Hamiltão, que fez um sinal de enfado e partiu para o abraço.
Vamos chamar a atenção para Pastor sem ovelhas que larga em nono. Animadão com é pode cometer uma maldonadice qualquer. Como largar bem e limpo.

GANHOU E NÃO LEVOU

Histórias de desclassificação não são incomuns no automobilismo.
Por razões que beiram a detalhes ou releitura do regulamento.
Hoje, toureando Henrique, assisti a corrida da F-E num lugar histórico e lindíssimo, o desativado aeroporto de Tempelhof na antiga Berlim Oriental.
Lucas Di Grassi (vulgo Louco de Graça) venceu de maneira acachapante. Passou Truli quando o italiano, pole position, espalhou numa das primeiras curvas (vejam no vídeo) e nem mandou tchauzinho para a platéia. Os adversários só viram seu carro depois da chegada devido a uma pane elétrica em seu elétrico carro. Ironia.
Mas, acabou sendo desclassificado por um motivo, digamos, visivel: modificação inapropriada na asa dianteira.
De Graça ficou puto. Até agora não temos notas oficiais ou algo assim de sua equipe. Mas, sobrou para Piquetezinho e Buemi que passaram à frente na classificação geral. Disse, através de uma rede social, que vai chutar a bunda deles. Pelo menos vai ser na pista. Creio que não precisava.
Vejam no vídeo que Truli perde o carro enquanto Daniel Abt (vulgo Dane-se Aff) roda sozinho provocando um roça-roça legal com as câmeras on-board que ficam rente ao solo.
Truli foi pole mas, acabou em último lugar. Deve ter tido não um mas, vários problemas.
O legal dessa corrida foi o a largura da pista que o que permitiu ultrapassagens sem aquele lance de "dá licença". Quem estava mais rápido passou sem grandes dificuldades.
E, grande corrida do Piquetezinho, desafeto do De Graça, que saiu em 13º e chegou em quarto, com a desclassificação do Louco.
Já a equipe de Senna, esse não aquele, não foi. Um fim de semana para esquecer para os dois pilotos, Senna e Chandhoc. Não por acaso a equipe atende pelo nome de Mahindra, vulgo Melindrada baby,

quinta-feira, 21 de maio de 2015

OUTRO MUNDO

Chegamos um pouco antes da hora marcada. A estranheza começa com a recepção vazia.
Demora do ator principal já esperada mas, da recepcionista?
Finalmente ela chega e começa a história do preenchimento de fichas. Começo a pensar num aplicativo onde preencheríamos todos esses dados básicos. Esse pessoal burocrático acessa o link e pronto. Nada de nome de rua, bairro, time de futebol, e chatices do gênero. Já deve existir, penso.
Uma hora depois chega o ator principal. Animado, dando bom dia e saindo em direção ao corredor tenebroso.
Vamos lá, aparece alguém com sacolinhas plásticas na mão. Tranquilo me despeço e vou sendo gentilmente empurrado pelo corredor tenebroso. Coloco aquela merda de camisola que, se descuidar, fica com a bunda de fora. 
Vamos para a sala tenebrosa. Gelada, como eu gosto, equipada com aparelhos de última geração (uma surpresa). Porém, a engenhoca que vai me destrinchar parece da década de cinquenta.
Duas pessoas me preparam enfiando agulhas, receptores elétricos, depilando parte do corpo e tudo o mais. Conversam amenidades entre si e algumas coisas comigo. Uma diz que vou poder assistir na TV.
Nem a pau. Um monitor gigante posicionado próximo aos meus pés. Tá bom. 
Pergunto. Não vou apagar?
Não, responde a indignada pessoa. Tem que ajudar no exame. Penso em responder que então vou querer desconto. Melhor não. São profissionais. 
Entra o personagem principal. Está com uma roupa escura por cima do jaleco branco. Parece um cavaleiro medieval sem parte da armadura. Seguro meu riso. O cara é profissional. Está literalmente com a mão na agulha. Melhor não.
Vamos começar. Sim. Estou tranquilo. Sim. O efeito da anestesia se faz presente. Sim. Não sinto nada. Já começou? Sim.
Há um aparelho redondo do tamanho de uma panela de pressão acima de minha cabeça. Ele atrapalha a visão do teto. Tento fixar o olhar num ponto escuro. Não pensar em coisas que podem dar errado ajuda.
Pensamentos pessimistas adoram surgir nesta hora. Lá vou eu pensar em como somos frágeis. Que lugares assim não são legais para estar deitado. Que aviões caem. Que não damos valor à vida regrada. Levo meu pensamento para figuras bucólicas. Tento visualizar uma cachoeira. Daquelas que servem de wallpaper em meu computador. 
Encha os pulmões e não solte. Tá bom. De novo. Agora erga um pouco seu corpo para a direita. Porra, todo ligado desse jeito? E se um fio desse escapa? Nada aconteceu. Ótimo, isso mesmo.
A maca onde estou começa a se mover. Para um lado para outro, sobe e desce. O aparelho redondo também se move. Incrivelmente, por sinal. Perto de minha orelha, desce até o umbigo. Perscruta meu coração, alvo do ator principal. Vai sentir um calor. Só resta um ajudante na sala. Ao comando injetam o tal contraste. Sinto calor. Normal. Meu corpo esquenta. Puta merda. Será que vou cozinhar por dentro. Passou? Passou.
Mais uma vez. Lá vamos nós. Você é uma pessoa tranquila. Como assim? Está relaxado. O exame vai bem melhor assim. Ah, ah. Penso. Esse cara não me conhece.
Esse é um aparelho de Raios-X? Sim. Por isso a roupa de cavaleiro medieval. Foda-se o paciente. Estou a salvo.
Acabou. Estava controlando o horário num relógio gigante na parede da sala no meu lado esquerdo.
No horário em que um dos ajudantes disse que acabaria. Bom.
Colocam um curativo apertando meu pulso. Para não esguichar sangue. Ah. Tá legal.
Minha parceira de toda vida, branca feito papel, aparece no quarto e pergunta como foi.
Como dizer?

