sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

PENSAMENTO EM TURBILHÃO

Ao comentar o texto do chefe do blog cometi um erro que parece ser recorrente.
Não sei o que fiz, mas o comentário saiu duplicado.
Sempre peço auxílio para inserir vídeos ou fotos e não consigo “linkar” textos. O famoso leia “aqui”.
Enfim, sou daqueles que usam o computador como uma máquina de escrever. Ou quase.
Houve um tempo em que eu me internava em um canto lá no apartamento dos meus pais, já nos Bancários, e passava as madrugadas datilografando. Muitas vezes Dona Alzira passava arrastando correntes (sim o gene é dela) e comentava algo sobre o “tec tec” da máquina de escrever.
Nem sei onde estão os contos amalucados que escrevi com ajuda de algumas loiras geladas.
Sei que a máquina tinha um defeito e uma das letras saía em vermelho. Nem precisa de DNA para identificá-la.
Houve esse tempo nas lembranças do Renato em que acreditava no Ombudsman da Folha de São Paulo. Eu era um assinante entusiasta e pensei que realmente iria ajudar a melhorar a porra do jornal.
Se não me engano o primeiro foi Caio Túlio Costa. Sei que respondeu sobre alguns assuntos.
Mas, logo percebi que a grana, que ergue e destrói coisas belas, engoliu as boas intenções, se é que haviam, da figura do ombudsman.
Hoje, não assino mais o jornal e me tornei um véio Mero a proferir discursos pela casa contra estes fascistas da grande mídia.
Por conta disto quando leio na infernal internet alguma notícia ou comentário sobre qualquer coisa meus dedos coçam com vontade de enviar o que penso do assunto.
Andei de fato chutando algumas portas e mandando ver. Ainda bem que com pseudônimo. Lógico, mais elaborado que “anônimo”.
Fui xingado em várias ocasiões.
Resolvi então ler alguns comentários anteriores antes de enviar o meu.
Percebi que a maioria das pessoas não entende o que está escrito e muito menos o que elas próprias comentam.
Cômico mesmo.
A partir desta contestação não comento mais nada. Ou quase nada. Mas, me divirto com as baboseiras e facadas no vernáculo.
Encerrando: diante de tantas possibilidades de qualquer pessoa, instruída ou não, postar seus pensamentos, vídeos, neuroses, comentários sobre F1, como um profeta do após-Calypso vos digo que chegará o dia (ou noite) em que voltaremos a ter círculos fechados de escritores e leitores. Como nos antigos monastérios. Uns escreverão com a certeza da iluminação. Outros lerão com a certeza da verdade.
E, os grupos fechados não irão interagir, por vários motivos. E essa interação é necessária para discussões sobre os rumos deste planeta. Todos terão a verdade, portanto, ninguém a terá.
Amém.

Anonimato

Li outro dia, não sei onde, um dos profetas do apocalipse dizendo qualquer coisa sobre o futuro do livro em papel e assuntos afins. O sujeito fez uma observação que me chamou atenção: com os novos suportes materiais dos textos, o jeito de escrever muda, pois nada impede o autor de adicionar vídeos, trilhas sonoras e outros confeitos para acompanhar o encadeamento de letras. Seja como for, neste cenário pós-moderno o livro deixa de ter cheiro, fato que pode ser interessante para alérgicos, asmáticos e pessoas que não gostam de pó em geral.
Tem mais. Antes, você podia escrever em casa, em um caderninho qualquer, até sua mão doer e aquilo ficaria eternamente guardado em sua gaveta sem que ninguém deitasse os olhos sobre suas bobagens. Hoje, qualquer imbecil metido a escritor, seja ele novo ou velho, consegue escrever os textos no escuro de seu quarto e dá-los ao público por piores que sejam. Então, surgem espaços como este aqui, que de nada servem, a não ser distrair seus autores.
E tem mais ainda. A maneira de interagir entre quem escreve e quem lê também fica alterada. Quando era menino, lembro do meu pai datilografando por horas a fio uma carta para um sujeito qualquer. As razões eram as mais variadas, coisas como "ela escreveu que em Jaboticabal só tem ignorante", ou "o cara falou mal do Senna" e outros absurdos que são publicados por estes irresponsáveis.
Hoje em dia, sempre que alguma coisa vai ao ar, as reações chegam para quem escreveu quase instantaneamente. Há os comentários feitos diretamente ao texto, mas não só: é muito comum, por exemplo, receber e-mails dizendo "não entendi", "por que você escreveu aquilo?", ou "quase chorei" (impressionante como as pessoas tem chorado ultimamente).
Em um blog como este, cujos leitores - nas palavras de meu pai - cabem em uma van, a interação é bem interessante e intensa. Às vezes preferiria que apenas desconhecidos nos lessem porque quase sempre morro de vergonha. Além disso, é perigoso identificar todos os que nos acessam, pois você pode passar a escrever diretamente para aquela ou aquela pessoa e se perder no meio, como sói acontecer.
No entanto, a proximidade com os leitores permite escolher a direção a ser tomada nos textos conforme o gosto do freguês. Como se sabe, temos que manter altas as taxas de audiência, pois o F-1 Literária rende milhões semanalmente aos Onofris.
Tal proximidade, se nos faz sentir expostos às vezes, permite também que o leitor não se esconda tanto. Pela própria escolha de palavras, é possível identificar facilmente os autores mesmo dos comentários anônimos. Apenas uma pessoa escreveria "amém" como comentário a um texto. Mas esta facilidade de identificação me levou a uma situação embaraçosa dia desses:

"_ Foi você quem escreveu aquele comentário, não foi?
_ Não, não fui eu.
_ Como não? Claro que foi, só pode ter sido você. Não foi?
_ É engraçado porque, quando eu li, pensei que poderia ter sido eu mesmo. Mas, não, não fui eu".

Fui traído pela escolha de palavras de um anônimo e, pela primeira vez, o anonimato no comentário cumpriu sua função de não deixar pista sobre o autor do impropério. Talvez tenha sido a Edna.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Desconstrução em ato

A vida, às vezes, se faz muito pesada e é preciso encontrar saídas para isso ou explodimos.

"Por isso também vai ser bom ter meu amigo que usa relógio por perto, porque ele é bem desencanado, moleque e não vai me deixar ficar deprimido". (um amigo que também usa relógio, aos 5 de outubro de 2011).

Faz tempo que não uso relógio e não sou moleque desencanado.

"Eu gosto muito dos textos, acho que está certo porque só eu e você queremos saber de Fórmula-1, ninguém mais. Dane-se. Mas você escreve umas coisas que pelo amor de Deus. Eu leio e penso comigo mesmo 'vá para o bar'". (meu pai para mim, sábado passado).

