sexta-feira, 25 de maio de 2012

Fechamento

O que você responde se te perguntam onde estará em três anos? A gente sempre tem uma ideia, ainda que vaga: estarei no mesmo emprego, estarei em outro emprego, estarei fazendo vestibular, estarei na faculdade, estarei formado, estarei a dois anos de me formar. John Lennon diria que é impossível fazer planos de tão longo prazo. O ex-beatle afirmava que a vida só se planeja de semana em semana, uma de cada vez. 
Três anos podem ser muito se comparados à semana planejada do John Lennon; podem, por outro lado, ser um espaço de tempo reduzidíssimo se comparado a nossa expectativa de vida - se tirassem três anos da minha avó ela teria 90 anos e não 93 e, no fim, que diferença faria? 
Muito ou pouco tempo, dependendo sempre do referencial adotado, o fato é que três anos podem conter eventos não lhe deixarão ser a mesma pessoa pelo resto da sua vida. Nestes 36 meses é possível, por exemplo, passar incontáveis noites em claro, possuído por ansiedade, esperando que o próximo suspiro seja o último; é possível se livrar da ansiedade sem nem saber para onde ela foi. Em três anos, dá tempo de encerrar dez anos e iniciar nova vida. Dá tempo de achar que nunca mais se verá um velho amigo e perceber que amigos nunca se vão. Dá tempo de desconstruir antigos temores e edificar outros no lugar. 
Três anos é tempo suficiente para descobrir a existência dos rins e o quanto eles podem doer. É tempo suficiente para ficar triste, bem triste, a ponto de nem mais se saber que está triste. E pode-se também ficar tão, tão cansado a ponto de adoecer. 
É tempo suficiente para ler muitos livros e deixar de ler outros tantos, trabalhar como camelo e não receber nada em troca.
É possível, em três anos, experimentar ser muito sozinho - sozinho ao ponto de abraçar o travesseiro e acariciar o próprio cabelo no meio da madrugada e aprender a não ter companhia para nada. Aprende-se a tirar fotos do vazio e da ausência. 
É tempo suficiente para que te despedacem e te convençam que a culpa disso é sua mesmo. Duas ou três vezes, claro. 
É possível ver pessoas queridas adoecerem e se recuperarem. É possível dizer adeus a familiares e preservar-lhes a memória.  
Dá tempo de começar um blog, de escrever centenas de textos inúteis e convencer o seu pai a te acompanhar nesta furada. 
Dá tempo de se perder desesperadoramente e achar de novo o caminho para casa - ou, quem sabe, finalmente achar sua casa. 
Em três anos, é possível conhecer a mulher da sua vida duas vezes, primeiro num sábado, depois numa quarta-feira fantasmagórica que se converteu em 551mL de Old Speckled Hen. Há tempo suficiente para aprender que é impossível conservar a inocência, mas que é impossível viver sem ela. Há tempo suficiente para descobrir o quão saborosas podem ser as paçoquinhas - à venda por R$ 0,80 na padaria, experimentem! 
Dá tempo, também, de cumprir créditos, escrever uma centena de páginas, sustentar ideias absurdas perante uma banca e receber um novo apelido acadêmico por isso. Mas, ora, ora, isso nem é importante. Importante é olhar para trás e ver que em três anos cabem incontáveis tropeços - você topa sozinho nas imperfeições das calçadas ou, distraidamente, colocam um pezinho que te derruba -, mas que, entre cair e levantar, foi-se o melhor que se poderia ser.  



2 comentários:

  1. ALELUIA!
    O capo do blog resolveu ajudar a manter esta furada (palavras dele) boiando.
    E, voltou em grande forma.
    Lindo texto.
    Estou em uma fase em que me agarro ao tempo que passa tentando freiar a sua inexorável marcha.
    Mas, em três anos meu filho vai ser dotô e meu neto vai estar falando "vovô, quero ver desenho (ah ah ah)" e mandando no velho ranzinza.
    Bão, né?

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