sexta-feira, 19 de junho de 2009

It's the end of the world as we know it (and I don't feel that fine)


Quando criança, brincar de "vamos ver quem chega primeiro", "vamos ver quem corre mais rápido", é algo absolutamente corriqueiro.
Os meninos e meninas crescem, e muitas vezes não mudam de brincadeira: mudam apenas o brinquedo.
Quer dizer, se na infância contávamos apenas com nossas pernas para irmos o mais rápido que podíamos, conforme crescemos, passamos a contar com carrinhos de rolemã, autoramas, bicicletas, às vezes só com as mesmas pernas, só que maiores.
Alguns passam a não mais simplesmente brincar, mas fazem de sua vida um sem número de "vamos ver quem chega primeiro", sendo remunerados para tanto. O brinquedo, nesse caso, passa a ser muito mais caro que as rodinhas e a madeira do rolemã, e há necessidade de uma cadeia intrincada de investimentos para que se proporcione à criança crescida a possibilidade de brincar.
Pois bem. Muitas das crianças crescidas, por sua vez, não vão brincar desse jeito mais caro, e contentam-se em assistir a brincadeira dos outros. É o que acontece com quem acompanha as mais diversas categorias do automobilismo, entre elas a Fórmula-1.
Os carros são absurdamente caros, os pilotos recebem milhões, cada equipe conta com fábrica própria e um exército de técnicos, mecânicos, engenheiros, faxineiros, profissionais de todas as espécies. Além, é claro, de orçamentos astronômicos, captados de tudo quanto é lugar, para fazer funcionar tudo essa estrutura.
É claro também que, na lógica do modo de produção capitalista, ninguém põe dinheiro em nada, se não for para receber mais dinheiro de volta. Não deixa de ser assim nessa brincadeira de ver quem chega primeiro.
Na briga entre FOTA x FIA, que me parece mais propriamente uma briga entre FOTA e Max Mosley, não sei quem tem razão. Acho que ambos os lados têm suas razões, ambas sustentáveis. Todavia, uma coisa é certa: há muito tempo a preocupação principal da Fórmula-1 deixou de ser o esporte e passou a ser o negócio. Como bem disse o próprio Max Mosley, uma categoria que conta com participantes para quem o esporte não é um fim, mas um meio para lucrar mais com seus negócios principais, é, certamente, uma categoria instável.
Eu não sei como será o novo campeonato paralelo. Não sei se vai prestar, se vai ter grid cheio, aliás, até as eleições para a presidência da FIA, não podemos dizer nem se ela vai existir. Mas uma coisa é certa: a Ferrari mandou na Fórmula-1 pelo menos ao longo dos últimos 11 anos; perderam o trono e racharam para criar uma nova categoria. Quem se arrisca a dizer como será o regulamento técnico dela, hein? Motores e câmbio padrão, fornecidos pelo italianos, centralinas padrão desenvolvidas pela McLaren... enfim...
Não acho que seja o fim da Fórmula-1. Pergunto: quantas das equipes que abandonaram o barco na última quinta-feira estavam no grid da primeira corrida, em Silverstone, em 1950? Nenhuma delas. A Ferrari só entraria no GP seguinte, em Mônaco. Oras, se criaram uma categoria sem a Ferrari, pode-se, do mesmo modo, continuar a mesma categoria sem a Ferrari.
É claro que não é a mesma situação, o peso da tradição e da história agora falam bastante alto. Além, obviamente, dos investimentos e lucros que a presença da Ferrari traz à Fórmula-1. O problema é que a Ferrari levou quase todo mundo consigo, deixando a Fórmula-1 desacreditada e praticamente sem possibilidades de preencher o grid para o ano que vem. Há notícias de que muitas das equipes que se alistaram para 2010 já estão revendo suas posições e cancelando as respectivas inscrições, em vista da instabilidade atual da categoria.
Creio que os diregentes, mais do que esquecer do esporte em si, privilegiando o negócio, esqueceram-se também daqueles que são a verdadeira razão da existência da categoria, que são seus amantes. Não existiria Fórmula-1 sem audiência, sem pessoas que consomem Fórmula-1, que vão aos autódromos mesmo desembolsando uma grana razoável não recebendo em contrapartida as acamodações proporcionais ao preço, no caso do Brasil.
Seja como for, não sei se faz tanta diferença assim existir ou não Fórmula-1 ou qualquer outra coisa semelhante. Afinal de contas, nós só assistimos para ver quem completa 305 km em menos tempo, como fazemos desde crianças, e esse princípio absoluto do automobilismo - percorrer certa distância, seja ela qual for, no menor tempo possível - é algo completamente imutável.

Um comentário:

  1. Pois é!
    Saudosista que sou acho que é hora de voltarmos ao simplezinho.
    Regulamento menos engessado, por ex.
    Motores com giros livres e sem a obrigatoriedade da parada nos boxes.
    E, etc.
    A F1 de hoje é um saco. Tudo bonitinho, limpinho, sem emoção verdadeira.
    Onde já se viu decidir corrida nas paradas de boxe?
    Tinha que ser na pista.
    Certo?

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