quarta-feira, 20 de maio de 2015

TIRANDO A FERRUGEM

Não há muito o que se "falar" quando a F-1 faz essas paradas longas entre uma corrida e outra.
Longa é modo de dizer, claro. Tivemos corrida outro domingo.
O problema é encontrar assunto que nos leve a escrever algo.
Uma das coisas é a renovação de contrato de Luis Hamiltão com dona Mercedes por mais três anos.
Pelo que li o cara vai ganhar por volta de 14 milhões de reais por mês.
Não é por ano. Por mês.
Vale?
Dona Mercedes acha que sim.
Se eu fosse dono da equipe não pagaria por um motivo simples. O carro hoje em dia é mais importante que o piloto. Tanto que vivem mandando colocar o butão nessa ou aquela posição porque caso contrário fica sem freio, acaba combustível antes da bandeirada, a pizza queima e por aí vai.
Hamiltão é um cara que vive se lamuriando nas corridas. Nas conversas com a equipe a gente houve reclamações até quando está centenas de km à frente.  O carro nunca está bom. Outra anotação é não obedecer as ordens quando, nas entrelinhas, mandam que sossegue o facho. Na última corrida continuou apertando o da direita para atazanar Rosberg apesar da equipe dar aquelas ordens ridículas.
Ganha corridas? Sim, até eu ganharia por muito menos, eh eh. Mas, é um rebelde em causa própria.
Portanto, sem renovar com dona Mercedes para onde iria Hamiltão?
Para a Ferrari. Sonho de todo piloto. É o caminho lógico na F-1 de hoje.
Mamã Ferrari iria dispensar Vodkanem e gerenciar os egos do piloto inglês e Vetor. Dona Mercedes ganharia com isso. Roseberg dá conta do recado com um carro muito superior dando a impressão de que boceja de tédio tamanha a vantagem que tem sobre os outros (carros).
Sei lá. Conjecturas.
Ainda estou assombrado com o salário do menino. Carai, como ganho pouco....
Temos também alguns pitacos sobre o cenário de momentos antes do GP de Mônaco.
Romã da Granja vai perder cinco posições por trocar a caixa de câmbio de seu carro.
Acabou a corrida para ele. Em Mônaco não tem lugar para ultrapassagens. Um campo para colheita de maldonadices. Já temos um candidato.
Esse regulamento é muito ridículo. Culpa o pobre piloto por carros escangalhados (essa é boa, escangalhado).
Ah!
Quase esqueci do Mimadon. Disse que não queria ficar na mamã Ferrari e chegar em terceiro toda corrida. Prefere dar vexame na dona McLaren.
Ó dor de cotovelo.
Tem zilhões de novidades/especulações para a temporada de 2017.
Volta do reabastecimento (uma bosta), guerra de pneus (grandes coisas), aumento do barulho dos motores (cuma?), escolha livre de pneus por parte das equipes (como será isso?), aparência dos carros mais agressiva (ah ah. Vão desenhar aquelas carrancas nos bicos) e redução do peso (deve ser dos pilotos) entre outras. Confesso que não prestei muita atenção nestas "decisões".
Voltaremos em breve.

