terça-feira, 20 de novembro de 2018

A MORTE VISITA

Um título bem poderoso para uma noite triste. 

Em primeiro lugar reminiscência sobre fatos vividos por várias pessoas e as lembranças de cada um.
Quando encontro pessoas após vários anos e relembramos do passado em conjunto, normalmente detalhes de um não coincidem com de outros. Até mesmo fatos marcantes para uns não são minimamente lembrados por outros. Muitas vezes convenientemente "deletados" pelo subconsciente.  São vários fatores a influenciar e não vou me aprofundar nas questões psicológicas/etílicas.

Nos comentários sobre o post do meu diário, Ana, a usurpadora (além de minha irmã mais nova), lembrou de dois membros já falecidos do clã Onofri.  Cachorros gente boa. Diana e Lobinho.
Então vamos às minhas lembranças. 
Sempre tivemos mascote desde quando criança era (como diria mestre Yoda). Lá em Curitiba havia a primeira Diana. Meninos, ela sofreu na minha mão. Eu era do mau. Agarrava a pobre coitada pelo rabo e rodava no ar. Hoje sinto no coração a dor que ela sentia no rabo. Bom, mudamos para sampa e peixinhos eram comprados. Aqueles japoneses. Criados em aquários improvisados e alimentados com pão. Até inchar de tanto comer. E, sério? Aquário tem que ter bombinha de ar? Fui descobrir bem depois.....
A mortandade de peixes era enorme lá em casa. Certa vez tivemos uma festa e, no dia seguinte, descobri que alguma visita havia dado aos peixinhos um torete de bolo de chocolate. Boiavam no aquário pedaços do bolo e os peixes. Mortos porém felizes. 

Bom, vamos aos cachorros.  Lembro que o primeiro a entrar em nossa vida na Djalma foi Lobinho. Filho do Lobo (ah, vá!) um vira-lata metido a besta do já citado Chinho. Lobo era uma mistura de alguma coisa com pastor alemão. Um cachorro meio sem noção. Certa vez estávamos encantados com um gatinho encontrado na rua. Lobo escapou de casa e literalmente mastigou o pobre bichano. Cenas dantescas.
Enfim, quando manifestei a vontade de ficar com um dos filhos do sem noção, a mãe do Chinho logo se livrou do filhote. Lobinho foi morar no quintal de casa que não era murado e sim limitado por uma cerca frágil. Recordo que a vizinhança era dominada por um sem números de cachorros do demo. Além do Lobo, um pastor alemão legítimo que descia do salto quando escapava para a rua afugentando os seres viventes. Um outro baixinho invocado que vivia acorrentado perto do portão. O dono dele era avô de alguns colegas meus de brincadeiras na rua. Italiano legítimo e um cara puto da vida. Quando a gente fazia algazarra perto da casa ele soltava o pequeno diabo, que corria de boca aberta como se a petizada fosse linguiça da friboi. Certa vez mordeu meu irmão que foi mais lento. Sim senhores, o mundo é selvagem.
Por essas e outras Lobinho ficava em casa e só saía na corrente. Lógico que, vira lata raiz sempre dá um jeito de contrariar as regras.

Diana foi trazida por meu pai em uma das viagens de treinamento lá no interior de Minas. Era uma linda filhote de pastor alemão. Subimos na escala social graças a ela. O dono do açougue, de olho na reprodução, fornecia restos de carne para a alimentação. A vizinhança olhava com inveja a cã com porte de lady.
Não houve problemas com Lobinho. Mesmo porque o baixinho não iria se meter com uma cachorra muito maior que ele. Deve ter pensado em arrumar uma escada para certas pornografias.
No recesso do lar Diana era uma palhaça. Quase derrubava a casa com suas correiras e me acordava todo dia pulando em cima do sofá da sala onde eu dormia.

Um dia adoeceu. Ainda "criança". Foi piorando ao ponto do véio Mero levá-la ao veterinário. Um luxo. Não houve um diagnóstico definitivo. Fomos assistindo Diana definhar dia após dia. Algo que doía na alma.
Mais tarde, relembrando seus hábitos, concluímos que Diana cedeu aos instintos vira latais comendo restos de caranguejo que estavam no lixo. Houve uma perfuração estomacal causando hemorragia interna. Única explicação plausível para o ocaso de um cachorro jovem e cheio de energia.

Na noite em que Diana começou a uivar já estirada no chão, a casa entrou em polvorosa. Todo mundo acudindo e Lobinho aproveitou para escapar. Não fomos atrás porque imaginamos que não iria longe.
Bom, Diana morreu e Lobinho não voltou. Pela manhã choradeira por causa da caçula e preocupação pelo sumiço do baixinho. Um colega meu veio dizer que havia um cachorro atropelado na avenida e parecia o Lobinho. Fui com meu irmão ao local e era verdade. Nunca Lobinho havia ido tão longe.
Perdemos, numa noite, dois mascotes queridos. A morte visita.
Ficamos semanas com o coração apertado.
Pensei que nunca mais iríamos ter outro cachorro. Até, alguns anos mais tarde, surgir Pipi Dog.



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