terça-feira, 5 de janeiro de 2016

VIVENDO "PEREGOSAMENTE" - O RETORNO

A andança no centro de Rib's fez aflorar lembranças dos tempos de passeata contra a ditadura militar e o salve-se quem puder quando a repra chegava o cacete. Ou seja, sempre.
Um amigo da época não conseguiu correr o suficiente e além de umas bordoadas foi preso.
Aqui em Rib's houve um tempo em que o pau comeu feio. Até o final de 1978 muita gente sumiu, foi torturada e os scambáu.
O ano era 1976. Pegaram meu amigo e o enfiaram num fusca com mais dois "sorteados".
Dois policiais civis (sim, civis) na frente praguejando porque eram de cidades vizinhas e perdiam tempo com os caras da "medicina". Naquele tempo quando a gente dizia para o cidadão comum que estudava na USP todos diziam "ah, na Medicina", porque o curso foi pioneiro no campus, por sinal, doado por um barão do café.
Voltando, meu amigo no banco de trás com duas garotas. Para fazer graça perguntou se não deveriam ligar a sirene. Tipo pacote completo. Para sorte dele os policiais civis não estavam muito interessados em apagar alguém ou algo assim. Foi levado para uma delegacia comum, fichado e solto.
Bom, passado um tempo esse amigo chegou na república com um fusca branco. Era noite e ele propôs irmos em busca do bar perdido. Topei, entrei no carro e lá fomos nós rumo ao centro da cidade. Nota: meu amigo não tinha carta de motorista. Detalhe insignificante na visão dele.
Começamos a rodar o centro e eu falando sobre os bares que pareciam legais e ele nada de parar. Sou paranóico e logo notei que havia um opalão seguindo a gente. Comentei com ele que olhava no espelho e deu uma risadinha sem graça. 
Foi quando tive um estalo. De quem é este fusca?
Meu amigo explicou: era de um dos líderes do movimento estudantil. Havia uma reunião marcada dos cabeças das manifestações e a repra sabia do encontro e queria pegar todo mundo com uma rede só.
Então, chamaram o porra loca e propuseram a ele a voltinha gratuita. Eles, meu amigo e o líder, tinham o mesmo físico. Cabelo enrolado e baixinhos. Perguntei para ele o que eu tinha com isso?
Ora, para os caras não desconfiarem que o motorista não era o alvo nada como pegar alguém e seguir para a reunião. Ou seja, o cara queimou nossa república e euzinho. Queimou porque se estávamos sendo seguidos eles iriam pesquisar quem era o barbudo e cabeludo que foi apanhado naquela casa.
Gelei. Tá certo que todo mundo tinha motivos para andar gelado naqueles tempos mas, o negócio poderia ficar sério. Ou não.
Aliás, não ficou. Continuamos a gastar gasolina por um certo tempo. O opalão desistiu de seguir a gente. Não sei porque.
Sei que nada aconteceu em relação a este episódio e me senti participante de um grande evento.



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