quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

VIVENDO "PEREGOSAMENTE" - A MISSÃO

Como dito no post anterior, fizemos um tour pelas minhas memórias do centro de Rib's. Ao passar em frente ao café Única lembrei de outra história.
Corria o ano de 1976. A coisa aqui no universo tupiniquim andava braba. Ditadura corrento solta.
O ditador de plantão, tio Geisel, fez uma visita na cidade que completava 120 anos.
A cidade faz aniversário em 19 de junho.
Mas, o home veio em 18 de junho de 1976.
Dia do Químico....
Eu, de olho na hoje rainha da mansão, resolvi comprar um mimo para ela em comemoração ao dia do que um dia iríamos ser, já que em 1976 cursávamos o primeiro ano.
Até aí destilação do bagaço de cana dá pinga. Entre outras coisas, claro.
Acontece que os tempos eram sombrios e a visita do home exigia uma logística doida. Ou seja, todo o centro foi fechado ao trânsito e havia soldados por todo canto. Inclusive com binóculos e fuzis no topo de vários edifícios. Tudo porque o "presidente" resolveu tomar um café na Única que ainda existe no centro da cidade na esquina oposta ao Pinguim 1 (que não existe mais, lembrem-se).
A Única era (ou é) a casa mais tradicional para um cafezinho antes de começar o dia, ou ao longo, ou ao anoitecer, ou sei lá. Alguns corretores de qualquer coisa começavam seus negócios encostando a barriga no balcão, tomando um café e dirigindo-se até a frente do Pedrão (ou Teatro Pedro II) no quarteirão seguinte para fechar grandes negócios (ou pequenos).
Pois na manhã da visita este desavisado rapaz foi comprar o mimo (uma caixinha de música) em uma loja no meio do quarteirão seguinte à Única. Quando dei por mim, havia um monte de gente verde oliva circulando, me encarando (eu, depois do trote, já estava barbudo e cabeludo) e alucinando minhas paranóias. Pensei em correr (e levar uns tiros na bunda como aconteceu com um amigo meu em sampa. Ele tinha uns quatorze anos e de terrorista não tinha nada. Só correu de medo quando a repra entrou a padaria em que ele estava), em sorrir (e ser preso por tentar disfarçar um atentado ou algo assim), em gritar "viva o home" (e ser preso por subversão. Ninguém em sã consciência gritaria deste jeito em favor do ditador), e outras maluquices mais.
Porém, consegui cumprir minha missão. Comprei o mimo e sobrevivi. 
Lógico que fiquei com certa dor por não dar minha contribuição e berrar "abaixo a ditadura" no meio da rua.
Mas, ficou a história a ser contada aos filhos e daqui a pouco ao neto. 
Em tempo. Naquele tempo a Única não tinha cadeiras (um charme). Hoje tem cadeiras ao longo do balcão. Heresia, heresia.



cadeiras na única!

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