sábado, 14 de abril de 2012

RUA DO CORREDOR

Qual seria, pensando no post anterior, o limite do uso de elementos tecnológicos em busca de um veículo mais veloz que outro independentemente da condução?
Essa discussão vai longe.
E, para trás. Pensem num carro simplizinho. Chassi e motor.
Nem câmbio possui. É tão singelo que o peso do piloto influi no desempenho.
O Kart, lógico.
Um belo e relativamente barato meio de se divertir.
Mas, será que mesmo num veículo tão rudimentar os pilotos e suas “equipes” não busquem avanços tecnológicos para melhoria de desempenho?
Emagrecer por exemplo?
Todas estas ponderações remetem a essa rua paralela à gloriosa Djalma Forjaz de minha infância quase juventude.
Dá para notar que é um ladeirão. O nome é Merope Dantas Magalhães.
Para minha turma de velozes malucos “a rua do Corredor”.
Ela, nos anos sessenta, já era asfaltada e um palco desafiador para a meninada amante de fortes emoções.
Grandes embates com carrinhos de rolimãs aconteciam diariamente neste local.
Começávamos a descer neste ponto da rua, da imagem chupada do Google Earth, em frente à casa de um amigo nosso que servia de oficina mecânica. Notem que lá embaixo existe uma construção. No meu tempo era uma fabriquinha de bexigas de gás. Na verdade, ou a gente dava um jeito de parar antes, ou iríamos ajudar o pessoal a estourar bexigas.
Tem um evento dantesco envolvendo um caminhão desgovernado e a destruição de parte da fabriquinha. Mas, não vou sacudir estas dolorosas lembranças.
Enfim, a turma se reunia com seus patinetes, carrinhos de rolimã, patins (!) e muita coragem.
Meus preferidos eram os carrinhos de rolimãs.
Rolimã é o rolamento das rodas dos carros dispensados pelas oficinas mecânicas. A construção começava com uma peregrinação no bairro em busca de rolimã decente. Pronto, um a zero para a tecnologia.
Diferente do Kart quanto mais pesado o carrinho maior a velocidade final. Portanto, madeira pesada. Dois a zero.
Eu, meio gordinho, levava vantagem. Três a zero.
Lembro que alguns mais sofisticados levavam tijolos (sim, tijolos!) como lastro. No meio das pernas. Meninos, imaginem um carrinho de rolimã desembestado com um doido sentado quase em cima de tijolos. Quatro a zero.
Bom, na busca pela velocidade maior alguma tecnologia de ponta era usada. Muito comum usarmos óleo de cozinha, surrupiada da cozinha da mãe, nos rolimãs para assegurar um menor atrito. Graxa de sapato também era usada, mas sujava tudo em volta. De qualquer maneira, cinco a zero.
Parar o carrinho era algo em que a gente não pensava muito. Lembro que a primeira vez que desci, num carrinho emprestado, o freio saiu fora. Era um pedaço de madeira pregado na prancha. Quando resolvi parar fiquei na mão e sem chinelos “abaianas” uma vez que só restou usar a sola dos pés como freio de emergência.
Nós marcávamos o chão no fim da ladeira com uma risca de giz. Ali era a linha de chegada e depois dela o caos. Muito comum a gente ir parar no muro da fabriquinha. Os mais habilidosos davam um cavalo de pau como tentativa em parar o bólido. Lógico que, normalmente, o resultado era carrinho para um lado e alguém de traseiro ralado de outro.
As baterias eram do tipo quem conseguir chegar a tempo. Ou seja, descíamos e subíamos a rua levando os carrinhos para nova corrida. Daí era sentar e começar tudo de novo. Não havia um Berne Aquimoney a organizar a competição.
Agora as corridas. Emparelhávamos os carrinhos e alguém gritava qualquer coisa. No começo da descida todo mundo usava as mãos para dar maior velocidade. Quem estava na frente e amarelava freando antes acabava acertado por outro mais veloz e sem noção.
Nestas ocasiões uns desviavam dos outros, que batiam na guia da rua, que caíam dos carrinhos, que eram atropelados e etc.
Apesar de tudo lembro só de um osso quebrado de um competidor menos afortunado.
Lembro também da mãe dele parecendo galinha esganiçada xingando todo mundo. Coisas de competição, oras!
Agora a cereja do bolo.
Como arma tecnológica, e seis a zero, havia o efeito Dick Vigarista.
Jogar o carrinho para cima de adversários, esticar a perna e empurrar o concorrente eram coisas normais.
Agora, tínhamos um concorrente com um quesito a mais e sete a zero só para ele. O grito.
O cara descia fazendo de tudo e como arma secreta berrava na orelha dos outros. Coisas como matar a mãe, dúvidas sobre a masculinidade alheia e principalmente o berro puro. Feito ambulância rouca.
Nem preciso dizer quem é o Dick Vigarista da rua do Corredor, né?
Sim, César Locão.
Quando relembro essas heróicas épocas de minha quase juventude concluo que não tinha muito juízo. Não tanto quanto penso que tinha e espalho aqui pela mansão.
Mas, dá uma saudade danada desses tempos.



Um comentário:

  1. Rachei de rir. O senhor devia lancar um livro.

    Mas senti um certo preconceito em relacao aos patins! Humpf!

    Alias esse Locao ai devia ser meio Kiko do Chaves http://www.youtube.com/watch?v=jr-W3ma9aBc

    ResponderExcluir