quinta-feira, 4 de abril de 2013

AO NÊNES COM CARINHO

A primeira vez que fui apresentado ao tempo, esse dos ponteiros do relógio, foi em Curitiba. Estava fazendo nove anos e uma vizinha me abraçou dizendo mais ou menos que dali a nove anos eu faria dezoito. "Veja só", disse ela.
Eu fiquei imaginando que raio de mágica é essa de se passarem nove anos. Eu nem tinha idéia da passagem do tempo.
Há uma época em nossas vidas que olhamos para as pessoas mais velhas que falam de tempos passados como se falassem de outro mundo. Coisas distantes. Coisas de velhos.
Certa vez, véio Mero contou uma história da década de 1940. Ele havia pulado o muro da Santa Casa, aqui em Rib's onde morava, para roubar frutas das árvores que ficavam na parte de trás do hospital. Na época ele tinha uns quinze anos e lembro que quando ouvi a história estava com uns vinte anos.
Que ironia, pensei, meu pai já teve a minha idade!
O tempo foi passando e minhas lembranças enchendo baús, memórias, fotos, histórias, lembranças que se esmaecem com o tempo. Como era mesmo o nome daquele meu desafeto da rua Djalma Forjaz? Imaginava mil formas de matá-lo. Tempos passados. Nem o nome lembro.
Semana passada tivemos uma festa surpresa para minha cunhada. Ela completou setenta anos.
No entanto, é mentira. Ela não tem setenta anos. Pode ter esta idade cronológica. Tenho em minha lembrança o primeiro dia em que a conheci e desde então sou um dos participantes da festa sem fim que ela e o Carlitão sempre proporcionaram para aqueles que os rodeiam. Dizem que Carlitão não está mais entre nós. Besteira. Nunca deixará de estar. Aqui uma singela homenagem a ele.
E, assim o tempo vai escoando e me pregando peças.
Vejam a última. No dia cinco de abril essa criança sapeca vai fazer um ano de existência. Entrou em nossas vidas de surpresa, bagunçou o meio de campo, tomou conta da sala, do quarto, dos banheiros, da cozinha e tudo o mais. Até do lixo se a gente bobear.




a ferinha quer "descobrir" a máquina fotográfica

E, então, o tempo voltou. Novamente, como aconteceu com meus filhos, estou aprendendo um mundo novo, nova linguagem, novos olhares "pedintes", novas maneiras de enganar para distrair, novas músicas pintadinhas, novas colheres para dar a comidinha, mamadeiras muito mais fáceis de preparar, fraldas descartáveis (uma grande invenção!!!),  mas, as mesmas emoções e saudades inexplicáveis ao longo do dia.

el bigodón tomando suco
Claro que temos momentos em que a exigência por atenção passa um pouco dos limites. Já até andei falando para que ele fosse ler um livro, porém, sem sucesso. Ainda mais eu o escravo preferido dele.
No entanto, temos que aproveitar. Sabemos que o tempo está correndo contra a ingenuidade do Henrique. Ele vai crescer, aprender a linguagem dos adultos, a forma e os gestos. Vai questionar o mundo em que vive. Vai escolher seu caminho. Vai sair do ninho. Vai nos deixar saudosos por um contato qualquer. Telefone, whatsup, um post no blog e etc. Já vi este filme.
Por isso, mesmo tendo curtido a infância dos meus filhos, não perco a chance de aproveitar o tempo com Henrique.

até com chupeta não deixa de ser estiloso

Vai chegar o dia em que não terei mais o tempo do relógio. Mas, olhando para trás vejo que o tempo com meus filhos e neto, um até agora, foi de felicidade plena. Valeu a pena.
Para completar, dos zilhares de filmes e fotos de Henrique este é um dos meus preferidos.
Ele percebe o eco de sua voz enquanto explora o ambiente de uma garagem de uma certa casa em uma certa praia do sul.






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