quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

VIVENDO "PEREGOSAMENTE" - O RETORNO DA MISSÃO

Mais sobre os tempos setentões.
Tinha um gosto estranho para roupas. Dona Alzira (Ziri Yonara para os íntimos tamanha sua predileção por horóscopo) não explicava para o filho que, por ex., camisa preta com tecido brilhante não era para ser usada durante o dia. Eu adorava uma essas. De manga comprida ainda por cima.
Bom, quando vim para Rib's no início de 1976 era comum a realização de  assembleia estudantil. Depois de tanto tempo entendo que o movimento aqui no campus era uma verdadeira salada. Havia uma coisa em comum. Todos queríamos a volta da democracia e votar nosso destino de nação. Santa ironia, nénão? Votamos e o país está nesse lodaçal onde bandidos fazem acordos com bandidos para se manter no cargo e que se foda o resto.
Voltando, tínhamos uma série de organizações como a Libelu (liberdade e luta), ALN (Aliança Libertadora Nacional) e várias outras. A maioria não se identificava como integrante dos grupos por motivos óbvios. Mas, as faixas apareciam nos muros e no restaurante. Logo sumiam. 
A maioria das assembleias ocorria no ginásio de esportes na foto abaixo.


O prédio lateral é o restaurante, que também tem história.
Em 1976 participava, como calouro, das assembleias extasiado pela descoberta de pessoas falando abertamente sobre os malefícios da ditadura militar. Lógico, que os grupos antagonizavam entre si. Muitas vezes a reunião nem acabava porque tínhamos que voltar para as aulas e as discussões se tornavam infindas. 
Também era comum a imprensa participar. Gozado, né? Com a censura tesourando tudo jornalistas apreciam junto com fotógrafos dos jornais. Ou não.
Nesse meio normalmente compareciam os dedo duros e fotógrafos da ditadura. 
Quando pediam fotos a gente ficava de costas para a mesa onde estavam os dirigentes da reunião e o autor só tirava foto do pessoal de costas. Vez ou outra algum espertinho tirava fotos de frente (da mesa principalmente) e, descoberto, saía correndo perseguido pela turba enfurecida. Uma vez também corri. O cara entrou num fusca que o esperava e ficou tripudiando da gente. 
Bom, algumas matérias saíam nos jornais de Rib's porque tratavam de possível greve estudantil. E fotos da gente de costas.
Neste ponto entra dona Alzira e sua complacência com o filho sem noção de ridículo. Num belo dia um colega meu veio dizer que eu saí na foto sobre a assembleia. Como assim?
Eu tinha uma camisa estampada branca com faixas raiadas. Parecia o homem elétrico. Pois é. Só dava a tal camisa na foto. Mesmo em preto e branco impossível não identificar o Kojac (meu apelido logo após o trote).
Desnecessário dizer que a camisa foi para o lixo.

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