terça-feira, 4 de dezembro de 2018

BUROCRACIA

Sou do tempo em que necessitar de algum documento oficial era coisa para seguidores do Dalai Lama.
Exigências das mais difíceis, inexplicáveis e irritantes. Normalmente sem orientação ou, como hoje, tutorial para clarear os caminhos espinhosos. Tudo com autenticação em cartório, o que significava mais exigência do software paciência. 

Mais ou menos assim: a gente saía da frigideira (serviços do governo) e caía no fogo (os cartórios).

Lá em 1979 foi criado o Ministério da Desburocratização no governo do ditador João Figueiredo.
Para desburocratizar criaram um ministério com cargos, funções e o diabo a quatro. É o brasil-sil-sil.
O primeiro Ministro foi Hélio Beltão, um burocrata. 
Na minha opinião as mudanças não foram tão profundas a ponto de se criar um Ministério para facilitar, por ex, a criação de empresas e etc.

Pelo menos a autenticação em cartório de qualquer cópia necessária para a papelada em órgãos governamentais foi abolida.

Meus últimos embates tem sido, de certo modo exasperantes. Estou tentando uma certidão de tempo trabalhado para fins de aposentadoria na (in) justiça. Não que pense em parar tão cedo, menino que sou.
Mas, sabendo, devido ao meu trabalho, como funciona a máquina do INSS quanto mais cedo melhor.
Pois bem. Meu tempo trabalhado fora da (in) justiça está lá nas entranhas do CNIS (Centro Nausebundeante de Informações Sacais). O que é incrível dada a, digamos, dificuldade em registrar tantos dados.

Fui, com o pé atrás, até a agência mais próxima com agendamento via internet. Mó modernidade. Qual o quê. Passou a hora agendada, fui falar com a informação mais próxima que era o "guarda" terceirizado. Ele, com ar de enfado, explicou que o agendamento não serve para porra nenhuma. Quem chega antes é atendido antes. Simples.
Descobri, com o queixo caído, que meu tempo de professor (toc, toc, na madeira) que está todo lá não serve. O próprio órgão que cuida dessa informação disse que preciso de uma certidão da Secretaria da porra da Educação comprovando meu tempo de professor (toc, toc, na madeira).
É isso? Tem certeza? Não estou biruta?

Descobri que espernear só piora a situação. Alguns olhares de "estou te marcando, babaca" e lá fui eu atrás da prova que a Autarquia, zureta que é, reluta em aceitar.

Fui na Secretaria da porra da Educação (regional) e, ora ora ora, fui muito tem atendido. Mas, lá vem a burocracia de novo. Quem fornece a certidão é a escola onde dei aula. Virge Santa!
Encarei meus fantasmas da época e lá fui eu. A escola não mudou muito. Mais grades e um portão dentro da entrada dos professores para evitar os pais malucos que assombravam eu e meus colegas dos anos 1990 (de 95 em diante, para ser mais exato). Meninos, várias vezes assisti parentes dos mais variados (desde pais até primos) dos pentelhos partirem para a ignorância. Bastava colocar o futuro meliante para fora da classe que era briga na certa.

Nesta altura é melhor resumir. Dentre todos os documentos (inclusive certidão de casamento, se houver!) havia um tal de extrato de PIS/PASEP. Quem fornece?
O banco onde tenho conta.
Nesta altura do campeonato estava prestes a entrar na faca (como diziam antigamente) e desanimei de vez. Os médicos tiraram mais um pedaço de meu corpitcho e a vontade de zanzar de balcão em balcão.

Mas, não pensem que me livrei. Há um ano a escola manda e-mails dizendo que tenho que ir lá resolver as paradas. Respondo que vou e não vou.
Um belo dia, aproveitando uma ida ao banco pedi a porra do extrato. Agora sim.
Continuei não indo.

Pois bem. Semana passada recebi um telefonema aflito de um funcionário da porra da Secretaria dizendo que meu processo havia sido enviado para lá e que deveria comparecer para normalizar. Mamma mia. "Estou causando", pensei.
E, estava de posse de tudo o que é necessário para ..... o que mesmo?
Ah, a certidão do tempo de professor (toc, toc, na madeira).
Lá fui eu na Secretaria. Depois de rodar uns vinte minutos porque não há lugar para estacionar no entorno (Rib's é metrópole!) entrei no prédio com o software paciência no máximo.

A pessoa que me atendeu no ano passado já aposentou (hummm).
Meu processo é um processo mesmo. Com capa e recheado com aquelas folhas com palavras burocráticas que tanto conheço.
O funcionário foi solicito. Explicou que não sabia o destino do processo quando juntasse a documentação faltante. Perguntou para alguém que falou em algo como "Núcleo de Pagamento Final". Pelo menos foi o que entendi. Fiz uma brincadeira na hora errada. Herdei essa virtude do Véio Mero. Disse que tinha alguma coisa a receber. Todos olharam para mim com cara de "Cê tá loco?"

Descobri, também, que o tal processo saiu da escola, foi para esse núcleo que enviou para a secretaria que me chamou. Não desistiram de mim, por algum motivo. Agora não sabemos os finalmente.
O funcionário, tão perdido quanto eu, disse que liga assim que tiver notícias.

Já na rua me senti num conto de Franz Kafka. Não eu mas, o brasil-sil-sil.



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