sábado, 11 de fevereiro de 2012

PEIXINHOS NEGROS

A familia em férias vinha feliz pela rua onde se hospedava na praia quando uma poça d’água chamou a minha atenção.
O que vi nadando na água da chuva que empoçou junto ao meio fio provocou em mim um calafrio e fui arremessado de volta à minha infância lá em Curitiba.
Vejam o vídeo desses lindos peixinhos pretos nadando alegremente.
Quando morei em Curitiba, a capital mais fria deste maluco país, tinha como atividade aquática brincar, como já disse, em enchentes como também em um riozinho próximo e num córrego que passava bem em frente minha casa entre outras maluquices de criança.
O tal córrego era na verdade um quase esgoto a céu aberto, como fui informado algum tempo depois pela dona Alzira, preocupada que estava com a saúde do filho pentelho.
Sempre digo que Curitiba se transformou em exemplo de urbanidade para o resto do país porque tudo precisava ser feito. Bem mais fácil do que destruir e reconstruir canalizações e ruas.
Eu morava praticamente no centro da cidade com o esgoto fazendo parte das minhas brincadeiras cotidianas. Fico imaginando como não morri de uma infecção qualquer.
Os piás (como os moleques eram chamados lá em Curitiba) costumavam brincar no rio que passava logo após o final da rua.
Hoje a rua Emilio de Menezes, onde morava, tem uma continuação e o riozinho continua lá todo estropiado mezzo canalizado mezzo a céu aberto.
Eu ia com os outros desbravadores pegar peixinhos, lambaris pulguentos, para colocar em aquários mambembes onde acabavam morrendo pelos “bons” cuidados que recebiam.
Um belo dia voltamos do rio com um monte de pobres peixinhos que caíram em nossa rede. Entre eles alguns interessantes peixinhos pretos.
Peguei minha parte e coloquei num aquário desses redondos sem logística alguma.
Alguns dias depois reparei que os pretinhos tinham saliências, uma de cada lado, junto à cauda.
Com o passar dos dias as saliências aumentavam e comecei a imaginar que eram patinhas. Chamei o sábio da família, véio Mero, que vendo a mutação dos pretinhos quase defecou de tanto rir.
Explicou sucintamente que o mané pescou girinos e que eles iriam se transformar em sapos.
As saliências eram as patas traseiras ganhando forma.
Disse todos os dois palavrões que conhecia na época e joguei o aquário e seu conteúdo no córrego em frente de casa.
Foi tão traumatizante que nunca mais freqüentei o riozinho e seus segredos molhados.
Enfim, eu vivia cercado de sapos e “sapas”.
Nosso bairro era o paraíso desses bichos feiosos e, dizem, ameaçados de extinção.
Estavam em toda parte. Nas ruas, jardins, nos porões, escondidos atrás de moitas e etc.
Alguns, juro, batiam à porta das casas. Penso que queriam pedir xícaras de açúcar emprestadas aos vizinhos. Na verdade, as luzes colocadas na soleira atraíam insetos que atraíam sapos em busca de comida. De vez em quando pulavam e batiam a cabeça na porta.
Por falar em luzes, uma de minhas travessuras prediletas era sair à noite e fazer xixi na horta mantida pelo meu pai.
Verdade!
Por isso até hoje evito comer alface. Sei lá com qual tipo de água foram regadas.
Essa arte de regar a horta tinha que ser feita com as luzes apagadas para evitar castigos daqueles que não entendiam a supimpa elevação cósmica em regar hortas com urina. É um ciclo divino. O que vem da terra alimenta o homem que devolve parte do alimento em forma líquida.
Bom, de vez em quando, sem enxergar patavina, eu tropeçava nesses montes gélidos e saltitantes que são os sapos. Minha força de vontade em manter a horta regada tinha que ser muito forte.
Finalizando. Sapo é um ser que se alimenta de insetos, não é mesmo?
Então, gostaria que explicassem por que o mundo anda cheio de insetos como os que atazanaram nossa vida nessas férias. Os pais desses girinos do vídeo não estão fazendo um bom trabalho.
Pela quantidade dos filhinhos estão mais preocupados em manter a espécie do que em cumprir seu papel.
Tem mais. Observem um sapo. Notem o ar irônico que ele sempre sustenta. Alguns parecem a Mona Lisa com aquele risinho que precede o peidinho.
Como sou adepto da teoria da conspiração tenho certeza que são descendentes daqueles lá de Curitiba, parte de uma irmandade secreta que tem a finalidade de me perseguir com seus risinhos irônicos.

Um comentário:

  1. Adoro bichinhos, mas com todo o respeito esses dai parecem espermatzoides
    Pelo jeito Curitiba nao foi muito legal com nenhum de nos, doutor. Alias, comigo o pior problema aconteceu mesmo foi no F1 de la. Imagine se nao lembrei dos Onofris.
    E o "bom" e que - segundo meu tio - la so tem tres estacoes: Rodoviaria, Ferroviaria e Inverno. So sapo mesmo...

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