terça-feira, 19 de maio de 2015

Vai dar merda

Como bem colocou o pai do blog, as coisas estão muito estranhas com estes kits aerodinâmicos da Indy. Na primeira corrida, chegaram a colocar na transmissão para a TV um gráfico contabilizando peças perdidas ao longo da competição, como aqueles no futebol que contam quantas faltas, cartões, escanteios impedimentos, etc. Agora, descobriram que o tal kit serve não para prender o carro no chão, mas para fazê-lo decolar. 
Segundo o site oficial do blogueiro, baixinho e mala oficial Flávio Gomes, parece que o Hinchcliffe teve a perna direita atravessada pela barra de suspensão que se soltou de seu carro antes do impacto com o muro e chegou à região pélvica do corpo do piloto. Será que volta a correr? Ninguém havia se machucado até aqui, mas, dada a gravidade dos quatro acidentes, isso é muita sorte, mesmo no caso de Hinchcliffe. 
Esta pancadaria toda está acontecendo durante os treinos, com os carros girando quase isolados pelo monstruoso oval. Imagine na corrida, com 33 bólidos dividindo o traçado, se algum deles decola. Quero nem ver. 

DINÂMICA AÉREA

Chegando as 500 milhas de Indianópolis. Todos comentam os carros voadores. Mudaram a tal da aerodinâmica dos bólidos e por qualquer mosquitinho no para-brisa levantam voo.
James Hinchclift não saiu voando (ficou no quase conferindo o vídeo) mas, acabou com um problema na perna. Sofreu uma intervenção "siderúrgica" e certamente não vai correr.
Em alguns lugares dizem que houve falha de suspensão do carro dele. No caso de Helio Castroneves (vulgo Helio Castrou o Neves) o carro balançou antes.
Em todo caso mais especificamente para os carros Honda o blog aqui já antevia o resultado.


 
Aqui o acidente de Castroneves. Ainda bem que ele é cabeça dura.




Fuçando na infernal inter descobri uma comparação interessante de dois acidentes com o Ed Carpenter. Em 2012 e 2015 no mesmo lugar.
O cara gosta de estampar muros. No primeiro caso o carro, apesar do pulo, não sai do chão. No segundo.....

quarta-feira, 13 de maio de 2015

O famigerado botão vremeio

Não sei se foi a Ferrari que inventou, mas foi o time rosso que vulgarizou a utilização do famigerado botão vremeio na história recente da F-1. A "mídia especializada" jura de pé junto que isso não existe e que os teóricos da conspiração estão viajando na maionese ou no óleo lubrificante.
O botão vremeio é uma ferramenta cujo uso implica o fodemento daquele piloto menos estimado pela scuderia em questão. Os modos de operação são diversos. Por exemplo, pode vir por meio de mensagens cifradas que significam, de modo mais ou menos claro, "saia da frente", como na Áustria em 2002:


Na Alemanha, 2010:



E as claríssimas ordens de Eddie Jordan a Ralf Schumacher em Spa, em 1998:



Outro mecanismo de botão-vremerlizar, bastante difundido nos tempos de reabastecimento, era o da pane seca, real ou simulada. Um dos exemplos mais bem acabados que a história nos oferece aconteceu no GP do Brasil de 2003. Era a grande chance de Barrichello vencer em casa e assumir a liderança do campeonato com uma vitória de vantagem sobre Schumacher.
Depois de um início de corrida difícil com o pneus intermediários que não geravam temperatura, o brasileiro fez uma ótima e madura recuperação, assumindo a liderança sobre Coulthard e virando, em seguida, dois segundos por volta mais rápido que o escocês. Mas, aí, foram só duas voltas... é de cortar o coração:



A temporada de 1999 foi uma das mais estranhas que assisti. Depois do acidente de Schumacher, parece que ficou um jogo de empurra entre Ferrari e McLaren para ver quem não ficaria com o título. Na corrida mesma em que Miguel se acidentou, a McLaren implementou o sistema econômico de pit stop, em que o piloto entra para a troca com quatro e sai com três roda: 





