quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Fórmula-1 Literária atrás do volante

Sentar aqui, atrás do computador, e escrever que o Fisichella isso, o Badoer aquilo, o Barrichello aquilo outro, é uma tarefa fácil, que demanda, apenas, paciência e boa vontade. Agora, sentar atrás do volante de um veículo de competição e acelerar é algo realmente trabalhoso.
Pensando nisso, o F-1 Literária lançou mão de parte de seu (apertado) orçamento e enviou um representante para o Kartódromo Internacional da Granja Viana, que, aliás, não fica na Granja Viana, mesmo sabendo dos protestos da ala patriarcal do blog que certamente viriam. Afinal, onde já se viu gastar dinheiro com este tipo de coisa?
De qualquer forma, lá foram eles. Quatro "pilotos" dirigindo-se ao kartódromo, com grandes expectativas, ansiosos por colocar as mãos e pés no kart e mandar bala. Só não contavam com um dilúvio no caminho. Nosso representante, diante de tanta água, já se conformava: não iria dar para correr.
O traçado utilizado nesta semana no kartódromo é o chamado "traçado 3", com 1.140 metros de extensão. Talvez seja a variação mais rápida da pista da Granja, como se pode perceber neste vídeo:



Quando os bravos competidores se aproximaram da pista, constataram que haviam chegado antes da chuva. Haveria corrida.
Mas o céu negro e as nuvens carregadas não deixavam dúvidas de que a chuva chegaria depois, mas chegaria com certeza.
E não deu outra. Em poucos minutos, leves pingos se transformaram, mais uma vez, em dilúvio.
Naquele momento, havia uma bateria em curso. Pilotos semi-profissionais, com seus capacetes impecavelmente pintados, seus macacões e sapatilhas a prova de balas, penavam para manter o kart dentro da pista.
A chuva, no entanto, ia diminuindo e nosso representante tinha certeza de que iria correr. Tinha certeza, também, de que iria passar muita vergonha com a pista naquele estado. Era a primeira vez na Granja Viana e a primeira vez na chuva.
Mas, todo mundo passa por isso. Quem nunca ouviu aquela história do Senna? Dizia ele que sua primeira corrida no kart debaixo de chuva havia sido uma lástima de tão ruim. Então, nosso representante não precisava ficar constrangido. Teria uma estreia na chuva muito ruim, assim como o Senna teve - embora o muito ruim do Senna seja anos-luz melhor que os "muito ruins"ordinários. Quem quiser vê-lo contanto a história, basta ver este vídeo, a partir de 1min50s.
Chegada a hora da bateria, lá foram eles assistir ao sempre útil briefing, em que é ensinada a diferença entre bandeiras amarelas e azuis.
Na Granja Viana, não há sorteio de karts; os próprios pilotos podem escolher aquele que lhes parece mais simpático. Corrida no molhado, nosso representante correu para o kart nº 12. A explicação:

Senna com a Lotus nº 12 no GP de Estoril de 1985. Sua primeira vitória, sob muita água. Fonte da foto: F-1 Um outro ângulo


Nosso representante estava com medo. Todo mundo ali com macacões, luvas, capacetes e muita pose de piloto.
Então, vem o mecânico ligando kart por kart. Era o momento.
A saída dos boxes é em descida, dá em uma reta, também em descida, e uma curva à direita. A pista toda molhada - e o kart com pneus slicks - e a primeira sensação de "agora f****". O representante do nosso blog freia e vira o volante. O kart segue reto, como se nada tivesse sido feito. À direita, passa um outro piloto, já rodando na freada e indo parar na área de escape. Era o caos.
Mas, depois de algumas curvas, toda a insegurança se transforma. O prazer de pilotar começa a fazer efeito, e todo o medo dá lugar à vontade de ir cada vez mais rápido. Pilotar na chuva é uma sensação ímpar. Você acelera e a traseira vai embora; você corrige. Você vira o volante, e o kart continua indo reto; corrige-se com o acelerador. E assim vai, deslizando curva a curva. Não houve uma volta em que nosso representante não foi passear na ondulada área de escape da curva 1 do traçado e voltou pulando para a pista.
Nosso kartista, apesar dos pesares, qualificou-se em quarto, já totalmente encharcado. Passou para terceiro na largada. Avistando os dois líderes logo a frente, lembrou que estava com o kart nº 12 e foi para cima. Coração na boca, adrelina correndo nas veias e então... rodou na curva 2, sendo ultrapassado por todo mundo - ou, pelo menos, pelos que não tinham rodado também. Todavia, a situação era tão crítica que ao final da primeira volta, já estávamos em terceiro lugar de novo. E nesta posição ficamos até a bandeirada, não sem passar por umas 4 ou 5 rodadas, uma batida em um retardatário que estava virado ao contrário e muita água que subia para lavar a alma.
Um excelente fim de carnaval.

Nenhum comentário:

Postar um comentário