quinta-feira, 8 de outubro de 2020

O DISCO DA DISCÓRDIA

Quando estudava no CEDOM lá nos idos de 71/72 (não lembro a data exata) um colega meu apareceu com o álbum "Let It Be" "deles". Havia comprado no mesmo dia e levado na aula porque ia direto do trabalho. Pedi para dar uma olhada. Babando disse que adorava os Beatles. Respondeu algo do tipo "e quem não?" 
Com toda a coragem do mundo indaguei se emprestaria o disco até o dia seguinte. Como o cara trabalhava durante o dia não teria tempo de ouvir. Eu não trabalhava, por sinal. Não é que ele topou? Um disco zero bala dos Beatles. Iria ouvir o dia inteiro e mais um pouco. 

Bom, entra na história uma menina legal. Quando viu o troféu na minha carteira pegou e disse que adorava a música "The Long and Winding Road". Retruquei "e quem não?" Disse que procurava a canção o dia inteiro no rádio. 
Ela pensou que o disco era meu. E, pediu emprestado. Com aquela carinha de cachorro pidão. Não sei o que se passou na minha cabecinha de vento. Mas, emprestei o disco emprestado. Sabendo que ia dar merda.

 Ela disse que levaria no dia seguinte. Eu pensei que teria que renovar o pedido de empréstimo. Até treinei a cara de cachorro pidão. 

 Pois bem. Ela não levou o disco. Nem no outro dia. Meu colega estava felicíssimo com a idiotice do sujeito que empresta um disco emprestado. Disse para me virar. Não iria falar com a "devedora".
 Lá fui eu (era quinta-feira) putíssimo com a menina que não era mais legal. Disse que iria apanhar por causa dela. Ela com a carinha de "nossa, que dó" garantiu que levaria a preciosidade na sexta.

Foi quando tive um lampejo de inteligência. Disse que iria na casa dela durante o dia apanhar o disco. Ela fez cara de espanto. Lógico. Não iria levar o vinil porra nenhuma. Mas, eu sabia onde ela morava. De vez em quando a gente fazia uns trabalhos juntos. 

 Assim foi. Na hora do almoço lá estava eu plantado na porta dela. Não teve jeito. "Quer entrar?" "Não!" 
"Toquei "The Long and Winding road" no som do meu irmão. Você precisa ouvir".
Pensei, "o cacete, carai".
 Levei o disco a tempo de ouvir na minha eletrolinha fajuta. Devolvi à noite sob olhares fulminantes e exame geral da integridade do disco. Por sorte estava lindão. 

Durante o resto do ano este colega contava sobre discos novos que havia comprado com aquela cara de gozação. Sabia que não tinha coragem de pedir nada mais emprestado porque a menina que não era mais legal estava de olho. Hoje, não consigo ouvir a música sem lembrar do episódio. Mas, quem não gosta? 





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