domingo, 4 de julho de 2010

Pelas madrugadas afora...

Já passa da 1 da manhã e eu começo a me perguntar: "por que é que não estou dormindo?". A pergunta, sem graça em princípio, me faz pensar de onde vem meu terrível gosto pelas madrugadas.
Talvez haja alguma razão fisiológica para isso. Pode ser que meu corpo só comece a trabalhar de verdade muito tarde e só termine o expediente com a hora já adiantada. Será?
Mas minhas primeiras lembranças agradáveis das madrugadas da vida se relacionam com o nome deste singelo blog.
Lembro-me de desenvolver o hábito de ler antes de dormir. Passava muito tempo lendo algum livro antes de apagar a luz e pegar no sono.
Depois - ou antes? - vieram as corridas de madrugada. Ah, as corridas de madrugada! Quase sempre, boas lembranças.
Durante algum tempo, eu não tinha autorização para ver corridas fora do horário convencional. Meus pais tinham razão: se eu começasse a desprezar a necessidade de um sono adequado desde tão cedo, eu sequer teria sido aprovado no vestibular. Minha capacidade mental deve ter diminuído algo em torno de 70% nos últimos anos graças à minha indisciplina com o horário de dormir.
Nos GPs que ocorriam de madrugada, meu pai assistia e gravava em VHS. Na manhã seguinte, eu acordava, assistia a corrida - normalmente, meu pai assistia de novo - e, se o Senna tivesse ganhado, ainda víamos o VT da Globo, logo em seguida.
Mas, no ano de 1993, recebi a autorização para assistir ao GP da Austrália, último do ano, que ocorreria sabe-se lá que hora. Muita empolgação. Senna havia vencido o GP do Japão, também transmitido de madrugada para nós aqui no Brasil. Seria sua última corrida pela McLaren e, por alguma razão, eu achava que ele venceria também.
A condição era que eu dormisse antes da corrida. Meu pai me acordaria na hora da largada. Sem problemas.
Lá pelas tantas, desperto, cheio de excitação. Nem precisaram me acordar! Olho em volta e percebo que algo deu errado. O dia já estava claro. Não assistira a corrida.
Levantei revoltado, me senti traído. Como ousaram não me acordar?
A justificativa: meu pai tentou me acordar, mas eu é que não me mexi quando ele chamou. Com pena da criança que dormia como pedra, a " Missão GP da Austrália 1993" foi abortada. E, assim, vi a última vitória de Senna por VHS.
No ano seguinte, contudo, assisti as duas corridas - naquele tempo eram só duas, mesmo - de madrugada. Japão, uma das melhores corridas de Damon Hill, que ficava, agora, a apenas um ponto de Schumacher.
E, então, veio o GP da Austrália.
Ontem - de madrugada, para variar - assisti um trecho dessa corrida. A versão que está gravada no computador tem a narração da ESPN americana. No início da transmissão, o ex-piloto Dereck Dally, que comentou a corrida para a emissora, afirmou que aquele ponto de Schumacher sobre Hill seria uma tentação para que o campeonato terminasse de forma pouco esportiva, como já havia ocorrido com Prost e Senna em 1989 e 1990.

Profético... profético.




Difícil ao ser humano resistir às tentações. Schumacher, após acertar o muro e ver o título escapar de suas mãos, atira seu bólido contra a Williams de Hill.
Lembro bem daquela madrugada. A imagem onboard na Benetton. Meu pai, na hora: "é o Schumacher!"
Terrível. De um lado, pelo caráter que falhou; de outro, pela afobação de querer decidir sem esperar a próxima freada. Pode-se culpar um e outro?
No fim das contas, foi um término apropriado para uma temporada muito sombria. E uma das primeiras de muitas madrugadas em vigília.


Um comentário:

  1. preliminarmente: o gosto pelas madrugadas está no sangue. Penso que eu tenho um pouco do sangue do Conde Vlad. Sempre disse que sou um animal de hábitos noturnos. Meus filhos estão no mesmo caminho.
    No mérito resolvi fazer um post sobre esses fatos que de vez em quando assombram a F1. Batidas propositais e outras coisitas.
    (voz gutural): I'll be back!!!!!

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