"O trabalho do artista não é sucumbir ao desespero, mas achar o antídoto para o vazio da existência. Você tem uma voz clara e adorável. Não seja tão derrotista". (Kathy Bates interpretando uma importante senhorita)

Por outro lado, não é possível ignorar que

"Comigo me desavim,
Sou posto em todo perigo;
Não posso viver comigo
Nem posso fugir de mim.

Com dor, da gente fugia,
Antes que esta assim crescesse:
Agora já fugiria
De mim, se de mim pudesse.
Que meio espero ou que fim
Do vão trabalho que sigo,
Pois que trago a mim comigo
Tamanho inimigo de mim?"
(Francisco de Sá de Miranda, em algum momento entre os séculos XV e XVI)

E, na semana passada, um trabalho acabou comigo. Parecia que a incrível ansiedade que experimentava seria aliviada. Não foi o que aconteceu, pois

"Pasmo sempre quando acabo qualquer coisa. Pasmo e desolo-me. O meu instinto de perfeição deveria inibir-me de acabar; deveria inibir-me até de dar começo. Mas distraio-me e faço. O que consigo é um produto, em mim, não de uma aplicação de vontade, mas de uma cedência dela. Começo porque não tenho força para pensar; acabo porque não tenho alma para suspender. Este livro é a minha cobardia". (Fernando Pessoa, Livro do desassossego, trecho 152).

"Não, não é frescura. Ansiedade é algo que se sente no iminência da punição, e é onde você está agora. A situação toda é muito complexa e você não tem controle sobre nenhuma das soluções. O que se pode fazer para sentir melhor é (...)". (um psicólogo, hoje mais cedo).

No meio disso tudo, foi dito:

"Com você, é tudo mais leve, descomplicado", ainda que não seja um moleque desencanado.

Não é possível, entretanto, perder de vista que peças foram perdidas aqui e ali, coisas que encaixavam não encaixam mais e há falta de entendimento sobre quase tudo. Busco-me em fragmentos de textos, músicas e lembranças que parecem não compor um todo, são como pedaços de uma existência perdida. Ali, onde me encontro, a vida volta a ser leve, bem leve.
Por enquanto, que me perdoem meu pai e a Kathy Bates, mas sucumbo todos os dias, afinal,

Pós-vôlei

Deitei na cama, no dia 20 de outubro de 2011, possuído por uma absurda ansiedade. Deitei cedo, antes da meia noite, para tentar fazer um bom dia 21.
Aconteceu que, mesmo cansado, não foi possível dormir. Preocupava-me muito a chegada de uns documentos no dia seguinte. Pensava em todas as possibilidades: talvez eles não chegassem, talvez chegassem atrasados, quem sabe chegassem todos errados, faltando alguma coisa. Tudo foi minuciosamente previsto e não solucionado pela falta de sono.
Depois do processo de virar de um lado para o outro, olhar para a janela, para as luzes projetadas na parede, pôr e tirar os óculos para testar como o quarto ficava mais legal, e, afinal, perceber que não dormiria a não ser que tomasse um sedativo, lembrei que, naquela madrugada, a seleção feminina de vôlei decidiria um campeonato importante, cujo nome já não sei qual era. Na impossibilidade de me entregar a Morfeu, levantei para ver a partida.
Foram 5 sets e, pelo que lembro, o Brasil ficou a um passo da derrota, pois o jogo esteve 2 a 0 ou 2 a 1 em algum momento. A seleção, no entanto, empatou o certame e venceu no tie brake, conquistando o campeonato de forma muito emocionante. Irritava-me, contudo, o fato de a TV Bandeirantes cortar, o tempo todo, a imagem da quadra para mostrar a cara da jogadora Jaqueline, que tinha sofrido uma lesão no pescoço em uma das partidas anteriores e acompanhava a decisão de casa ou coisa que o valha.
Aquilo foi muito alegre, a conquista do título mesmo nas circunstâncias difíceis do jogo, as meninas comemorando e mandando beijos para a família, aquela choradeira toda. Após a cerimônia de premiação, o relógio já sinalizava que era bem tarde, quase 4 da manhã, e meu corpo sinalizava cansaço. Agora sim, seria impossível não dormir.
Voltei para cama mais alegre, menos preocupado com os documentos. É como naquelas viagens de carro com a família em que o pentelho pergunta se já está chegando e a mamãe paciente responde: "dorme que chega mais rápido". Bastava para mim dormir que os documentos estariam ali no dia seguinte e as preocupações teriam desaparecido. Descobri que o sono pós-vôlei era bem mais fácil.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Tênis

Uma das primeiras lembranças que tenho deste esporte é ver meu pai sentado no meio da copa assistindo a final do aberto de Mônaco de trocentos e dezesseis anos atrás. Eu assistia um pouco, ia para o quintal, fazia alguma coisa com a minha mãe, pentelhava minha irmã, voltava para a copa e ainda estava lá meu pai com o jogo. Na minha percepção de menino, a partida durou umas 15 horas. No final, avistava-se Jaime Oncins atirado no chão, em deleite por ter vencido. Enquanto isso, meu pai me explicava que aquele tinha sido um jogo antológico e quais eram as razões para que se aplicasse a ele este qualificativo.
A certa altura da vida, ganhei uma raquete. Um primo, por motivos nada agradáveis, já não precisava dela e deu para mim. Eu adorei aquilo! Raquete era um sonho distante e agora estava ali, bem ao alcance das mãos.
Eu estudava em uma escola que tinha quadras que podiam ser usadas à tarde. Só tinha uma questão: eu não conhecia ninguém que jogasse tênis e muito menos tinha dinheiro para pagar aulas. Mas, nesta mesma escola, minha irmã fazia aula de natação. Então, eu aproveitava a carona e ficava com a raquete jogando contra um troço chamado "paredão". Era metade de uma quadra só que, no lugar da rede, existia uma parede com as bordas abauladas para devolver a bola para o meio da quadra. Passava horas ali, acertando a parede, até errar completamente e ter que ir arrastar os joelhos junto das moitas procurando a bolinha. Bolinha de tênis é cara. Naquele tempo, era mais cara ainda.
Numa quinta-feira, lá estava eu heroicamente destroçando a parede quando um senhor parou do lado de fora da quadrinha e ficou me olhando por um tempo. Ele me disse: "você está fazendo tudo errado". Abriu o portãozinho, veio até mim e me mostrou o jeito certo de segurar a raquete, a postura para rebater e tudo o mais.
Depois da preleção, fui convidado para jogar um pouco na quadra de verdade, com dois lados divididos pela rede. Fiquei com medo de passar vergonha, mas era uma proposta irrecusável.
Ao pisar no saibro, meu primeiro pensamento foi o de que não teria forças para mandar a bola para o outro lado. Aquilo era muito grande, mas ficava menor com dois ou três passos a frente, como bem me mostrou aquele senhor.
Batemos bola - poc, pum, pein, pum, poc, pum, pein, e assim por diante, até que eu acertei a rede, como era de se esperar. Neste momento, meu companheiro se declarou cansado, recolheu suas coisas, agradeceu, ouviu meu agradecimento, e foi embora.
Tinha sido fantástico. Voltei para casa entusiasmado, cheio de histórias para contar sobre a minha aventura em uma quadra de tênis de verdade.
Duas vezes por semana, eu voltava lá para jogar. Sempre olhava em volta, buscando aquele senhor que talvez topasse mais uma partidinha como no outro dia. Enquanto isso, as bolas iam até à parede e voltavam - pein, pum, pum, pein, pum, pum, pein...
Só vi meu companheiro - cujo nome nunca soube, mas cujo rosto nunca esqueci - de um único jogo mais uma vez, enquanto ele dirigia seu Fusquinha de volta para casa. Ele acenou para mim.
Em um dia excepcionalmente frio para aquela época do ano, voltei para casa e me deparei com um espelho no elevador. O reflexo escancarava o fato de que dali dois dia eu jogaria de novo com a parede. Não haveria razão para ser diferente: tratava-se de um menino com um raquete velha, cujo encordoamento, todo enferrujado, nunca havia sido trocado e poderia arrebentar a qualquer hora.
Voltei-me, então, para o paredão. Lembrava, às vezes, daquele dia na quadra de verdade - e eram boas lembranças! Mas, com o afastamento, a recordação tomava um sabor diferente e, embora fosse bom pensar naquela troca de bola, já nem parecia que eu tinha estado ali, que era eu rebatendo orgulhoso as bolinhas para o outro lado - pein, pum, poc.
Volta-se à parede e, normalmente, há quatro delas. Com alguma sorte, nenhum espelho estará pendurado. Ao contrário da rede, a opacidade do material não deixa ver que, do outro lado, não tem ninguém.

