quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A luz do inverno

Interessante o que ocorre por aqui neste período curto do ano. Eu tendia a acreditar que, no Brasil, realmente não existisse inverno. Cresci em uma cidade quente como o inferno, que não tem praia nem vento. Então, fui morar em uma rua da capital paulista em que não bate sol. Quer dizer, bate sol, mas não como eu estava acostumado, aquele sol da tarde, quente, derretendo as paredes e o ânimo. Com rinocerontes.
Pior, tal rua tem vento.
O inverno tem suas mazelas. O frio, a primeira delas, acompanhado do ar seco e a inversão térmica detonando a saúde de todo mundo. Em São Paulo, a fuligem é um agravante terrível.
Em um apartamento com janelas grandes, que pouco vedam em termos de barulho ou ar, e ainda um pé direito alto, a sensação de frio é incrementada. E ainda o sol, que não derrete as paredes e o ânimo. Tenho que dormir encolhido como um tatu, embaixo de 147 cobertas.
Mas as noites de inverno não são apenas particularmente mais frias que as demais. Elas também são muito mais claras.
Logo ali, abaixo da varanda, tem uma árvore. Árvores costumam ter folhas. No primeiro inverno que passamos nesta humilde habitação, achamos que a árvore estava morta, pois todas as folhas se foram de um dia para o outro.
Uma árvore sem folhas, certamente, faz muito menos sombra. Essa é uma verdade durante o dia. Não deixa de ser, contudo, uma verdade também durante a noite.
Se você conta com as folhas da árvore para barrarem a luminosidade de um poste indiscreto, a noite de inverno será muito mais clara que a noite do verão.
Veja só:


No canto inferior esquerdo, é possível avistar o poste, só esperando, ansioso, seu momento de brilhar.


Acima, a estrela da noite, sem as folhas para fazer sombra. Talvez eu devesse ter cortinas, não?
Isso dura até o dia em que entro no quarto e percebo que está muito mais escuro do que de costume. Saio na varanda para ver se a luz do poste está queimada. Noto que as folhas estão de volta. E o inverno acabou.

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