A Ferrari, no entanto, aperfeiçoou o sistema no GP da Europa, em Nurburgring, incorporando-o aos efeitos do pressionamento do botão vremeio, deixando Eddie Irvine uma vida inteira nos boxes esperando pela roda traseira direita para seu carro. Na verdade, Dona Gertrudes apurou que a equipe não esperava o irlandês nos boxes, mas o triciclo que apara a grama em Maranello:



Enfim, meu ponto é que a sabotagem faz parte da história da F-1 desde sempre até hoje. Por razões nem sempre claras para o público em geral - ou mesmo para a mídia dita especializada -, as equipes tem seus eleitos e trabalha em função deles. Todo time, quando chega aos autódromos, toma como segunda providência a instalação dos botões vremeios e seus sistema integrados em cada carro. E "se me negares o brilho do sol, eu não direito que tendes uma opinião, direito que sois cegos". 

segunda-feira, 11 de maio de 2015

COISA FEIA

O lado interiorano do blog achou muito feia a atitude de mau perdedor do Luis Hamiltão.
Naquela salinha, após a corrida, em que os três primeiros da corrida tomam sua água e tentam não conversar muito porque tem microfone aberto, ele deu um jeito e entrou no que eu penso ser o banheiro.
Deixou Roseberg e Vetor a conversar fiado entre si.
No pódio apareceu com óculos escuros e atitude blasé.
Demonstrou ter sentido o baque em ser dominado pelo companheiro no final de semana. A perda em relação ao campeonato não foi tão crucial. Mas, cai em nosso conceito e entra no rol dos substitutos, na arrogância, de El Mimadon.

substituto de Mimadon

LAMBÃO EM BARCELONA

Até agora não apareceu ninguém para creditar ao nosso ganhador do leitão o entupimento da refrigeração do freio por alguma sobreviseira.
Portanto, o leitão feito às pressas por Dona Gertrudes vai para ... para.... o mecânico de Dona Lotus, essa, não aquela.
Sim, vocês vão dizer que o pobre levou um pontapé no saco e não fez nenhuma lambança, tipo espalhar ovos quebrados na pista.
Mas, a lambadice está no fato dele ficar firme e forte vendo Romã da Granja chegar chegando.
Qualquer mortal com culhões (êpa!) iria largar tudo e correr para dentro do bar. Que se foda o pit stop.
Mas, nosso intrépido, destemido, frio, e por que não, calculista mecânico parou o carro no saco.
Ainda por cima é o motivo da foto do ano. 
Sim, nada de pilotos afrescalhados como protagonistas da foto que vai emoldurar a lareira do anão mor Berne Aquistone. A foto vai ser esta: 
"que alívio..."
Aqui, Romã contribui para acordar o povão sonolento e o passarinho do funcionário do ano.

SOBREVISEIRA PODEROSA

Algumas coisas são difíceis de engolir. Minha mãe, Dona Alzira, costumava dar para os filhos óleo de rícino. Um gosto horrível. Nem lembro o porquê. Eu corria e enchia a boca com açúcar logo depois ser obrigado a engolir aquilo.
Vejam no vídeo que El Mimadon veio que veio e deu o maior susto na galera do bar de dona McLaren. Além de jogar um macaco de mão longe.
Alguém de lá correu para explicar que uma sobreviseira entrou em algum orifício do carro do mimadinho ferrando o freio.
Tudo bem. Óleo de rícino nunca me fez mal. Só é duro de engolir.
Gozado foi ver no fim da cena o descabelado espanhol correndo para casa.
Lembrando que Jasão Butão pouco fez na corrida enquanto Mimadon andou aparecendo em sétimo.
Na última corrida Butão nem entrou na pista. Desta vez, um carro horrível. 
O tal do botão vremeio corre solto em dona McLaren.

PENA QUE VOA

O feliz momento (feliz para quem descobriu a pena voando) em que Pastor desce a reta todo faceiro e uma peça da asa traseira sai voando.
Deu no que deu.