O que o John Lennon diria?

Enquanto espero a Plataforma Lattes dizer "ok, nós percebemos que você fingiu que atualizou seu currículo, pode ir dormir", vamos a mais uma babaquice interessante.
Estabeleceu-se há mais de um ano o costume de um dos gerentes executivos do F-1 Literária - que eu não digo quem é nem sob tortura - virar de repente para alguém (especialmente sua irmã) e interrogar: "o que o John Lennon diria?"
O gabarito oficial dizia: "I'm so tired". Basicamente, era o que se passava na cabeça de nosso chefe, não só o título da música, mas a música inteira.
Com o tempo, respostas alternativas foram sendo criadas e já não temos um gabarito preciso. A irmã, por exemplo, começou a responder, um pouco impaciente: "não sei, não sei!". Mas aí a música não é do John Lennon, e sim do George Harrison ("I don't know, I don't know...").
A mãe dos dois passou a acrescentar respostas: "mãe, o que o John Lennon diria?" Ela berrou: "MOTHEEEERRR, you had me...". Claro que um berro da mãe da irmã é uma coisa muito suave e silenciosa. Mas, considerando os padrões, foi um berro.
Uma variação interessante foi criada por um sujeito elétrico aí. Não sei se já foi dito por aqui, mas o véi Mero, meu dileto avô, era padeiro. A partir dessa premissa, veja a seguinte pergunta: "O que o véi Mero diria para o John Lennon?". A genial resposta: "o sonho acabou".
Ultimamente, ando perguntando seriamente o que o John Lennon diria ou faria. Ouço, bem ao longe, "come on, it's such a joy, come on it's such a joy! Come on, let's take it easy, come on, let's take it easy! Come on, let's make it easy!". Quero muito seguir o conselho do John Lennon.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

DOIS POR UM

Como uma coisa puxa a outra, vamos imaginar que estamos numa mesa de bar onde o chefe do blog, depois do insight provocado pela “monografia”, deu uma dica para outro post sobre troca - troca (êpa!) de mercadorias.
Por sinal esse antigo sistema de comércio, o escambo, é assunto recorrente entre nós, tecladistas do blog.
Vamos lá. Que façam download de mais uma rodada de chopp e batata frita.
Lá na década de 60 quando os Onofris tendo como grande timoneiro véio Mero foram residir na célebre rua Djalma Forjaz havia toda quarta uma feira (doeu mas ficou legal, “toda quarta uma feira”) na av. Santa Inês.
Na verdade a feira era num terreno baldio junto à avenida onde hoje existem uns sobrados tendo um posto de gasolina do outro lado. Olhem aí no Google Earth.
Então, Dona Alzira, a rainha daquele castelo, convocava o filho mais servo (quero dizer mais velho) para acompanhá-la na empreitada que consistia em comprar mantimentos para abastecer o lar.
Encurtando a história, pois noto bocejos do outro lado da mesa, descobri uma banca iluminada pelo saber da escrita em forma de histórias em quadrinhos.
Um precursor do famoso Tony Elvis (com “y”, se não me engano) trocava revistas e gibis dois por um.
Aqui devo abrir um capítulo à parte.
Nunca tive muita afinidade com o véio Mero. Coisas da vida. Ele também não era muito chegado neste que vos tecla. Não vou gastar dinheiro com psicólogo para descobrir os porquês. Mas, choro toda vez que ouço Legião Urbana em “Pais e Filhos” (você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo. São crianças como você. O que você vai ser, quando você crescer).
Véio Mero era leitor e juntador voraz de jornais, revistas e gibis!
Desde Curitiba reunia uma pancada (gíria da época) de tudo isso.
Aprendi com ele a ler jornais e sempre desconfiar das informações.
Fui, como ele, assinante da Folha durante séculos, até o saco estourar. Certa vez, quando uma pessoa programada para repetir bordões, tentava vender uma assinatura do jornal via telefone, fiz um discurso contra a linha editorial que “mais parece uma sucursal em edição diária da fascista revista Veja”.
Do outro lado um silêncio sepulcral. Nunca mais ligaram para o maluco.
Meu pai era de esquerda (má non maconheiro!) e sempre fazia discursos contra “isso que aí está”.
Mais tarde perdeu a velha vibração, mas, não o culpo porque estou na mesma trilha. (“pais e filhos”).
Ele juntava zilhões de revistas e gibis. Quando mudamos para Sampa muito ficou em Curitiba, mas, ainda havia uma quase inesgotável fonte de gibis para troca.
Fecha o capítulo.
Ao descobrir a banca dois por um uma luzinha acendeu em minha cabecinha.
Na tal fonte quase inesgotável havia “Tio Patinhas”, “Pato Donald”, “Zé Carioca” e outros tesouros. Sim “Fantasma, o espírito que anda” tinha de monte.
Assim, toda quarta feira lá ia eu carregando uma sacola cheia de gibis na intenção de troca com aquele senhor cada vez mais preocupado com o pentelho que não comprava nada e trocava tudo.
Descobri um gibi rebuscado no desenho e história sobre um robô gigante que acordava de um sono eterno para encher o saco dos humanos.
Lembra muito o robô da capa do disco do Queen “News of the world” aí na figura.
Pesquisei na infernal internet e não encontrei nada que ligasse a figura da minha memória ao nome que imagino ser desse robô.
Mas, lembro que causei traumas de infância na minha irmã, pois andava pela casa feito o tal robô balbuciando coisas sem nexo e ameaçando a humanidade. Tadinha.
Acho que é por essa e por outras que ela não liga mais para mim.
Para finalizar, porque o bocejo se transformou em sono, chegou o dia em que aquele gibi legal valia três dos meus. Depois, aquele outro livrinho com desenhos fantásticos de caravelas valia quatro.
Até chegar o dia em que minha fonte inesgotável estava carregada de tesouros em forma de gibis e resolvi que não ia mais praticar a velha forma de comércio com o precursor do Tony Elvis.
Ele não sabe o que perdeu.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Toni Elvis

