quinta-feira, 16 de novembro de 2017

TEMPO

Comecei a ter embates com o tempo lá em Curitiba. Lembro que era fim de ano e estava puto com Papai Noel que insistia em não trazer uma bicicleta nova, adequada para meu tamanho. Eu usava uma que era de meu avô paterno. Italiana legítima porém, enorme. Tinha que pedalar por dentro do quadro sem usar o selim. Coisa de circo. Era também, dia 31 de janeiro, aniversário de meu irmão.
Alguém deve ter falado algo sobre o ano que agonizava. Então, na minha cabeça, a passagem de ano significa que um ano se passou. Mesmo que o evento tenha ocorrido uma semana antes. 
Lembro, nesta relação com o tempo, quando completei nove anos. Lá em Curitiba. Uma vizinha minha, mais velha uns dez anos, me abraçou no quintal de casa e disse "daqui a nove anos você vai ter dezoito!" Em tom de ameaça. Ou seja, naquele tempo era a maioridade chegando. Se cuida moleque! Tamu de zóio. Ou era um xaveco. O lindão derrubando corações desde os nove anos (ah ah)
Bom, o tempo (rá) passou e fui descobrindo coisas sobre. Por exemplo, o espanto ao descobrir que tinha memória de dez anos antes. Hoje, orgulhosamente, tenho memórias de uns 58 anos antes. 
Descobri que não temos um botão de "faster" ao enfrentarmos situações desagradáveis. Uma DR seria menos dolorida. Melhor dizendo, descobri que o botão não existe mas, um método paliativo sim.
Recentemente fiz uma via crucis. Percorri vários consultórios médicos, laboratórios de análise clínica os mais variados. Ora acompanhado de Valéria, ora de Mariana (nossa expert em diagnósticos). Ali, sentado na cadeira do horror, sendo lembrado que não cumpri minha parte, punha-me a pensar que dali a pouco estaria livre daquilo tudo. Meu corpo reagiu deletando metade (ou quase tudo) desses encontros. Lembro bem que liberaram minha viagem de férias. O resto.....
Valéria e Mariana lembram.
No retorno, a intervenção "siderúrgica" e outra vez o botão invisível "faster". Na dolorida recuperação o pensamento para que os dias passem rápido. E, os dias de 24 horas passaram rápido. Ainda em recuperação mas, sem dor. E, mais obrigações médicas futuras. Juro que não lembro quais são. Botão "faster" em ação. Mas, Valéria e Mariana sabem.
Em tempo.
Todos assistimos um filme em que alguém desperta em cama de hospital com a cena clássica: tela escura que vai clareando e pessoas em volta. Alguém sempre pergunta "tudo bem"? 
Pois é assim na vida real. Aconteceu comigo. Lembro até da resposta em face da pergunta. Um gemido: "dor!" 

Nenhum comentário:

Postar um comentário