domingo, 18 de dezembro de 2011

PIZZAS E "CAMINHANDO"

Ontem fomos comer uma pizza aqui pertinho de casa.
Eu e a comandante do castelo.
É uma pizzaria nova e diferenciada. Há uma dupla de cantores que entoam canções numa altura civilizada.
O repertório é quase o de sempre.
Mas, ontem havia entre os presentes um ex-deputado federal polêmico aqui da abrasiva Rib’s. Não é o de língua presa.
Creio que partiu dele o pedido de uma música que nos jogou direto aos conturbados anos 60/70.
Naquela época muitas musicas serviram de trilha sonora ao cotidiano pantanoso em que vivíamos.
Uma delas, no entanto, foi um soco no estômago da ditadura.
“Para não dizer que não falei das Flores”, de Geraldo Vandré foi inscrita e executada no Festival Internacional da Canção em 1968 (ah, 68! Ano do último suspiro de um mundo melhor.) ao vivo para todo o país. Quero dizer, aquele país alcançado pela rede Globo, que de resto sempre andou de mãos dadas com o poder.
Este festival era uma resposta carioca aos festivais da rede Record (antes do bispo!) que aconteciam em São Paulo.
Não vou me ater à dinâmica e muito menos às lendas que cercam os dias deste festival.
Porém, algumas coisas são marcantes. Eu, mais menino que sou hoje, lembro bem das imagens em preto e branco.
O público em delírio com o trecho da canção de letra "Há soldados armados, amados ou não / Quase todos perdidos de armas na mão / Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição / de morrer pela pátria e viver sem razão" que era cantada pela voz poderosa de Geraldo Vandré. A ditadura “adorou” esta verdade cantada aos berros pelo Maracanazinho lotado.
Os gritos de marmelada com a vitória de uma canção de Tom Jobim e Chico Buarque intitulada Sabiá, deixando “Para não dizer que não falei das Flores” em segundo lugar.
Todos sabiam do esforço da ditadura para que o júri não desse a vitória para “caminhando” como ficou conhecida a música de Vandré.
Esta música virou o hino de minha geração. Foi proibida pela censura e cantada em toda rodinha de jovens esquerdistas ou não.
No começo de meu curso de química aqui em Rib’s (começo de 76, quase dez anos depois dela ser cantada no festival) eu me achava o próprio Che quando tentava cantar esta música junto com os outros subversivos.
Isso em algum barzinho no centro da cidade!
Enfim, ontem num lugar totalmente inusitado e inesperado, cantei “caminhando” emocionado com as lembranças que este hino remete.
Na infernal internet existem ‘centos vídeos sobre a música e aqueles tempos.
Por isso, não vou inserir nenhum deles.
Naveguem.

Um comentário:

  1. Somos da epoca da "completa pasteurizacao dos partidos politicos", mas me emociono com esse tipo de relato.
    Apesar de uns ventos escandinavos dizerem que sou fascista =)

    ResponderExcluir