sábado, 13 de janeiro de 2018

CARDOSO DA PADARIA

Sabem aquela coisa que uma história puxa outra?
Falando do famoso goleiro voador, o Barbosa, lembrei de outo ícone de minha adolescência. 
Cardoso, da padaria da esquina.
Nesta altura do campeonato já morávamos na famosa Av. Santa Inês de frente para a Rua Sargento Advíncola. Ô sôdade. Hoje, pelo "maps" vejo que tudo mudou.
O que interessa é que, do lado direito a famosa padaria do Cardoso. Hoje é "Boutique dos pães Dourados". Ah, ah ah. E mais ah ah ah.
Quem conheceu o Cardoso, antigo dono, sabe que esse nome geraria tiros para tudo quanto é lado.
Do lado esquerdo, como diria véio Mero, "tudo era mato".
Vamos lá.
Cardoso era dono da antiga padaria. Português da gema. 
E, uma espécie de mecenas do time de várzea da Santa Inês. Fornecia bolas, e parte do uniforme. Em troca era titular do time A. Sob protestos, apupos, vaias, gozações e todos os memes (já explico) possíveis. 
Cardoso era ruim de bola. Muito ruim. Mas, meio que dono do time. Então, dava ordens, escalava os "meninos" e etc.
Cardoso era desprovido do software "fair play". Tudo era ferro e fogo. 
Três episódios envolvendo a figura se destacam na parede minha memória.
O primeiro foi a presença de Pelé (o deus) na padaria do dito(!!!!). 
Pois é. 
Dona Alzira, minha mãe, entra correndo casa adentro e conta que o rei estava na padaria do Afonso.  O ano era mais ou menos 1971, logo após a inesquecível copa de 70. Quá, quá. Não acreditei. Mas, os olhos esbugalhados de minha mãe pediam uma conferência "in loco".
Atravessei a rua (ó dificuldade logística) e entrei na padaria. Meninos!
Sim. Lá estava o rei. Com duas pessoas comendo um sanduba de mortadela!
Estava gravando um filme com cenas rodadas na academia do barro branco (já comentada). Bateu uma fominha e foi mastigar um sanduba na padaria mais próxima. Quer atitude mais plebéia?
Entrei, sem voz, andei para lá e para cá. Fui até o balcão e (imaginem) comparei minha altura com o rei. Estava com uns quinze anos e um pouco mais alto que deus. Lembro direitinho que Pelé deu uma olhadinha no babaca do lado. Deus olhou para o mortal.
Resumindo. A padaria começou a lotar por causa dele. Pelé resolveu ir embora. Falou para o esbugalhado Cardoso quanto era a conta. Todos pensamos em uníssono "porra nenhuma". Sua deusa presença basta.
Mas, Cardoso cobrou. Só ele. Filho da puta torcedor do Eusébio.
O próprio rei pagou o consumo para todos que o acompanhavam. Cardoso, com essa insensibilidade ganhou nossa antipatia (quero dizer mais) para o resto da vida. 
Outra memória envolve o famoso revólver 38 do Cardoso.
Como era ruim de bola a gente encarnava nele. Bastava o dono mais odiado (por causa do episódio envolvendo o rei) da padaria receber a bola que a arquibancada/barranco vinha abaixo em "elogios" ao dito. 
Um belo domingo Cardoso se desentendeu com um torcedor. Saiu de campo (sob aplausos. Pensamos que havia desistido da carreira) foi ao vestiário e voltou com o revólver em riste. Escalou a arquibancada e enfiou a arma na cara do desafeto. Lembro que não sobrou viva alma. Só o Cardoso e o torcedor/arrependido/desculpa aí.
A turma do deixa disso perna de pau conseguiu demover o atacante em marcar o coração do comentarista para toda a eternidade. Marcar com chumbo, lógico.
Foi tenso. Nossos domingos deixaram de ser engraçados por um bom tempo.
Também por conta de três sandubas e um tanto de guaraná Cardoso virou alvo da malhação do Judas.
Na época em que todo mundo confeccionava os bonecos a serem malhados, incendiados, chutados, mutilados, mordidos, retalhados um deles foi pendurado no poste bem em frente à padaria do Cardoso. Na esquina como podem ver no "maps". O poste está lá até hoje.
Puseram cartazes aludindo ao evento pelezístico e a ganância de Cardoso. Cobrou sanduba de mortadela do rei/deus. Merece a malhação que virá. 
Lógico que o boneco foi pendurado durante a madrugada. O homem era feroz. Imaginem alguém tendo a atitude de pendurar o "Judas/Cardoso" em plena luz do dia.
Cardoso foi cardoso. Pegou o já famoso 38 e deixou à vista no balcão. Decretou "o primeiro a botar a mão no boneco, leva chumbo".
Bom, muitos diziam, aos berros, que iriam malhar o Cardoso. Aquilo durou o dia todo. A petizada, devidamente protegida, botando fogo na encrenca. O dia passou, nenhum macho teve coragem. Veio a noite, as pessoas foram embora, a padaria fechou. O dia seguinte amanheceu sem o Judas/Cardoso no poste. Diz a lenda que o "homenageado" se encarregou em sumir com o boneco. Ele jurou que não. Deve esperar até hoje, arma em riste, o corajoso se apresentar como o autor/confeccionador do Cardoso/Judas. Para, como disse na época, "encher o rabo do gajo de chumbo".
Pelo Judas acredito que o primeiro meme que tenho notícia foi envolvendo o português da padaria

Vejam aí o link da esquina famosa.



https://www.google.com.br/maps/@-23.4694488,-46.6304635,3a,75y,102.16h,86.81t/data=!3m6!1e1!3m4!1sEVXgdGiB6NpDITnw7VT4eQ!2e0!7i13312!8i6656?hl=pt-BR

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