sábado, 27 de junho de 2020

SOTAQUES

Passei por várias situações em que o sotaque linguístico afetou minha existência.
Quando contava com uns quatro anos fui para Curitiba com sotaque daqui. De Rib's.
Que não é caipira, como pensam. Normal, diria.

Lá na capital do Paraná assimilei o sotaque sulista. Que, por sinal, é muito bonito. Por causa das palavras que saem "cantadas". Fora as gírias regionais. Eu, por exemplo, era um piá.
Enfim, fomos para sampa em 1966.
Foi um desses anos para esquecer. Apesar de irmos no começo do ano o trauma foi inesquecível.
Novos ares, novos "amigos", novos sotaques, novos costumes. Nova escola. Repeti de ano.  Detestei tudo aquilo e meu sonho era voltar para Curitiba.
Sonho que nunca se concretizou.
Meus novos amigos eram os mesmos que exerciam o que hoje é conhecido como bullying. Na verdade ninguém era amigo de ninguém. Uma selva.
E, para piorar, o sotaque sulista.
Eu era tímido para carai. Alguns professores adoravam que eu falasse qualquer coisa como exemplo do sotaque do sul.
Puta que la merda.

Não lembro muito bem mas, com o tempo, perdi o sotaque do sul e não assimilei o paulistano. Então, não falava como minhas primas da capital "einteinde"?

Aprendi, com tudo, a admirar os diversos sotaques desta terra brasilis e a fala regional que exerce um fascínio para aqueles que entendem o tamanho do país (e, a encrenca em que nos metemos).

Bom, séculos depois, realizei o desejo de conhecer Portugal. Mais precisamente o lugar de partida das caravelas desbravadoras dos campos e tempos virginais do mundão véio. A torre de Belém.
Tem um post apocalíptico sobre em algum lugar por aí. Fiquei locão com o lugar. Descobri que, em outras vidas, fui um mísero marinheiro que morreu num naufrágio antes mesmo de alcançar o mar.

Mas, o que interessa é que estava só com a rainha da mansão. E, sabia, que a língua seria um problema.
Sim, pensam vocês. Que língua fala este cara?
Português......

Mas, e o sotaque? E, as gírias? E, etc.?
Tudo começou em Porto e uma visita à uma vinícola. O rapá que nos guiou falava uma língua que não entendia. E, não tinha bebido nada. Num certo momento dirigiu uma piada à minha pessoa. Todos riram. Até a rainha da mansão. Eu, não entendi nada. Mas, ri. E, anotei numa caderneta mental, a encomenda da morte daquele sujeito. Brincadeira.

Muito chato ter que pedir para a pessoa falar pausadamente para entender o que ela diz.
De toda sorte o sotaque e a velocidade da fala torna-se uma identidade regional.

Para encerrar. Na faculdade de Direito havia um aluno mais velho que a média e formado em Filosofia. Ele tinha um sotaque do sul da Bahia, segundo ele. Nunca tinha ouvido nada parecido. Quando ficava nervoso a coisa piorava. Ele falava, fazendo uma comparação, como aqueles bêbados que tropeçam e vão "trupicando" até cair. Ninguém entendia nada.
Fico imaginando uma sustentação oral dele.






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