Quando era menino, costumava ir ao centro da grande Ribeirão Preto com meu pai. Eu nem me lembro bem o que íamos fazer lá. Sei que meu pai dava aula de manhã, vez ou outra tinha que ir até o centro à tarde e eu ia junto. Acho que era mais ou menos isso.
Havia uma lojinha de discos perto da praça da catedral - como é nome daquela praça? Era uma das poucas lojas que ainda vendiam discos de vinil. Como o nosso era um dos poucos lares que ainda dispunham de uma vitrola, éramos - eu e o véio - dois dos poucos clientes do estabelecimento.
A loja se chamava "Toni Elvis" e o dono dela também. Além de ser um raro estabelecimento que tinha vinil, eles trocavam discos no esquema "2 por 1". Eram tempos pré-capitalistas.
Então, eu ficava todo animado com a possibilidade de trazer músicas novas de bandas velhas para casa. Meu pai separava os discos, dois dos menos preferidos, ou dois dos que menos fariam falta e rumávamos para lá.
Nessas brincadeiras, eu lembro de pegar um ao vivo dos Talking Heads (sim, tem "Psycho killer), o Hot Space, do Queen (que foi uma decepção) e, particularmente, lembro do dia em que trouxemos o Hotel California, dos Eagles. Na minha cabecinha, Hotel California era a única música boa da banda. Meu pai sugeriu que pegássemos o LP em questão: "é muito bom". Eu estava interessado só na canção título. Surpreendi-me ao ouvir o disco todo e perceber que era excelente. Os Eagles têm músicas fantásticas e algumas delas vão até o coração do problema com uma precisão absurda.
Lembrei hoje daqueles tempos. Era bem simples, 2 por 1, não precisava nem ter dinheiro, só discos de vinil. A loja agora é gerenciada pelo filho do Toni Elvis, que é um capitalista: não vende mais aquelas relíquias e tudo que tem é de música emplasticada.
Mas a vida, como o disco de vinil, gira e tem sempre seus dois lados, A e B (tá, isso foi horrível). Talvez seja melhor mesmo não trocar mais 2 por 1. Não saberia mais quais dois dos meus discos fariam menos falta.

FÓRMULA UM!!!!!

Lembrando que este blog ainda gosta da F1 leio que o Senna sobrinho já assinou com a Williams para o ano em que o mundo vai acabar 2012.
As coisas são assim na F1: o gato ameaça subir no telhado. O gato está subindo no telhado. O gato deu tchau na metade da escada. O gato chegou ao telhado. O gato ameaça subir totalmente não só as patinhas da frente.
Meses depois o gato cai do telhado.
Digamos que Senna sobrinho está, finalmente, no telhado.
Vai cair nas próximas horas ou dias. Ou seja, o anúncio oficial vai sair do forno e todo mundo vai balbuciar “oh, eu não sabia!”
Conseguiu o lugar de rubim graças a uma vaquinha de uns 30 mijões de abobrinhas liderada pelo Ic Batista, o estranho quaquilonário brasileiro.
Finalmente Bruno Senna vai ter chances reais na F1.
Isto se o carro melhorar. Em 2011 era uma bosta com rodinhas.
Chato vai ser este tecladista agüentar a gozação pela pimba por detrás levada pelo rubim.
Lá onde ganho meus parcos rendimentos sou alvo de ironias em relação ao chorão mor porque considero (eu e uns quatro ou cinco torcedores) o ex-piloto da Williams como um dos melhores que já pisou num autódromo. Não só pisou como correu.
Agora, pelo menos por enquanto, nem uma despedida decente vai ocorrer.
Daquelas em que o personagem sobe no trem e os amigos ficam na estação dando adeus até a composição sumir no horizonte entre apitos e fumaça da chaminé.
Melhor, porque conhecendo o rubim, não duvido do cara aparecer no grid pilotando uma malfadada Hispania.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

CELACANTO DERRUBA INGENUIDADE

Graças a um dos nossos leitores, que cabem numa van, descobri que a pichação “celacanto provoca maremoto” tem origem no seriado National Kid.
Também estou envergonhado porque me julgava um véio iniciado nestas coisas da infernal internet.
Qual nada.
Todas as minhas paranóias de criança e juventude e minhas assombrações com o mundão encontram explicação numa simples navegada nesta porcaria de internet.
Porcaria porque acaba com o romantismo daquelas lembranças do que vivemos, que se modificam com o passar do tempo, mas, permanecem em nossa memória como um marco.
Aquela corrida de F1 tão legal foi, na verdade, chata para carai agora que a revi graças ao download feito pelo chefe do blog.
E, por aí vai.
A pichação em questão durante muito tempo provocou murmúrios entre os que a viam.
Para nós, de São Paulo, esta mensagem nos muros significava uma oposição ao regime militar. Era mensagem cifrada de grupos revolucionários que iriam surgir sei lá de onde e devolver o país à democracia.
Daí veio o “cão fila km 26" (e não 32, como escrevi) e a teoria da conspiração se completou. Eram grupos de opositores ao regime que se articulavam.
Bom, tudo era fruto de nossa imaginação.
Legal é saber, lendo livros que retratam a época, que a ditadura também era paranóica. Para ela até o carola do Reibeto Carlos era passível de censura.
Hoje vivemos uma democracia (não riam, por favor).
E, o Brasil-sil-sil continua mal.
Vamos ao que interessa.
Lembro desse seriado japonês, National Kid.
Descobri na internet que era, no fundo no fundo, feito para conquistar corações e mentes para a National Electronics Inc, hoje Panasonic. Vejam só. É difícil perder a ingenuidade.
Nem o National Kid escapou do merchã.
Mas, vejam a abertura brasileira do seriado. Minha irmã, criança na época, conquistava, por seu turno, corações e mentes cantando a musiquinha em japonês.
Um jornalista pegou uma frase do seriado e a transformou num ícone de época.
A pichação do cão fila era propaganda de um criador destes mastodontes caninos.
Se eu fosse mais esperto naquele tempo criaria outro ícone capaz de apavorar o regime.
Lembro bem de um diálogo do seriado National Kid. De vez em quando ainda repito deixando os familiares preocupados com minha saúde mental.
Mas, era mais ou menos assim:
Entra um inca venusiano (a fantasia era engraçadíssima) apavorado e fala para a majestade dele.
“majestade, majestade. O motor secreto parou”
Close na majestade:
“Hã! O motor secreto!”
Cai o pano.
A pichação seria.
“Ditador, Ditador. O motor secreto parou”.
Se o ditador e seguidores fossem tão paranóicos quanto eu pegariam o primeiro avião para as ilhas Bramas.


sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

"Ain't that a bitch?"

