quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Área 51 - Parte II


Não seria necessário ir até o deserto de Nevada ou à pinguça Pirassununga para encontrar uma área 51. Uma das sedes do Fórmula-1 Literária fica em um área que leva a mesma numeração. Por aqui, não chegam destroços de aeronaves espatifadas contra a Terra, seres extraterrestres para autópsia, nem se fabricam substâncias entorpecentes de qualquer natureza - embora muitos jurem já ter entrado em órbita com o consumo daquilo que se manufatura em Pirassununga ou no Kentucky, sob supervisão do peru selvagem.
Uma área 51 sem nada de paranormal não teria a menor graça, mas os fenômenos que ocorrem por aqui não tem relação com alienígenas ou com a modificação da química do cérebro. Nosso 51 é habitado por um sem número de fantasminhas zombeteiros, que pulam alegremente de um lado para o outro, ou arrastam suas correntes nas madrugadas insones.
Existe um grupo de espectros, por exemplo, que se reúne às sextas-feiras no período da tarde em volta de um tabuleiro do jogo War. Nunca entendi muito bem, mas eles berram o tempo todo, armando estratégias indecifráveis e acordos interplanetários para derrubar, o quanto antes, o jogador com as peças da cor preta.
Outra dessas almas penadas chega em horários esquisitos e, quase instantaneamente, sente muito sono. Sem cerimônias, esparrama-se pela cama, sem deixar espaço para os encarnados dormirem. "Mas não vai dar nem boa noite?", e já sonâmbulo: "boa noite... vou dormir só dez minutos". E vamos nós, bravos, dormir no puff cor de laranja.
Aliás, este puff mesmo foi trazido por um fantasma que hoje anda também assombrado pelo fantasma que, por sua vez, trouxe o puff até ele. Esse aí é grave, deixou manchas e pedaços faltando na parede. Vez ou outra, desaba no sofá, mesmo com colchão, roupa de cama e cobertores limpos à disposição. "Passei meia década dormindo assim, porque seria diferente agora?". Devemos a ele muitas coisas, inclusive a possibilidade de escrever este texto neste computador, salvo pelo espectro que estava no lugar certo para retirar o aparelho do caminho dos dejetos que lhe seriam atirados.
É necessário estar preparado para a chegada de novas almas e um dos novos habitantes sempre senta no chão aqui atrás, perguntando se não seria mais fácil apoiar o computador sobre a mesa e não sobre a cadeira. Vem sempre acompanhado de chás exóticos, lápis pouco usuais, máquinas de lavar e furadeiras. Este espectro nos levou ao Ibirapuera para conhecer os abalos na curvatura tempo e espaço - tudo tão bem explicadinho -, ao mesmo tempo em que mostrou a cada elétron deste ser vivente qual seria a camada de valência mais estável. Sem contar, é claro, a imensa curiosidade que, por causa dele, toma conta de nós ao ler qualquer texto: "quantos caracteres tem este livro de 1.600 páginas?". Sábio, este fantasminha.
Assombrações estão por todo lado, por aí e por aqui, e tantas ainda vão aparecer. Se elas nos botam medo de vez quando, nos obrigando a fugir, suas presenças não deixam de ser também reconfortantes, pois melhor viver entre fantasmas a ter sido sempre sozinho.

5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Rá!
    Eu conheço esta área 51.
    Agradeço um dos fantasmas por estar tentando dar ordem na desordem (afinal "ordem é progresso!").
    Noves fora, máquina de lavar que não passa da porta é uma gozação sem fim.
    Ficou bonita na sala.
    Andy warhol diria que é arte pura.
    Agora,cortinas dentro, tacos soltos, pia cheia de reminiscências dos dias anteriores, um certo caos na "arrumação" traz recordações de um tempo em que eu habitava uma toca.

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  3. Como sou adepto da teoria da conspiração explico que o motivo da exclusão do primeiro comentário foi um singelo equívoco de linguagem.
    Agora, que é sacanagem do blog avisar que o comentário foi removido, é.

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  4. [Ma. Paula, 4o andar, campainha, batidas insistentes, exclamacoes]

    Tenor: - Essa porta ta diferente, "eles" trocaram?
    Baritono: - Nuum sei!
    Tenor: - Caramba, Plinius, voce acabou de sair daqui, po! Nao reparou?
    Baritono: - Nuum sei!
    Tenor: - Espera ai, "eles" moram no apartamento da pinga. Estamos derrubando a porta errada!
    Baritono: - COOOORRE!!!

    [Trambolhoes escadaria acima]

    tsc, tsc

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  5. CENSURA! CENSURA!

    Olha, eu não tenho culpa que o chefe do blog é um artista. Se ele quer usar a máquina de lavar como televisão e a TV de microondas, quem somos nós para questionar seus desígnios.

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