terça-feira, 18 de dezembro de 2012

MEMÓRIAS - 0

Recentemente tivemos mais uma edição desse jogo de cartas marcadas que são as eleições no brasil-sil-sil.
Tenho experiência o bastante para sentir um certo asco por este período em que todos os problemas de nosso país serão resolvidos por estas pessoas tão dedicadas e preocupadas com o desenvolvimento. E, são sempre os mesmos políticos.
Quando não, os filhos e outros descendentes que tentam agarrar um cargo qualquer.
Véio Mero sempre dizia, e na época eu não entendia, que "muda o encanamento e a merda é a mesma". Agora entendo.
A primeira vez que votei foi no longínquo ano de 1974 quando completei 18 aninhos. Naquela época só "de maior" votava.
A ditadura era feroz. Até o Estadão, que pendia para a direita, era censurado.
Pois eu me encantei com um cara que, no horário político, baixou o sarrafo e soltou o verbo contra a ditadura. O horário político era ao vivo, uma falha enorme da ditadura.
Candidato a senador do MDB contra Carvalho Pinto (que nome é este?) da Arena.
Era Orestes Quércia, jovem dinâmico e com culhões.
Deu no que deu.
Graças a ele e outros sugiu em 1976 a risível e ao mesmo tempo trágica Lei Falcão.
A partir dela só "santinhos" como imagem e currículos pré gravados. Os humoristas se divertiram.
Ainda em 1976 voltei para minha terra natal (Rib's) para cursar Química na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto - USP. Filô para os íntimos.
Caí de paraquedas num mundo totalmente diferente. Ainda em 1975 quando fazia cursinho presenciei algumas coisas esquisitas como um professor que demitiu-se repentinamente porque algum dedo duro entregou o cara para a "repra" (repressão para os menos iniciados) já que em sala de aula defendeu a ecologia e disse que o brasil não respeitava a dita cuja. Professor de Biologia. Defendendo a ecologia naquela época! Tem que prender!
Enfim, no inicio do curso fui escolhido "voluntário" para a direção do centrinho da Química (Cenequi, que existe até hoje). A diretoria passou a ser toda do pessoal do primeiro ano. Mais ou menos contra a nossa vontade. Principalmente pela falta de experiência. Os veteranos, porém, passaram para nós (da capital) a responsabilidade.
Aqui se faz necessária uma explicação.
O curso de Química passou em 1976 a oferecer além da formação em Licenciatura a formação em Bacharelado.
Minha turma foi a primeira do Bacharelado.
Então, o curso que abrigava somente gente de Ribeirão Preto e região, repentinamente foi invadido pelo pessoal de São Paulo e região.
Outras pessoas, outras cabeças, mas, o centrinho continuou alheio à política.
Em parte. Eu tinha uma pequena formação política graças ao véio Mero e suas imprecações famosas contra qualquer governo.
Foi só abrir a boca que o pessoal de outros centrinhos (biologia, psicologia e medicina, os mais radicais) vieram  me "doutrinar".
Basicamente queriam que o jornalzinho da Química publicasse assuntos políticos contra "o que aí está".
Eu topei. Meus pares não toparam e, depois de muitas rusgas, ganhei a antipatia de todos. De um lado o pessoal do Cenequi porque eu queria "comunizar" o jornal. De outro, os outros, que me chamavam de bunda mole por não ter força política dentro do centrinho.
A partir daí passei a ser uma espécie de fantasma dentro do centrinho. Participava das reuniões, assinava cheques (eram necessárias três assinaturas!) mas, só.
Nesta época eu estava na primavera de minha formação política. Romanticamente pensava que poderíamos mudar o rumo da história do brasil conscientizando os colegas em volta que, por seu turno, conscientizariam outras pessoas e finalmente transformaríamos o brasil num éden.
Mais para Gramsci do que para Marx.
Cedo, constataria que nada é tão simples assim.
Continuamos depois.

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