quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Persistências

Dias desses, escrevemos sobre a persistência da memória. Eu tinha gostado bastante, mas o texto serviu mais para deixar meu pai espantado do que qualquer outra coisa. Entre uma cerveja e outra, conversamos sobre o contexto de cada uma das linhas. E foi interessante, deveríamos fazer mais!
Mas não é só a memória que persiste nesta vida. Vou contar uma historinha, mas, antes, vejam esta plantinha laranja, no auge de sua saúde, alegrando o ambiente:


Dia 21 de dezembro de 2011, este arremedo de ser humano, já com sintomas de que as coisas não caminhavam tão bem nos seus rins, fez a mala e saiu para ir passar o fim de ano com os pais.
Chegando ao andar térreo, a mala já começava a dar sinais de fadiga e as rodinhas se esgarçavam, uma para cada lado, tamanho o peso a ser carregado por elas. Depois de passar pela porta, dizer "boas festas e até breve, Luís" e começar a rezar para que a mala resistisse só até a rodoviária, uma coisa me ocorreu: havia esquecido de deixar os dois vasinhos que moram aqui em casa com a vizinha que tomaria conta deles. Parei na esquina enquanto esperava a boa vontade do semáforo, olhei em volta, olhei para trás e tive um dos pensamentos mais perversos da minha vida: talvez fosse melhor ir e não ter mais aquela planta quando voltar. De certa forma, eu sabotei a plantinha, que não tem nada a ver com a história.
Quando voltei para cá, chovia - tem sempre chovido. Guarda isso aqui, deixa aquilo ali e fui ver o estado das plantinhas. A violeta, coitada, estava meio surrada, mas ainda com flores! A laranjinha acima, bem, não teve tanta sorte. Quase toda essa folhagem verde que se vê abundante estava ressecada, com a cor marrom, todas as flores estavam secas e caídas, uma cena de dar dó.
Um arrependimento sombrio me acompanhava desde Ribeirão Preto por não ter cuidado adequadamente da sobrevivência das plantas na minha ausência. Acho que cheguei a comentar com alguém que não adiantava vociferar contra a existência das plantas e que, ao contrário, era preciso aprender a conviver em paz com elas.
Mas, de uma forma estranhamente simbólica, minha tentativa de não ter mais a laranjinha por perto fracassou. Ela já não é mais aquela planta vistosa de antes, mas ainda tem suas folhinhas verdemente alegres e uma haste que, em breve, carregará uma flor. No meio daquela secura e falta de cuidado, sobrou um monte de vida para ser vivida alegremente.


Agora, ela terá que ser muito bem cuidada de novo. Reparem como a qualidade da foto já é significativamente melhor que a da planta saudável, apesar da fiação atrás do vaso "que não acompanha o tema da fotografia". Grave falha na composição. Perdoável, contudo.

5 comentários:

  1. Fiquei triste pela laranjinha. Isso, sim, foi muito perverso!

    ResponderExcluir
  2. Não é perdoável, contudo nem semtudo nem comfio, não. Trata de insistir na refazeção dessa foto até ficar do nível da escola fotográfica do 51. Persistência!

    ResponderExcluir
  3. Viviane Alves de Morais12 de janeiro de 2012 às 10:12

    Pois é... e lá se foi a eficácia do crime de omissão de cuidado para com a plantinha. Não adianta: quando algo precisa ficar em sua vida, por mais que você tente arrancar, a coisa sempre fica lá. Seja real, seja memória (se bem que acho as memórias mais perigosas que a realidade). Ainda bem que, neste caso, trata-se de uma companhia laranja, alegre e agradável!

    ResponderExcluir
  4. To comecando a perceber uma propaganda subliminar do Resgate. Virou Latrina isso daqui? Diga a parte nordica se acompanha.

    [Conspiracoes a parte, como ja disse antes - e voce vai tornar a esquecer! - dessa o Poeta ia gostar ;]

    ResponderExcluir