sábado, 23 de dezembro de 2017

"LINHA"

Senta que lá vem história.
Quando cursava Química, lá nos anos 70 do século passado (meninos, tô véio) algumas coisas nos assombravam além da ditadura militar e o descobrimento da liberdade de costumes para quem deixava a cidade natal convivendo em repúblicas.
Indo direto ao ponto, a postura dos professores era algo a ser desvendado com todo cuidado. Uma fala ou posição ideológica além do contexto a que o dito defendia poderia trazer problemas para todo o restante do curso. Já falei que era, ridiculamente, considerado da "esquerda festiva".
Mas, o post é sobre algo mais básico, ou seja a educação.
Alguns professores eram educados, vamos assim dizer. Outros verdadeiros seres saídos de alguma estrebaria.
Quando íamos começar uma matéria perguntávamos para os veteranos (os confiáveis) sobre o comportamento a adotar para não melindrar a "coisa".
Certa vez, creio que cursávamos o segundo ano, um dos considerados oriundos da estrebaria voltou da Inglaterra com o término, prematuro, da bolsa de estudos que todos, em certo momento, eram agraciados para o aprimoramento de seus conhecimentos.
Nunca tivemos aula com ele. 
Neste ponto, uma explicação. Lógico que não havia celulares naquele tempo. Se algum familiar quisesse falar com alunos, ou algo assim, deveria ligar para a secretaria e contar com boa vontade de um dos funcionários para "caçar" o procurado. Na Química existiam poucas linhas externas no prédio antigo (o do IML). Para o uso era necessário pegar o gancho, esperar a telefonista atender e pedir, encarecidamente, a liberação de uma linha. Fornecido o nome, se aluno, a resposta inevitável era a ocupação de todas as linhas externas. Então tá. 
Este professor, com a educação estrebateriana recebida, levantava o fone e quando a telefonista falava "alô" ele simplesmente vociferava com voz gutural de um Darth Vader ao descobrir que não daria tempo de tirar a armadura para a explosão de fezes que se aproximava: "linha!!"
E, a linha se materializava.
Um belo dia uma colega precisava falar na cidade e estava com medo de pedir a linha e ser maltratada pela "educada" telefonista.
Não tive dúvidas. Peguei o telefone e ao "alô" imitei o Darth Vader cagado: "linha!"
Voilá.
Virei o sumo sacerdote dos precisados de linha telefônica.
Lógico que tudo o que é bom dura pouco. Um belo dia a telefonista invocou com o professor estrebariano que tanto telefonava e perguntou "quem está pedindo linha?"
Desliguei o telefone e o personagem.
Mas, fiz história. Pelo menos para minha biografia. 






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