terça-feira, 12 de abril de 2016

PRAIA PAULISTANA

O aeroporto de Congonhas está completando 80 anos de vida.
Sempre polêmico mas, presente no coração (hoje) de sampa. Literal, uma vez que a cidade cresceu e o englobou e espiritual porque acaba por fazer parte da história emotiva da cidade.
Tenho algumas coisas antigas também a lembrar. Na década de 60 havia a chamada prainha onde o paulistano passava as tardes de domingo vendo avião subir e descer. Todo o resto do planeta (que exagero!) tirava sarro (expressão da época) dos cidadãos. Principalmente os cariocas e suas praias de verdade.
Meu pai, depois de muito mimimi acabava atravessando a cidade para levar a gente para apreciar os mais pesados que o ar. Em verdade, avião não era novidade, uma vez que a molecada do bairro frequentava o campo de Marte. Mas, os que desciam em Congonhas eram, literalmente, de maior peso.

a praia
Na foto vemos que o observatório realmente enchia. Era uma disputa ombro a ombro, cotovelo a barriga, joelho a saco para poder enxergar os possantes.
Uma vez tive a felicidade de ver um Boeing 707 alçar voo. 

não tenho certeza se a foto foi tirada em Congonhas
Era um barulho infernal. Suas quatro turbinas tinham abafadores mirins e os ouvidos doíam quando subia aos céus.
Tenho outra história legal que não canso de repetir para os incautos parentes. Quando cursava o colegial no famoso CEDOM um professor, do nada, veio dizendo que conseguiu uma visita da turma na AFA (Academia da Força Aérea) em Pirassununga. Num C-47, que é a versão militar do DC-3. Do Correio Aéreo Nacional.
Ninguém acreditou muito mas, era vero. Véio Mero ficou puto porque teve que me deixar seis de la matina em Congonhas antes de ir trabalhar. Lembrando que ele entrava seis horas da manhã. Ou seja, chegou atrasado.
Enfim, na foto um exemplar com a porta dupla aberta.
a famosa porta
Eu adoro contar que a porta do avião que nos levou até Pirassununga tinha um defeito. Não havia trinco. Era um avião, digamos, veterano. Um dos tripulantes da Aeronátuca (era a Força Aérea Brasileira que fazia o transporte dos correios) amarrava a porta com arame. E, abria com um alicate monstruoso.
A porta foi e voltou raspando  lâmina com lâmina. Parecia que ia cair a qualquer momento. 
Lógico que a gente adorou. Uns vinte alunos, o professor e uma professora rebelde (mulher não era convidada, não me perguntem porque). Como um avião desses não voa alto nem rápido, já que equipado com dois motores a pistão que mais faziam barulho que força, corríamos de um lado para outro disputando a janela. Ele acompanhou a rodovia Anhanguera numa altura que dava para ver os veículos lá embaixo. Num determinado momento um dos tripulantes veio pedir para que a gente sentasse porque estávamos desequilibrando a aeronave. Como todo mundo riu não acreditando numa coisa daquelas, tivemos uma aula de aviação e navegação pelos ares que lembra muito navegar por um rio.
A volta foi também em Congonhas e anoitecendo.
Linda a descida. Como hoje, a cidade vai crescendo o medo do avião não "achar" a pista também, o baque no chão, o rugido dos motores com inversão de hélices (o C-47 tinha este dispositivo) e o alívio quando a velocidade diminuiu a ponto de, qualquer emergência , só escorregar até a grama.
Assim, era e é Congonhas.
Parabéns. 





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