MANTENDO A ESCRITA

Neste domingo tivemos o GP da Espanha lá onde Judas perdeu El Mimadon.
Para começar vamos, lógico ao sempre presente piloto em matéria de maldonadices.
Explicando que, desta vez, não teve muita culpa nos fatos que nos remeteram à velha F-1.
Tivemos um post (aqui) em que a dona Mercedes espancava uma asa que teimava em não funcionar direito.
Antigamente a F-1 tinha muito deste, digamos, empirismo. De vez em quando alguém lembra que as peças eram imaginadas, fabricadas, instaladas e testadas sem maior preparo. Deu certo? Tudo bem.
Não deu? De volta à oficina.
Era um tempo em que as peças não eram fabricadas com essas ligas feitas de ouro.
Hoje são caríssimas.
Aparentemente tão caras que a Lotus, essa, não aquela não tinha outra asa traseira para o carro do Pastor sem ovelhas.
Daí, os meninos do bar arrancaram algumas penas e soltaram o bicho de volta para a pista. Não sei se a falta da pena atrapalhou a performance porque logo depois ele abandonou a corrida.
O fato é que, descendo a reta, algo soltou da asa e ela travou aberta. Pastor não conseguiu segurar o carro, saiu da pista e na volta ainda deu uma pimba no carro de seu companheiro Romã da Granja que ainda assim chegou em oitavo.
Lembrando que sua equipe anda pródiga em carros que soltam adereços pista afora.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

DE NOVO?

Acredito que a equipe Lotus, essa não aquela, fez algum tipo de promessa.
Nos treinos extraoficiais seus carros soltam peças pela pista. Normalmente é Pastor sem ovelhas o escolhido.
Dessa vez a maldonadice ficou por conta de Romã da Granja.
Tá faltando cola para a equipe.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

