sábado, 23 de maio de 2020

DO FUNDO DAS LEMBRANÇAS

Pois é Tanto falei que, em algum lugar existiam fotos da casa de minha infância em Curitiba que resolvi fuçar nos arquivos para encontrá-los.
E, hoje em dia, arquivos de fotos significam dos mais variados tipos. Em papel, JPG guardados em cd/dvd, em HDs externos, pen drives e tudo o mais. Tudo espalhado em lugares mais remotos possíveis. Outro dia encontrei um pen drive na minha gaveta de cuecas. Pensei que fosse um pornô drive (escondido) mas, era de música.
No caso estas fotos, em papel, estavam num "baú" no armário do quarto. Pesadíssimo com zilhões de fotos.
Enfim, em meio a tantas fotos com tantas lembranças encontrei estas que fazem parte do post. 
São de 2004 quando o clã foi até Floripa passando por Curitiba.
São aquelas do dia em que (já relatei) o chefe do blog me encontrou pirado na batatinha quarteirões distante.

Vamos lá.


Aqui é o que restou da fábrica de pão onde Véio Mero trabalhava. Não sei o que significa este pedaço de carro em frente. No lado direito o escritório. 
Engraçado que, nas minhas lembranças, a fábrica parecia muito maior. Tanto que era uma fábrica alimentando várias padarias no cento da cidade.
Pelo que entendi, nos relatos de meu pai, o dono morreu e os herdeiros perderam tudo.
E, os pichadores tomaram conta.


O mesmo local em 2019.



Por incrível que pareça esta casa não mudou nada em tantos anos. Estava assim em 2004. Apenas o muro foi acrescentado. Nela moravam três irmãos, duas mulheres e um homem, que fugiram da segunda guerra, segundo a lenda. Eles eram absolutamente antissociais. Quando a molecada fazia algazarra na rua surgiam em uma das janelas xingando em uma língua que parecia alemão. O irmão adorava pegar passarinhos em armadilha e arrancar a cabeça dos mesmos na janela ante os meninos pasmos. 
Lindinhos.



A mesma casa em 2019. Meninos, os irmãos estão vivos! Basta Tirar o mato da frente e a casa está lá, toda tenebrosa.

E, finalmente:




Esta casa é exatamente, em 2004, igual àquela que morei até 1966.

E, novamente digo que nas memórias ela parecia maior. Principalmente o alpendre onde está o "simpático" cachorro. Uma vez levei um puta tombo saindo da porta batendo o quengo no chão. Foi tão forte que senti um gosto estranho na boca e pensei que ia encontrar Jesus (naquele tempo acreditava nele). Dona Alzira foi culpada porque estava encerando o chão. Sim, passando cera. Eu não percebi e saí com tudo. Lembro que havia uma certa névoa encobrindo minha visão quando ouvi minha mãe berrando por não tomar cuidado. E, penso eu, me recobrei porque buscava uma explicação para o afobamento. Foi o que me salvou, eh eh. Lógico que dona Alzira preocupou-se quando percebeu o estado em que seu primogênito se encontrava. Muitos berros e água na cara para curar o rebento.
O episódio da salsicha incendiária ocorreu no quarto com janela dando para o alpendre. Se notarem, na lateral da casa, o porão que nos levava para mundos paralelos. 



Em 2019, uma série de "lodjinhas" tomou o lugar da vilinha. 




Para encerrar. A rua Henrique Itiberê da Cunha conserva os paralelepípedos até hoje. Vejam que atualmente o asfalto da rua Emílio de Menezes termina no calçamento. No meu tempo de moleque a Emílio era de terra sem saneamento algum. Significava que a água da chuva desembestava rua abaixo desaguando na Itiberê levando todo tipo de lixo. Desde garrafas de vidro até ratos mortos por afogamento. E, lógico, sapos. Muitos sapos. Eram pegos desprevenidos batendo papo fora do córrego/esgoto. Em frente ao carro branco a única boca lobo da área. Ou seja, festa da petizada na água de enchente  Para desespero das mães. Quando a boca de lobo não entupia por conta própria a gente se encarregava de enchê-la com lixo para criar a piscina dos pobres. E, tome guerra de água e lixo que boiava.
Não sei como sobrevivi mas, cortei os pés várias vezes nesta festança.

Hoje, véião, percebo que a memória afetiva vence a memória realidade. Até as lembranças funestas são transformadas em lembranças festivas. Passamos poucas e boas nesta época. Longe de tudo quanto era parente a família cresceu com dois rebentos orgulhosamente nascidos em Curitiba. Imagino o que Dona Alzira (a Ziri Yonara) passou juntamente com véio Mero para dar conta da crescente família. 
E, de qualquer sorte a vida seguiu. 
Mas, até hoje centenas de anos depois, gosto de dizer que um dia volto para Curitiba de minha infância.


Um comentário:

  1. Devo já ter te contado que uma das minhas neuras tratadas na terapia, é, ou era (não estou certa), de que só seria feliz se voltasse pra Curitiba. :)
    Esse maledeto alpendre que fez mãe cair de bunda e não conseguir levantar sozinha? Foi quando o Cádio teve que ir chamar o pai na fábrica, com um guarda-chuva gigante, e chegando lá só disse: a mãe caiu. Parece que foi nesse momento que descobriram que ele sabia falar. Ehehehhe

    ResponderExcluir