terça-feira, 6 de março de 2012

[Desa]Sossego

Houve um tempo cheio de regras, e com a idade que tenho deveria ser muito mais do que sou, e ter mais títulos do que tenho, e ter mais coisas que eu não sonho ter.
Houve um tempo em que era preciso apenas trabalhar muito e as férias eram perdidas com idas chatas e desnecessárias ao hospital.
Houve um tempo em que não era preciso ser feliz porque as coisas mais próximas pareciam mais importantes, mas nada é mais importante do que horas perdidas no café na companhia de amigos.
Ano após ano, as rupturas vão desconstruindo as regras, pelo menos aquelas que são desnecessárias. Já não importa se gasto o tempo tocando uma canção que nunca será ouvida, caminhando no quarto ensaiando uma aula que não será dada, um discurso que não será proferido ou juntando as palavras de um texto que nunca será escrito. O que importa é que haja contentamento.

[Lê-se bem o Livro do desassossego, que nunca poderia ter sido escrito por outro que não Bernardo Soares, e me enche de contentamento: fico orgulhoso por poder compreende-lo profundamente]

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