terça-feira, 16 de novembro de 2010

Pedras


O senhor Anthony Burgess - de todos conhecido por ter escrito A Clockwork Orange, o romance que deu origem ao fantástico filme de Stanley Kubrick - escreveu, lindamente, que James Joyce utilizou-se das pedras que a vida lhe atirou para construir um labirinto e que, assim, seu personagem autobiográfico, Stephen, pode ter o sobrenome Dedalus.
Felizmente há pessoas fantásticas, dotadas da capacidade de tornar pedras em literatura, algo útil e belo para toda a humanidade. Está aí algo digno de admiração.
Todos recebem suas pedras e cada faz com elas o que bem entende - ou o que pode: labirintos, castelos, casas, casebres, sei lá... Nós, por aqui, recebemos pedras diversas. Na maior parte, são verdadeiros pedregulhos, arremessados com toda força direto na boca do estômago. Elas caem no chão, deixam a dor e as náuseas, em conjunto, é claro, com a desorientação. E assim elas vão caindo e se acumulando; não se constrói labirinto algum, como o de Joyce. Quando se percebe, está-se soterrado até o pescoço e já não é possível sair dali sozinho.
Certamente, não um bom uso para pedras.

Ah, sim! Tem o final da temporada de F-1, o título de Vettel e etc. Vamos a tudo isso, assim que tivermos um tempinho.

Um comentário:

  1. A VIRGEM MARIA

    O oficial de registro civil, o coletor de impostos, o mordomo da Santa Casa e o administrador do cemitério de São João Batista
    Cavaram com enxadas
    Com pás
    Com as unhas
    Com os dentes
    Cavaram uma cova mais funda que o meu suspiro de renúncia
    Depois me botaram lá dentro
    E puseram por cima
    As Tábuas da Lei

    Mas de lá de dentro do fundo da treva do chão da cova
    Eu ouvi a vozinha da Virgem Maria
    Dizer que fazia sol lá fora
    Dizer i n s i s t e n t e m e n t e
    Que fazia sol lá fora.


    Vou-me embora pra Pasárgada

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