Há anos a Edna vem limpar aqui nos dias em que acha que deve. A Edna não veio hoje, tinha dito que viria. Seria bom que tivesse vindo.
E tem dias em que ela faz muita falta. Ela e a Edna.

Música para embalar o sono que ainda não veio.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

SOBRE PLANTAS E PULGÕES

Lendo sobre a planta laranja lembrei que acabei de pulverizar a jabuticabeira porque está infestada de pulgões. Na verdade são pulguinhas.
Uns bichinhos chatos que atacam as jabuticabas da rainha do castelo.
Então, além das brigas com os passarinhos que não esperam as jabuticabas amadurecerem para bicá-las, tem a lide contra os pulgões.
Claro que na qualidade de rainha ela ordena ao vassalo aqui que resolva a questão.
Ah, não se espantem. Temos uma jabuticabeira na sacada do castelo.
Vejam a foto.



Como uma planta puxa a outra lembrei um episódio dos tempos da Química e da ditadura.
Sei que pareço com aqueles véios sentados no fundo da sala a brandir a bengala ameaçando acertar a cabeça de algum neto que ousa sair sem ouvir aquela história contada ‘centas vezes.
Enfim, lá vamos nós. “Senta que lá vem história”.
Uma maneira de afrontar o regime militar era segundo alguns, fumar um baseado seja lá onde fosse.
Tinha um amigo meu que enrolava o dito no meio das festas como se estivesse em praça pública sobre um banquinho a discursar contra “tudo isso que aí está.”
Outros eram mais criativos.
Havia um sujeito gozador à beça (como dizíamos na época) que desenhou uma camiseta com estampa parecida com a da foto.
Escreveu em letras garrafais “cannabis sativa”.
Desfilava com esta camiseta em tudo quanto era lugar.
Naqueles tempos bicudos quando a repra (repressão para os menos iniciados) cismava que havia alguma manifestação marcada no centro da cidade colocava um monte de policiais militares para marcar presença.
Pois nosso herói passava pelos fardados todo garboso. Nunca houve problema com ele.
Agora se ele escrevesse “maconha” na camiseta era cacetada na certa.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Persistências

Dias desses, escrevemos sobre a persistência da memória. Eu tinha gostado bastante, mas o texto serviu mais para deixar meu pai espantado do que qualquer outra coisa. Entre uma cerveja e outra, conversamos sobre o contexto de cada uma das linhas. E foi interessante, deveríamos fazer mais!
Mas não é só a memória que persiste nesta vida. Vou contar uma historinha, mas, antes, vejam esta plantinha laranja, no auge de sua saúde, alegrando o ambiente:


Dia 21 de dezembro de 2011, este arremedo de ser humano, já com sintomas de que as coisas não caminhavam tão bem nos seus rins, fez a mala e saiu para ir passar o fim de ano com os pais.
Chegando ao andar térreo, a mala já começava a dar sinais de fadiga e as rodinhas se esgarçavam, uma para cada lado, tamanho o peso a ser carregado por elas. Depois de passar pela porta, dizer "boas festas e até breve, Luís" e começar a rezar para que a mala resistisse só até a rodoviária, uma coisa me ocorreu: havia esquecido de deixar os dois vasinhos que moram aqui em casa com a vizinha que tomaria conta deles. Parei na esquina enquanto esperava a boa vontade do semáforo, olhei em volta, olhei para trás e tive um dos pensamentos mais perversos da minha vida: talvez fosse melhor ir e não ter mais aquela planta quando voltar. De certa forma, eu sabotei a plantinha, que não tem nada a ver com a história.
Quando voltei para cá, chovia - tem sempre chovido. Guarda isso aqui, deixa aquilo ali e fui ver o estado das plantinhas. A violeta, coitada, estava meio surrada, mas ainda com flores! A laranjinha acima, bem, não teve tanta sorte. Quase toda essa folhagem verde que se vê abundante estava ressecada, com a cor marrom, todas as flores estavam secas e caídas, uma cena de dar dó.
Um arrependimento sombrio me acompanhava desde Ribeirão Preto por não ter cuidado adequadamente da sobrevivência das plantas na minha ausência. Acho que cheguei a comentar com alguém que não adiantava vociferar contra a existência das plantas e que, ao contrário, era preciso aprender a conviver em paz com elas.
Mas, de uma forma estranhamente simbólica, minha tentativa de não ter mais a laranjinha por perto fracassou. Ela já não é mais aquela planta vistosa de antes, mas ainda tem suas folhinhas verdemente alegres e uma haste que, em breve, carregará uma flor. No meio daquela secura e falta de cuidado, sobrou um monte de vida para ser vivida alegremente.


Agora, ela terá que ser muito bem cuidada de novo. Reparem como a qualidade da foto já é significativamente melhor que a da planta saudável, apesar da fiação atrás do vaso "que não acompanha o tema da fotografia". Grave falha na composição. Perdoável, contudo.

