quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

DOIS POR UM

Como uma coisa puxa a outra, vamos imaginar que estamos numa mesa de bar onde o chefe do blog, depois do insight provocado pela “monografia”, deu uma dica para outro post sobre troca - troca (êpa!) de mercadorias.
Por sinal esse antigo sistema de comércio, o escambo, é assunto recorrente entre nós, tecladistas do blog.
Vamos lá. Que façam download de mais uma rodada de chopp e batata frita.
Lá na década de 60 quando os Onofris tendo como grande timoneiro véio Mero foram residir na célebre rua Djalma Forjaz havia toda quarta uma feira (doeu mas ficou legal, “toda quarta uma feira”) na av. Santa Inês.
Na verdade a feira era num terreno baldio junto à avenida onde hoje existem uns sobrados tendo um posto de gasolina do outro lado. Olhem aí no Google Earth.
Então, Dona Alzira, a rainha daquele castelo, convocava o filho mais servo (quero dizer mais velho) para acompanhá-la na empreitada que consistia em comprar mantimentos para abastecer o lar.
Encurtando a história, pois noto bocejos do outro lado da mesa, descobri uma banca iluminada pelo saber da escrita em forma de histórias em quadrinhos.
Um precursor do famoso Tony Elvis (com “y”, se não me engano) trocava revistas e gibis dois por um.
Aqui devo abrir um capítulo à parte.
Nunca tive muita afinidade com o véio Mero. Coisas da vida. Ele também não era muito chegado neste que vos tecla. Não vou gastar dinheiro com psicólogo para descobrir os porquês. Mas, choro toda vez que ouço Legião Urbana em “Pais e Filhos” (você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo. São crianças como você. O que você vai ser, quando você crescer).
Véio Mero era leitor e juntador voraz de jornais, revistas e gibis!
Desde Curitiba reunia uma pancada (gíria da época) de tudo isso.
Aprendi com ele a ler jornais e sempre desconfiar das informações.
Fui, como ele, assinante da Folha durante séculos, até o saco estourar. Certa vez, quando uma pessoa programada para repetir bordões, tentava vender uma assinatura do jornal via telefone, fiz um discurso contra a linha editorial que “mais parece uma sucursal em edição diária da fascista revista Veja”.
Do outro lado um silêncio sepulcral. Nunca mais ligaram para o maluco.
Meu pai era de esquerda (má non maconheiro!) e sempre fazia discursos contra “isso que aí está”.
Mais tarde perdeu a velha vibração, mas, não o culpo porque estou na mesma trilha. (“pais e filhos”).
Ele juntava zilhões de revistas e gibis. Quando mudamos para Sampa muito ficou em Curitiba, mas, ainda havia uma quase inesgotável fonte de gibis para troca.
Fecha o capítulo.
Ao descobrir a banca dois por um uma luzinha acendeu em minha cabecinha.
Na tal fonte quase inesgotável havia “Tio Patinhas”, “Pato Donald”, “Zé Carioca” e outros tesouros. Sim “Fantasma, o espírito que anda” tinha de monte.
Assim, toda quarta feira lá ia eu carregando uma sacola cheia de gibis na intenção de troca com aquele senhor cada vez mais preocupado com o pentelho que não comprava nada e trocava tudo.
Descobri um gibi rebuscado no desenho e história sobre um robô gigante que acordava de um sono eterno para encher o saco dos humanos.
Lembra muito o robô da capa do disco do Queen “News of the world” aí na figura.
Pesquisei na infernal internet e não encontrei nada que ligasse a figura da minha memória ao nome que imagino ser desse robô.
Mas, lembro que causei traumas de infância na minha irmã, pois andava pela casa feito o tal robô balbuciando coisas sem nexo e ameaçando a humanidade. Tadinha.
Acho que é por essa e por outras que ela não liga mais para mim.
Para finalizar, porque o bocejo se transformou em sono, chegou o dia em que aquele gibi legal valia três dos meus. Depois, aquele outro livrinho com desenhos fantásticos de caravelas valia quatro.
Até chegar o dia em que minha fonte inesgotável estava carregada de tesouros em forma de gibis e resolvi que não ia mais praticar a velha forma de comércio com o precursor do Tony Elvis.
Ele não sabe o que perdeu.

2 comentários:

  1. Lá na feira do Bom Retiro ainda tem o "homem dos gibis", que troca dois por um. Se a criança chega com muita remela, ele deixa um por um mesmo.

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  2. Sobre a prática do escambo no Mandaqui: http://www.hortifruti.org/2009/05/24/lagartas-e-outras-distracoes/

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