O ENGANO

                             O delegado Francisco, ninguém o chama de Chico porque ele detesta o Chico "comunista", estava sentado em frente ao homem. Sua mesa de trabalho era bem diferente daquela em que passava a maior parte do tempo na delegacia desta pacata cidade do interior. A de trabalho é limpa de qualquer objeto que chame ou desvie a atenção do inquerido. A mesa de contemplação, como diz, é atulhada de pequenos objetos recolhidos ao longo dos anos de polícia. Nada de retratos de família. "Polícia não tem família", diz.
                                  Ao seu lado direito a velha máquina de escrever e o entediado escrivão, e seus parcos cabelos brancos, com as mãos em posição de batucar as teclas. Aquilo o irritava já que o escrivão, Souza era como gosta de ser chamado, lembra outra máquina. Porém, nos interrogatórios emite uns grunhidos quando algo não se encaixa nos fatos relatados. Mais irritação.
                                   No lado esquerdo senta Marcão, o detetive faz-tudo. Senta é o modo de dizer. Marcão, que mede 1,70 m passa a impressão de que vai no pular no pescoço de alguém. Sempre com o corpo para a frente. O delegado Francisco o imagina como um atleta de cem metros rasos esperando o tiro de partida. Tiro, ironia. Marcão, é como já disse o faz tudo da delegacia. O cara que vai para o campo como um cão sabujo a farejar pistas. Certo que está mais para um vira lata a distribuir pancadas em todos os envolvidos. Alguns casos esperam suspeitos terem alta do hospital para a continuidade. Sempre que passa alguma ordem ao sabujo entremeava com "vá com calma. Me chama se estiver difícil". Mas, o vira lata que mora dentro dele,  muitas vezes é mais forte.
                                Delegado Francisco diz que preferiu esta cidade porque estava cansado da agitação da cidade grande e seus rumos incontroláveis. Na verdade, não dançou conforme a música, se me entendem, e foi verdadeiramente posto de lado na hierarquia da polícia.   
                                   Nesta tarde, todo o contingente da delegacia, às voltas com o primeiro caso de homicídio em mais de quinze anos. Pior. Os envolvidos não são da cidade. "Que porra esses merdas vieram fazer"? Pensava enquanto analisa o sujeito sentado, encolhido, acuado mesmo, na cadeira em frente.
                                 Marcão tinha uma lógica para aquela cena. Dizia que os do lado "de cá" são do bem. Os do lado "de lá" são do mal. Essa lógica simplista é mais uma fonte de irritação para o delegado Francisco. Nunca sabia se havia ironia ou se o detetive era curto das idéias. Lembra que, em certa ocasião, o vira lata deu uns sopapos em uma mulher que havia apanhado do marido. Ele, o marido, dizia que ela "dava bola" para o açougueiro. Era muita carne para pouco dinheiro. Ou seja, o açougueiro comia a mulher dele em troca de bife. Havia uma certa coerência. Enfim, perguntou ao detetive que porra havia feito. A mulher havia acabado de sair do hospital e voltou depois de descrever os fatos para seu subordinado. Marcão, que é um machão convicto, disse que ela ficou nervosa com a conversa e levou uns sopapos para se acalmar. "Aquela piranha", complementou.
                                  O, digamos, suspeito está acompanhado de um jovem advogado assustado com a expressão corporal de Marcão. Há uma mulher, esposa do, digamos, suspeito. Sentada ao fundo chora baixinho, com medo de atrapalhar. Os fatos haviam acontecido na tarde do dia anterior.Bom lembrar que aqui não impera o Código regente das leis. Nesta cidade quase no fim do mundo, apesar de distar alguns quilômetros da capital, o que vale é a vontade do delegado, do padre, do prefeito e do gerente do banco do Brasil. O delegado Francisco só esperou a chegada do advogado, que veio da capital, para dar continuidade ao caso. O vira lata já havia dado o veredito. O, digamos, suspeito matou o melhor amigo porque ele comia sua mulher. "Aquela gostosinha chorona", complementou.
                                  Delegado Francisco suspirou e desejou que o caso não fosse simples assim. Primeiro homicídio em tanto tempo o, digamos, suspeito confessando ter atirado e ainda por cima passional?
                                  Leu a papelada sobre a mesa. Há um silêncio sepulcral na sala,  entremeado com os suspiros de choro da mulher e a respiração ofegante de Marcão, incorporando o vira lata. Na verdade, a cena é proposital. Quanto mais acuado o inquerido mais vai falar.
                                 A história.
                                 Celso, o inquerido, veio para esta cidade com seu amigo Júlio e sua mulher Jussara. O objetivo era caçar patos selvagens comuns na região salpicada de pequenos lagos.
                                  Trabalham juntos em um supermercado na capital. Celso é gerente e Júlio o encarregado das compras. Bons salários e etc. Jussara é professora em uma escola para crianças. Tem curso superior e tudo o mais.
                                  Após intermináveis minutos o delegado Francisco ergue os olhos para Celso e pergunta com voz firme.
                                   "O que aconteceu"?
                                     Estava possuído por uma irritante certeza que Marcão, o sabujo, tinha razão. O barulho das teclas da máquina de escrever soava alto como um martelo na cabeça do interrogado. Por falar nisso, a letra "r" está com um problema e, muitas vezes fica presa. Souza diz que é proposital. Suspense é essencial num interrogatório. Na verdade disfarça sua preguiça em dar um jeito no teclado. Mais irritação.
                                  Celso, os olhos marejados fixando algum ponto no chão como a se agarrar na borda do precipício, começou a falar.
                                  "Pois é doutor. Soubemos que aqui tem muito pato selvagem e viemos caçar um pouco para distrair. As espingardas são legalizadas e a caça não é proibida. Chegamos de manhã bem cedo. Saímos eu e meu amigo e minha mulher ficou a espera no hotelzinho. Ela ficou de buscar a gente na porteira da fazenda onde fica o lago maior." Disse volvendo imperceptivelmente o corpo em direção à mulher que aumentou o volume do choro. Marcão olha para o delegado Francisco de soslaio, como a ter razão. Isso era irritante.
                                  Celso continuou. "De tarde com alguns patos presos na cintura vínhamos pelo caminho da porteira. Minha mulher esperava junto ao carro, como combinado. Júlio estava distraído olhando a relva e quando ergueu a cabeça disse",
                               "olha lá a vaca".
                                 "Porra doutor. Tá certo que minha relação com Jussara não é das melhores. Mas, é minha mulher! Sem pensar muito ergui a arma e disparei. Júlio caiu gemendo me olhando como a buscar explicação."
                                 O delegado Francisco suspirou. Marcão, o sabujo vira lata tinha razão. Souza grunhiu sem levantar a cabeça. Jussara aumentou o choro. Celso, com a voz ainda mais embargada disse num fio de voz.
                                 "Só aí que notei a vaca atrás do carro".

segunda-feira, 4 de maio de 2015

IRONIA

Ao fundo a Torre de Belém no rio Tejo, Lisboa, de onde partiam as caravelas a desbravar os mares.
Em primeiro plano, não uma caravela, mas um ser estranho.