SONHO ALADO

Como bem lembrou o chefe do blog existe um episódio muito louco envolvendo o César Locão, pedindo perdão pela redundância.
Lembrando que o episódio ocorreu quando eu morava na famosa Djalma e nenhum madaquiense (existe isso?) sofreu bullying.
Nós adorávamos aviões e sempre marcamos presença no Campo de Marte. Não o planeta e sim o aeroclube em Santana.
Tá certo que o César honrava o apelido e acabava dentro de algum avião estacionado fuçando onde não devia.
Já naquela época ocorria um festival aéreo em determinada data do ano.
Vou abrir um parênteses (não um parente).
Engraçado como as coisas mudam. Lembro bem que nos idos de 1966, quando mudamos para Sampa, nos tempos de festa junina o céu era pipocado de balões. Uma diversão muito legal para nós pentelhos em ebulição pré-adolêscencia. No início das férias de julho partíamos em safári a caçar balões moribundos. Era paulada sobre paulada.
E, inúmeros aviões partindo do Campo de Marte, davam rasantes “cortando” os balões que se incendiavam caindo sei lá onde.
Hoje nada disso acontece.
Fechando parênteses.
Num desses festivais eu e o César Locão resolvemos que iríamos voar num teco-teco qualquer.
Era preciso grana. Iniciamos uma campanha meio doida que consistia em economizar a mesada para juntar dinheiro e alugar um avião para um vôo panorâmico. Detalhe: eu não tinha mesada. E o preço era salgado e azedo.
Então ficava o dia inteiro atrás da Dona Alzira pedindo dinheiro para comprar figurinhas explicando que eu não ia comprar figurinhas e sim guardar a grana para alugar um avião para um vôo sobre a cidade etc e tal.
Evidentemente ela não agüentou a pressão e intercedeu junto ao véio Mero, dono do cofre, pedindo pelamóde deus que financiasse minha loucura.
Pulando mais algumas etapas o pai do César Locão levou os dois alucinados até o Campo de Marte e negociou o vôo.
O avião era um Paulistinha como o da foto.
Um avião treinador como se diz e para dois lugares.
Ainda com nossa pouca idade a acomodação no banco de trás era quase impossível.
Mas, tudo em nome de um sonho. Sentamos no banco e colocamos o cinto. Alguém deveria ter tirado uma foto. Sem respirar, pela emoção e pelo aperto, lá fomos nós.
Logo de saída uma saia justa.
Na cabeceira da pista havia um avião, outro Paulistinha, pronto para alçar vôo.
Era da Faculdade Mackenzie, todo cheio de estilo, com algum aluno riquinho a aprender os macetes da aviação.
Então, nosso arrojado e intrépido piloto, além de revolucionário, enfrentou a burguesia avançando a pista e dando gás para alçar vôo para o infinito azul.
Lindo para nós garotos ingênuos.
Nosso piloto simplesmente alinhou com o outro avião, que tinha preferência, e deu motor junto com o pobre burguês.
Ali atrás, fascinados e espremidos no banco, demos mil tchauzinhos para nosso companheiro alado que acabou levantando vôo não sem antes ter que sair para a parte gramada. Então, entre tufos de grama presos no trem de pouso e xingamentos ele retribuiu nosso carinho com gestos muito feios.
Mas, subiu para os céus.
Nosso vôo consistiria em subir dar uma volta ao largo do campo e voltar. O dinheiro só dava para isso. Melhor que não dormir à noite sonhando com esses momentos.
Nosso anfitrião alado passou sobre a famosa e triste Penitenciária do Carandiru.
Num arroubo de entusiasmo deu um rasante sobre os muros. Guardas olharam assustados e chegamos a ver alguns presos jogando futebol.
Nós não percebemos, dentro do avião, a sensação de proximidade com o solo. Penso que a alegria pelo sonho realizado embotou nosso cérebro.
Ao voltar para o Campo de Marte sobrevoando o bairro da Casa Verde avistamos um campo de futebol de várzea. Mais um rasante. Foi quando eu fiquei preocupado porque um dos jogadores acenou e eu consegui visualizar os traços de seu rosto. Foi quando tive a sensação de estar perto demais do solo.
Ainda havia uma última emoção.
O Paulistinha alinhou com a pista descendo para o pouso. Na cabeceira, pronto para levantar vôo, havia um avião bimotor. Portanto, bem maior que o nosso.
O rádio avisava que a pista era do bimotor.
Qual nada. Nosso maluco anfitrião resolveu descer.
No mesmo tempo o bimotor começou a rolar pela pista. Rolar é um termo aeronáutico. O bichão desembestou pela pista.
Meninos do Brasil varonil.
Nós sobrevoamos o bimotor, batemos na pista aterrissando, mas era certeza que iríamos levar uma bifa por trás.
Não havia espaço para que o bimotor alçasse vôo sem o choque com nosso Paulistinha.
Num lampejo de lucidez nosso piloto deu gás levantamos vôo novamente e saímos pela esquerda como diria Pepe Legal. Tá certo. Pepe Legal saía pela direita. Mas, à direita havia os hangares. Portanto, saímos pela esquerda.
Ainda vimos o avião bimotor subindo sem ter tempo para tchauzinhos porque o dito era rápido.
Tivemos que dar uma volta pelo campo e pensamos que seria um brinde pela barbeiragem do piloto.
Finalmente aterramos e demoramos alguns meses para perder aquele olhar vidrado de alegria em realizar um sonho aparentemente distante para dois meninos pobres da periferia.
Depois de um tempão percebemos o perigo que corremos com as peripécias do piloto que nos levou aos ares.
Foi então que o pai do César Locão explicou a discussão que teve com o piloto quando descemos.
Ele cobrou a volta extra ocasionada pela sua ousadia descabida.
Pior, descobrimos que ele não era piloto. Era um mecânico de aviação metido a piloto.
Pegou um avião de treinamento e faturou algum.
Colocou todo mundo em risco, ele inclusive, numa atitude destemperada e irresponsável.
Enfim, se o encontrar nos dias de hoje, se vivo estiver, darei um abraço apertado num cara que proporcionou emoções inesquecíveis a este que vos tecla.
Toda vez que conto esta história aos incautos afloram as imagens daquele vôo como se tivesse acabado de descer do Paulistinha.
Penso que é para isso que vivemos.


Audiência internacional

Por alguma razão misteriosa, no dia 12 de dezembro passado recebemos duas visitas da Rússia neste humilde blog. Talvez fosse algum moscovita querendo saber notícias sobre Vitaly Petrov ou se, finalmente, foram confirmados os rumores a respeito de um GP de F-1 na Rússia. Entorpecido pela vodka, o russo - ou russos - em questão não percebeu que estava tudo escrito em português.
A hipótese mais plausível, contudo, é que a pessoa queria ouvir a música do John Lennon que estava por aqui naquela data.
Seis dias depois, houve duas visitas da Suécia, terra do fantástico Ronnie Peterson e que já sediou GPs de F-1. Talvez quisessem saber alguma coisa sobre este novo piloto elétrico sueco de quem se fala por aqui. Não sei o que mais poderia ter atraído um sueco. Pode ser que exista muito pouco para se preocupar em Estocolmo e eles resolveram pesquisar sites aleatórios sobre Fórmula-1 ou, simplesmente, aprender português.
Há outros acessos rapidinhos de países como Portugal, Bulgária (?) e França. Chamou a atenção, no entanto, o aumento da audiência estadunidense. Houve, naquele país, quem passasse, em um único acesso, 40 minutos lendo o F-1 Literária. Várias hipóteses foram formuladas: 1) tratava-se de algum fanático norte-americano alucinado em busca de alguma foto da Danica Patrick; 2) seria algum norte-americano que dormiu em frente ao computador segurando um hamburger na mão direita; 3) Por último, podia ser um fã do Kimi Raikkönen preocupado com o molde do banco do piloto. Talvez o sujeito em questão tenha ficado esse tempo todo nos lendo porque estava traduzindo, palavra por palavra, os posts. Ele não confia no Google Translator - e com razão.
Por conta desses acessos, fui ver os critérios de pesquisa para tentar descobrir o que esses perdidos e o fã do Raikkönen estavam procurando quando chegaram até este manicômio online. Não tem nada que faça sentido: nada escrito em russo, nada escrito em sueco e nada escrito em finlandês ou inglês. Mas temos algumas pesquisas muito intrigantes chegando até nós. Há algumas versões engraçadas do nome do blog, como "f1 loteraria", ou "f1 literararia", mas também coisas muito pouco convencionais. Por exemplo: 1) "chacoalhão colisão automóvel pescoço tomografia"; 2) "esposa nigel mansell", com a variação "mulher do mansell"; 3) "como beber e não esquecer" (fantástico); 4) "documentário conspiração bases militares"; 5) "famosafiladapu"; 6) "fios expostos chuveiro"; 7) "formula 1 tem buzina" (não, não tem); 8) "mc magrinho"; 9) "Pironi maquiavélico calculista" (uau! Merece um texto à parte); 10) "paçoquinha embalada"; 11) "rafa godoy viking" (!); e o meu preferido disparado, não tem para ninguém é: 12) "chucrute é repolho podre".
Para fazer um teste com finalidades científicas, digitei "chucrute é repolho podre" no Google. Aparecem coisas hilariantes, como isto aqui, mas não achei o humilde Fórmula-1 Literária no meio das bizarrices.
Em resumo, nem sempre a gente entende como chegam as visitas e qual a razão para elas resolverem passar um tempo por aqui. No entanto, nem tudo o que nos alegra precisa ser inteiramente entendido. Basta que nos entendamos.

