quarta-feira, 15 de maio de 2019

PALMAS

Não é clap clap.
Palmas, objeto do post, era um incipiente loteamento no bairro do Tremembé na zona norte de sampa.

Um deserto de construções mas, asfaltado.

Ou seja, o paraíso dos tresloucados de diversos calibres.

Voltando no tempo. Já contei em algum lugar que aprendi a dirigir no Jipe 1950 de Véio Mero. Três marchas à frente e câmbio seco. Ele não sabia , lógico. Eu andava no beco que servia de garagem ao lado de nossa casa na Av. Santa Inês. Ele trabalhava com o carro da firma e eu ficava indo para a frente e para trás. O beco era em desnível e um belo dia acertei a parede no final da "rua". O jipão resistiu bravamente. Mas, a parede ficou marcada para sempre. Véio Mero fingiu que não viu mas, começou a levar a chave com ele.

Passada a fase do jipão veio a Brasília azul. Morávamos então no Conjunto dos Bancários e me tornei profissional do volante. Véio Mero com a famosa Rural da firma e eu dando rolê nas Mantiqueiras da vida. Sempre botando a gasosa para o nível não chamar a atenção. Lógico que, muitos anos mais tarde, meu pai falou que sabia que eu pegava o carro. Não pelo nível de combustível mas pelo odômetro. Fiquei com aquela cara de tacho. 

Enfim, um belo dia meu pai resolveu que deveria me dar aulas de volante. Temendo que eu enfiasse a Brasília num poste qualquer. O que era plausível, por sinal.

Na época o carro "autoescola" passou a ser um fusca da firma.
Então, por vários aspectos, as aulas foram cômicas.
Meu pai ia dirigindo até as Palmas (como o bairro era então conhecido). Passava o volante para minha pessoa.
Os dois fingindo que eu não sabia porra nenhuma de direção.
Não deixava que eu engatasse a terceira. Quando acelerava muito em segunda quase esgoelando o pobre fusquinha ele dava bronca.

Normalmente as aulas eram no domingo à tarde. 
Dona Alzira ia junto, algumas vezes. Ficava tricotando no banco de trás. Literalmente.
Alguns acontecimentos.
- era sabido que as ruas mais periféricas do loteamento serviam para casais em busca do saber anatômico. Pesquisas sobre as coisas que nos equipam.
Meu pai e eu ficávamos naquela de um olho no peixe e outro no gato. Disfarçando porque era um assunto chato para nós. 
Pois bem. Um belo domingão Dona Alzira pôs-se a gritar no banco de trás "eles estão pelados, eles estão pelados". Numa altura tão elevada que o casal ouviu. Foi um constrangimento só. Para nós com uma doida no carro e para eles pegos em flagrante delito. 
Muita gente ia assistir corrida de disco voador no loteamento. À noite ou de dia.

- Certa vez havia uma encomenda do tipo galinha preta, fitas vermelhas  e garrafa de pinga. Distraído passei por cima. Olhei para Véio Mero como a encomendar a alma. O santo iria vingar-se da pior maneira possível. Sei lá. Meu pai olhou para mim, deu de ombros e falou "o santo viu que você é um barbeiro". 

- Em outra ocasião encontramos um vizinho, meu xará, com o pai dele em outro fusquinha. Ele também já sabia dirigir e passava pela mesma situação que eu. Começamos a disputar uma corrida em câmera lenta. O problema é que ele podia engatar a terceira e levou vantagem. Passou meses tirando uma de minha cara. 

- minha última lembrança de Palmas foi quando, já formado em Química, de volta para sampa e perdidão na vida, fui até o loteamento acompanhando uma turma do famoso Cedom. Minha irmã estava no segundo ou terceiro ano. Não lembro. 
Meninos. Um fumacê (como se dizia) danado. Não sei se minha irmã fumou escondido mas a garotada viajou legal. Tinha uma que literalmente viu um disco voador. Um gordinho "di menó' que andava com um dojão (o carro) ficou locão e deitou no capô da Brasilia (a branca) balbuciando filosofices embaladas pela mari juana. Ainda por cima se ofendeu quando o obriguei a sair do poleiro.  
Mais tarde minha irmã disse que ele foi preso com a namorada e o porta malas cheio de maconha.
Descobri o fornecedor.

Palmas foi um lugar muito especial para mim. Não só treinei para tirar a CNH como presenciei acontecimentos que marcaram minha vida. 
Mágico. 



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