Leio que um dos pilotos que adoramos detestar, Fernando Alonso (nosso Mimadon), sofreu um acidente ciclístico arrebentando a cara e, claro, comprometendo seu início de temporada. Por mais que digam que tudo bem vamos reconstruir a mandíbula e repor dentes e etc.
Alguns pilotos adoram bicicletas e seus perigos. Um amigão do espanhol, Mark Webber, quebrou a perna em 2008 e, em 2010 quebrou o ombro escondendo a lesão da equipe.
Bom, o pessoal que cabe numa Kombi que acompanha o blog tem conhecimento dos meus pedidos para o filho da puta do Noel lá nos anos 1960, em Curitiba. Uma bicicleta adequada ao meu tamanho. O gordo nunca atendeu meus pedidos. Dia 26 de dezembro lá ia eu olhar atrás do paiol para ver se o Noel havia atendido meu pedido. Sempre em vão. Mas, já pedalava uma bicicleta cheia de histórias.
Ela era oriundi da Itália. Aro 28 e meio. Significava um tamanho inadequado para um menino de oito anos mais ou menos. Sei que ela ficava pendurada no paiol. Esquecida pelo véio Mero que a herdou e, não sei como, levou a relíquia para Curitiba. Um belo dia resolveu que seu primogênito iria herdar e domar a "italiana". Eu não alcançava os pedais sentado no banco. Sem problemas. Véio Mero dava o embalo e eu que me virasse. 'Centos tombos depois, e várias broncas pelos fracassos, resolvi andar por dentro do quadro. Era do cacete. Mas, aprendi a andar com a relíquia.
A partir daí o paraíso. A "italiana" era mais veloz que as bicicletas de meus amigos das redondezas. Mais difícil de "pilotar". Mas, ganhava todas as corridas. Construí uma relação de fraternidade com a "grandona". Consertar pneus furados, encher de graxa seus orifícios (alguns sem necessidade) e a consolar quando riam de seu tamanho desproporcional em relação às rivais. O tempo passou e mudamos para sampa. A "italiana" ficou em Curitiba. Penso que doada para algum amigo do véio.
Em sampa, alto do Mandaqui, o buraco era mais embaixo. Como sabem morávamos numa ladeira. E, nada de bicicleta para o primogênito. Tempos bicudos, verdade. Porém, um belo dia meu irmão ganhou uma bicicleta para meu desgosto. Eu, com uns doze anos e ele com uns sete. Portanto, uma bicicleta pequena. Uma tal Monareta. Mais ou menos como na imagem abaixo.
Lógico que eu comecei a "testar" a bicicleta assim que possível. Tirei o banco traseiro e a proteção de corrente. Logo comecei a zanzar pelas redondezas com a dita. Se em Curitiba sofria bullying pelo tamanho avantajado, em sampa sofria bullying pelo tamanho reduzido da bicicleta. Ela era a menor da turma. Costumávamos andar pelo antigo caminho do famoso trem das onze. Passava paralelo à av. Santa Inês e (ó) ia até o Jaçanã. Uma aventura porque, sem os trilhos evidentemente, certos trechos eram perigosos e cheios de mato.
Mas, perigo mesmo ocorreu quando fui, sozinho, me aventurar no então incipiente conjunto dos bancários. Desci uma ladeira como se não houvesse amanhã. Não era asfaltada. Lá embaixo percebi que os freios não iriam ajudar a parar o bólido tresloucado. Quem ajudou foi um pentelho de um garoto que, de bicicleta, fez um zig quando eu também o fiz. Uma paulada federal, como se dizia. Todo ralado percebi que minhas dores iriam aumentar porque o moleque estava mais machucado que eu. E, o pessoal chegando perto querendo saber o que eu tinha aprontado. Um estranho no pedaço, ainda por cima. Sei que peguei a bicicleta, que estava quebrada, e subi a ladeira debaixo de um monte de "elogios" dirigidos à minha mãe.
Arrumei a bicicleta e risquei os bancários de minhas aventuras. Passou o tempo e lembro que a combalida Monareta entregou os pontos. Estava dando um rolê nas redondezas de casa e o quadro simplesmente quebrou. Claro, não era uma bicicleta para meu tamanho. Mesmo porque já estava meio que "fortinho".
Não lembro se houve algum drama. Meu irmão nunca ligou para a Monareta. Véio Mero provavelmente com a consciência pesada por não dar preferência ao primogênito ansioso por uma bicicleta quedou-se em silêncio.
Hoje herdei, por enquanto, a bicicleta fodona do chefe do blog. Dou umas voltas com ela defecando de medo desses motoristas malucos aqui de Rib's. E, de fato, a gente nunca esquece como se anda de bicicleta. Porque lembrei depois de uns trinta e cinco anos no "seco".