ESCLARECENDO

Como autor do post “ônibus – I” devo prestar alguns esclarecimentos não sem antes apartar a briga que se formou diante de alguns equívocos causados, talvez, pela obscuridade do texto.
Devo dizer que morri de rir com a celeuma. Lembra muito aquelas discussões em torno das mesas de bar. Cerveja vai cerveja vem e tatu-bola se transforma em barata, quero dizer em mandaquiense.
Aqui no interior o motor dessas discussões são rivalidades entre cidades vizinhas.
No meu tempo aí em Sampa era briga de bairro.
Santa Inês contra Jd Peri. Santa Inês contra Tremembé.
Lauzanne Paulista era café com leite porque os machos de lá não agüentavam os machos de cá.
Enfim, na época retratada no texto nós morávamos na rua Djalma Forjaz que é uma travessa da Av. Santa Inês, perto dos Bancários. Procurem no Google Earth. Estou com preguiça (para não confessar que apanho dessas ferramentas) de “colar” no blog.
O Conjunto dos Bancários, salvo engano, foi inaugurado, ou algo que o valha, nesta época.
Também nunca pensei nas minhas agruras como bullying. Mas, se encontrar o tal César Locão (sim, ele existiu) vou dar umas porradas nele como terapia. Pensando bem não.
Naquele tempo ele adorava dar tiros nos amigos com uma espingarda de pressão.
Eu tinha que esperar ele atirar (com sorte errando) e correr antes de recarregar.
Imaginem o que ele faz com os amigos hoje em dia.
Chinho (apelido de um japonês) também existiu. Penso que foi meu único amigo naqueles tempos. Em compensação seu pai, dono de uma tinturaria na mesma rua, japonês legitimo, quando se deparava comigo dentro de sua casa xingava em japonês. Chinho era tão amigo que não traduzia tudo o que ele despejava em mim.
Mas, aprendi a gostar de comida japonesa com a mãe desse meu amigo.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Tá tudo errado

Presenciei, ontem, uma conversa que começou e terminou com a frase "tá tudo errado". Adoraria contar o que foi dito entre um "tá tudo errado" e outro, mas não vai dar tempo. Então, basta dizer o seguinte: um dos diletos interlocutores encontrou uma petição de um advogado que citava uma música de um carinha a respeito de quem nunca se ouviu falar. A música dizia "tá tudo errado, tá tudo errado".
Fui eu tentar saber que raio de música é essa, digna de ser citada em petição, e encontrei o Alemão Ronaldo. A música é esta aqui - ou, pelo menos, achamos que seja.
Seja essa ou não a canção citada pelo ilustre causídico, Alemão Ronaldo virou meu ídolo instantaneamente. O cara gravou um CD ao vivo em um local chamado "Absinto Hall". E é o quanto basta.
Resolvi ir caminhar na chuva.

ÔNIBUS - I

Ao ler o post do chefe sobre viagens de ônibus e ler a crônica da Vanessa pelo atalho não poderia deixar de escrever sobre os chamados coletivos.
Aliás, a crônica do link foi para mim uma viagem aos tempos em que morei no Alto do Mandaqui.
Quando mudamos de Curitiba para Sampa, em 1966 (!!!) estranhei muito os novos personagens que o destino jogou em minha vida.
Gente estranha com interesses mesquinhos bem ao contrário de meus amigos curitibanos.
Piorando a situação virei atração por causa do sotaque. Todo mundo, até os professores, queriam que eu tagarelasse para ouvir o sotaque sulino. Por tudo, quase não tinha amigos nesta época.
Uma das maneiras de escapar do isolamento forçado era uma aventura domingueira.
Eu pegava o ônibus domingo logo depois do almoço e ia até o centro da cidade. O ponto final era, então, na Praça do Correio.
Eu ia com o dinheiro contado para a passagem de volta. Nem pensar em comprar algo nesta empreitada.
Descia na Praça do Correio e saía andando sem destino. Muitas vezes me perdia e tinha que perguntar para alguém onde ficava a Praça de modo a pegar o tal coletivo de volta para casa.
Como dizem hoje, tenso.
Eu tinha uns onze anos e fico pensando em como meus pais permitiam uma aventura dessas. Lembrem-se: não tínhamos telefone e não levava nenhum bilhete com endereço.
Mas, sobrevivi.
Os ônibus eram da Brasil-Luxo e a molecada tinha uma espécie de esporte. Consistia em descer com o paquiderme de lata ainda em movimento. Como resultado muito joelho ralado.
Esse foi meu primeiro contato com os tais coletivos.

