terça-feira, 24 de dezembro de 2013

A primeira

Quando era menino, jogava futebol e, parece, era um bom goleiro. Sofria, então, do mesmo problema que sofro hoje: lembro-me que, em determinados dias, aconteciam defesas incríveis, eu pulava de um lado para o outro e não passava nada; em outra ocasiões, eu estava inseguro e um frango ou outro era esperado. Mas, em um bom dia, eu era um bom goleiro.
Para provar, tenho uma medalha guardada no fundo da primeira gaveta do guarda-roupa em Ribeirão Preto. Ela está dentro de uma embalagem azul que abrigou um relógio que ganhei naquela época.
Acho que o ano era 1996 e fui convocado pela esquadra da 4ª série A para pegar no gol no campeonato interclasse. Se não me falha a memória, éramos o segundo time da sala, o time "das sobras". Mas era um bom time. Claro que não teríamos chance contra a temida 4ª B: havia repetentes mais velhos, enormes e violentos. Como se isso não bastasse, jogavam no time infantil do Botafogo de Ribeirão, o que reduzia os confrontos com os demais times a mera formalidade até que chegassem ao título. 
De algum modo, nós chegamos à final do campeonato. Como não poderia deixar de ser, a partida seria  a contra a 4ª B. No entanto, para surpresa geral, os meninos que jogavam no Botafogo não apareceram na final, justamente porque tinham um jogo pelo pantera. Por essa razão, tínhamos uma chance de levar o caneco. Como goleiro, eu poderia estragar tudo - e quase o fiz, de fato. Primeiro chute a gol e não sei por quê diabos caí para o lado contrário da bola, jurando que ela havia desviado em alguma coisa.

"A bola desviou!" - bradei.
"Não começa, não, hein, goleiro!" - foi a bronca.

Tremendo como uma vara verde, fui me recompondo ao longo do jogo. Fiquei confiante de vez ao defender um penalti no final do primeiro tempo. Depois disso, a coisa entrou nos eixos. Havia uma série de cobranças diretas para o gol, como se fossem lances-livres do basquete. Aparentemente, era - ou é - alguma regra do futebol de quadra. Defendi todos! A certa altura, o cobrador oficial da 4ª B olhou bem para mim, após uma dessas defesas, e vociferou:

"Goleiro filho da puta".

Tive certeza, então, que estava indo bem.
Vencemos o jogo e o campeonato. Nunca vou esquecer aquela sensação muito gostosa e particular das competições esportivas. Tudo continuava igual, no dia seguinte teríamos aula, tínhamos de ir para casa fazer a lição, mas, naquele momento, estávamos felizes, batemos a 4ª B e nada tiraria aquilo de nós.
Aguardei meus pais chegarem do trabalho com a medalhinha no peito, todo orgulhoso. Para comemorar, fomos à lanchonete "Da Hora" que ficava do lado de casa. Meu pai tirou fotos minhas com o uniforme de goleiro e a medalha. Ainda hoje, remexo a gaveta para ver de novo aquela medalha.
Esta foi minha única conquista esportiva, embora eu sempre tenha praticado esportes. Como dito, o problema sempre foi a confiança e eu não me arrisquei mais em competições. No ano seguinte a este, fiz um teste para o time da escola e, como era um teste, com pessoas olhando, não consegui segurar nada e recebi a sentença:

"É, baixim... assim não vai dar".

Foi o fim da minha carreira de atleta. Parece que é verdade ser o menino o pai do homem, mas na exata medida em que o homem é o produto das potencialidades esquecidas do menino. Ou que o homem é o menino amedrontado.
Enfim, julguei que aquele torneio interclasse seria, para o resto da minha vida, o único sabor de vitória esportiva. Seria isso mesmo se, agora, depois de velho, não tivesse voltado ao mundo das competições. Meu sonho de menino era correr de kart e, hoje, posso fazer isso. Desde o início de 2012, eu e meu companheiro de equipe sueco passamos a correr uma vez por mês, pelo menos. Competimos em baterias abertas de outros kartistas amadores de forma honesta, sem violentar os demais e, com isso, fomos melhorando. Chegamos a fazer uma dobradinha, com o sueco na frente e eu em segundo, houve alguns pódiuns para um e para outro e a briga sempre foi muito acirrada. Até que chegou o dia 30 de agosto de 2013.
Tínhamos uma bateria agendada para 21h30 no Kartódromo da Granja Viana. Em razão de uma manifestação no Rodoanel, levamos duas horas e meia para chegar em Cotia e, claro, perdemos a bateria. Inscrevemo-nos em outra, às 23h30.
Sentei no kart ansioso como de costume. Olhei ao redor e me julguei mais lento que metade do grid. Lembrando-me de que estava ali apenas para brincar e me divertir, parti para qualificação. Acho que fiz o quarto melhor tempo, atrás do sueco que se classificou em terceiro. No entanto, dois pilotos mais experientes,  por qualquer razão que desconheço, optaram por sair do fundo pelotão, o que me fez largar na segunda colocação. Sueco na pole-position, eu ao seu lado na primeira fila. Quando alinhamos, estava um pouco aflito, lembrando de outras ocasiões em que fui derrotado por ele mesmo estando mais rápido na pista. Tinha, naquele dia, uma boa chance de vencer, mas, para isso, teria de superar meu grande amigo. Como fazer isso? 
Dada a largada, mesmo saindo pelo lado de fora e tendo de percorrer uma trajetória maior até à primeira curva, superei o pole-position e abri uma considerável vantagem na primeira volta. Contornar a primeira curva na frente é uma sensação bastante interessante, que te faz querer forçar tudo para ir mais e mais rápido. E assim fui, da primeira à última volta, procurando intensamente melhorar os tempos de volta.
Senti a liderança ameaçada ao longo de toda corrida. Havia muitos retardatários e, sempre que olhava para trás, havia algum kart próximo, de modo que não conseguia identificar se aquele era ou não o segundo colocado. Apenas quando recebi impressa a classificação final, notei que terminei a prova mais de vinte segundos à frente dos demais e que tinha sido dominante naquela noite. Os pilotos que saíram do fundo do grid chegaram em terceiro e quarto, virando tempos parecidos com os meus. 
Foi a primeira vitória no kartismo amador. Vale alguma coisa? Não, claro que não; significa que sou bom piloto? Muito menos! Mas tem um gostinho tão bom quanto um pint de Old Speckled e posso, com isso, beirando os trinta anos, voltar à meninice das brincadeiras e dos sonhos que se tornam verdade.  

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

MÁFIA EM AÇÃO

O vídeo circula pela internet.
Mamã mafiosa Ferrari sacaneia e testa, irregularmente, o novo motor turbo para 2014.
Instalaram o dito num carro esporte. Conhecendo as práticas da F1, vai ficar o dito pelo não dito.
E se fosse outro time?