O post do chefe do blog levou-me a lembranças de gritos noturnos.
Tá certo que,onde ele mora, já ouviu mais gritos do que eu a vida inteira. Eh, eh.
Senta que lá vem história.
Lembro de uma ocasião de visita ao apê da cunhada em sampa, lá no alto do Mandaqui.
Morávamos em Jaboticabal.
De madrugada fui acordado com gritos femininos.
"Sedutor, sedutor, sedutor", gritava.
Uáu!
Lembrando que sou o pai do Renato, logo imaginei uma situação onde o tal sedutor, em meio a galanteios infindos, seduziu (lógico!) uma donzela qualquer. Como nos tempos imemoriais do romantismo. A virgem em um pedestal com ar indiferente e os pretendentes à sua volta com promessas de amor eterno.
Não cumprida a promessa que todo sedutor faz, ela saiu em meio à noite berrando o adjetivo que, pensava eu, fosse um elogio. No caso, uma ofensa.
Os gritos não tinham a conotação de enaltecer. Pelo contrário. Expressavam, em verdade, "tarado, tarado, tarado".
Havia raiva em sua voz. O tal sedutor silente estava, silente ficou.
Condoído com a situação da donzela não mais dormi. Com a volta do silêncio noturno imaginei em reconciliação. Novas promessas ao pé do ouvido. Carinhos num crescendo e a vitória do amor que seduz e maltrata corações apaixonados. Ah, o romantismo.
No dia seguinte veio a tijolada da realidade. Minha cunhada contou duas coisas: primeiro, e lógico, que os gritos acordaram metade da população terrestre. A outra metade é surda. E, também lógico, toda a população, mesmo a metade surda, queria saber o que aconteceu para tantos berros desesperados.
Pois bem. Um sujeito mau caráter seduziu a filha "di menó" de uma mãe que, ao descobrir o fato, saiu pela noite em perseguição ao sujeito atirando o "sedutor" como pedras na intenção de ferir fisicamente com palavras.
Mundo nada romântico.
Concluí que a desesperada mãe não sabia do real significado da palavra "sedutor" em questão.
Certamente tinha a certeza da mais alta ofensa.
Pena que não tive a ideia em presenteá-la com um dicionário.