Shadows on the road behind

Alguém escreveu, numa certa ocasião, uma coisa bem bonita. Reproduzo um trechinho aqui: "sempre que entro num ônibus, é a sensação que tenho até hoje: de que a vida é uma passagem silenciosa de um lugar para o outro, onde cabem todas as expectativas, ninguém sabe regular o ar-condicionado e o motorista pode pegar no sono a qualquer momento, embalado pelos roncos sinfônicos dos demais companheiros de trajetória. Todo mundo dorme. Não há outros carros na estrada. Mas, se você tiver sorte, haverá alguém à sua espera no desembarque".
Hoje, tomei eu um ônibus partindo de Ribeirão Preto rumo a São Paulo. Nenhuma novidade, são muitos e muitos anos neste trajeto.
Estar em casa - ou na casa dos meus pais? - é sempre aconchegante: existe café da manhã (acho que não tomava café da manhã há meses), almoço em horário adequado e até janta! Há filmes em família, reuniões na varanda, debates acalorados que se dissolvem em um instante quando alguém pisca mais demoradamente.
Então, volto para minha casa - é a minha casa? De acordo com minha mãe, não, e nunca será - e não existe muito mais que um vazio (de novo, o vazio) e um monte de saudades. Mas, depois de tanto tempo, eu me identifico com a sede paulistana do F-1 Literária e também com o vazio dentro dela.
Há mais ou menos um ano atrás, eu percorria a mesma estrada que percorri hoje, de volta para casa - ou, simplesmente, para São Paulo? - e, naquela ocasião, aconteceu algo intrigante. Estava sentado no fundo do ônibus - não havia ninguém ao meu lado -, e, duas poltronas a frente da minha havia um casal com os assentos recostados, conversando de mãos dadas. A cena era bonita. Dei uma bisbilhotada no livro em cima da minha perna e voltei os olhos, mais um vez, para o casal. Fui atingido, naquela hora, pela perturbadora percepção de que, deixando para trás Ribeirão Preto, rumava para um lugar em que não havia absolutamente ninguém me esperando no desembarque e que era um momento abominavelmente solitário da minha vida. Já não dava mais para voltar.
Hoje, em um ônibus muito parecido com aquele, não havia ninguém ao meu lado, nem para fazer companhia, nem para me incomodar enfiando o cotovelo em uma das minhas costelas. Ninguém me esperaria no terminal e nem em lugar nenhum. No entanto, lembrei do texto cujo trecho está reproduzido acima e percebi - quantas percepções! - que, no dia em que ele foi escrito, em um caderninho pequeno, estávamos com sorte, os dois. São poucos os dias de sorte, mas eles acontecem.
Mesmo sem ninguém a me esperar e sem saber bem o que esperar depois de aterrissar por aqui, senti que estava, mais uma vez, com sorte. O retorno foi menos traumático que em outros anos. Sem dúvida, lembrar dos dias que viram textos bonitos foi ótimo. Foi mais fácil, também, por ter presente quem eu deixei para trás, na mesa do almoço de hoje, pessoas que ainda estarão lá quando eu voltar. Do mesmo modo, há quem tenha ficado por aqui a nos esperar sempre - e são sempre esperados. Basta subir a rua ou aguardar que desçam.
Tentava fotografar as nuvens quando fui avisado de que, para chegar em São Paulo, bastava seguir em frente e deixar as sombras na estrada.


segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

UM POUCO DE F1

Só para lembrar que este blog ainda tem F1 no sangue. Afinal, estamos fora dos trilhos nestes últimos tempos.
Agora, fala-se de logos ao invés de legos.
Tomás de Aquino, Santo Agostinho numa demonstração de profundidade filosófica nunca dantes vista num blog despretensioso como este.
Entre os dois fico com Agostinho que vivia largadão, para não dizer outra coisa.
Até o dia em que ouviu vozes e takume mudou de vida.
Enfim, um pouco de F1 para alegrar as mesas do bar.
Leio que o antigo preparador físico do rubim morreu de ataque cardíaco aos 46 anos. Gosto muito do rubim. Principalmente de boca fechada. Mas, vai ser pé frio assim lá na Williams.
Nosso grande Kimi Raikkonem visitou a fábrica da Lotus, ou algo que o valha tamanha a confusão que virou o nome da equipe, e fez o molde do banco de seu carro. Ou seja, colocou a bunda na forma.
Vejam só: Perez, o Serjão, encontrou lugar para brincar neste mundo sem graça que é a comunicação entre pilotos e equipes durante a corrida. Disse, na última volta do GP do Japão, que seu carro perdia potência. Em troca disseram que o Koba, seu companheiro de equipe, havia chegado em quarto lugar. Na verdade o japonês chegou em 13º.
Ic batista, o quaquilonário brasileiro (eu disse um quaquilonário brasileiro. Entenderam?) disse que o Senna sobrinho vai correr no mico Williams. Se ele disse.....
Por enquanto é só.
Eu ia dizer que entre logos e legos prefiro os legos, mas, o chefe do blog iria lembrar de sua infância a brigar com este velho pai pelos pedacinhos de plástico que transformavam sonhos em aviões e carros de corrida. Sim, a família toda montava legos lá em Jabotica’s. Porém, hoje quem manda no blog é ele. Portanto, que venha o logos.

Pecaminoso

Quando acordei hoje, existia uma banda que gostaria de ouvir tocar e umas 4 ou 5 pessoas com quem gostaria de falar, além da minha dileta família. No fim, ouvi a banda e encontrei 3 dessas 4 ou 5 pessoas.
Voltei para casa e nem precisei acender a luz porque tinha este luar com este céu.




Juro que estava bonito, a foto é que não saiu muito boa. Quanto à banda, normalmente eu colocaria isto aqui, para mostrar o mestre em puro estado de graça. Mas como "normal" é um adjetivo que pouco se aplica à minha vida nos últimos meses, ficamos com a plasticagem abaixo.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Um dia, um dia... dois dias

Não sei que bicho veio me dar boa noite ontem que acordei bem hoje. Daí, lembrei de umas palestras sobre algo que não recordo o que era (a propósito, estava presente o autor do livro que contém a frase "o homem é, fundamentalmente, um ser que esquece"), mas que todo mundo falava de Tomás de Aquino e Pieper. O que era aquilo mesmo? Pudera esquecer, eu fui pro negócio sem dormir.
Mas eu lembrei de uma pergunta feita por um professor português para um dos palestrantes. Perguntava o portuga se o logos era ou não autoconsciente. Fiquei espantado porque não parecia ter nada que ver com o contexto. O sujeito palestrava sobre a teologia negativa do pseudo-Dionísio Areopagita e como isso tem relevância na pedagogia (!), aí o outro vem com essa de logos autoconsciente.
Não lembro bem qual foi a resposta do palestrante e não tenho condições sequer de iniciar a discussão sobre a autoconsciência ou não do logos. Tenho que confessar, entretanto, que há dias em que o logos - ou seja lá qual outro nome você dê a ele - parece operar do alto de toda sua autoconsciência e a gente se sente assim:

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Alle Menschen werden Brüder

Dia desses, meu pai mencionou por aqui o personagem Alex DeLarge, o que me remeteu ao por quê de eu adorar Beethoven - por mais assustador que seja, tudo começou com o Laranja Mecânica.
Na véspera de ano novo, a TV Cultura estava transmitindo um concerto que tocava, justamente, a 9ª sinfonia, que é simplesmente inacreditável.
Tudo bem, sei que é batido, mas me emociona todas as vezes.