quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Barrichello, 300 [5]

Barrichello em Interlagos sempre significou emoção, para bem ou para o mal. Algumas excelentes corridas com final trágico, algumas alegrias e várias frustrações.
Ayrton Senna demorou alguns anos para conseguir vencer em terras brasileiras. Mas, por outro lado, venceu duas vezes em São Paulo de forma épica. Barrichello luta, todos os anos, por uma vitória em casa que ainda não veio.
Uma dessas frustrações aconteceu, justamente, numa das melhores e mais maduras corridas do brasileiro na F-1: o GP do Brasil de 2003.
A corrida ficou marcada pela confusão: a chuva atrapalhou todo mundo, uns sete carros rodaram na saída do Sol - inclusive, o alemão oficial Michael Schumacher -, Webber se estrepou na subida do café e Alonso veio como doido atrás, estrepando-se ainda mais.
O incidente provocou o fim prematuro da corrida, sob bandeira vermelha. A confusão foi tanta que o troféu de vencedor foi entregue ao piloto errado. Kimi Raikkönen, que liderava a prova no momento da interrupção, foi tido como vencedor, mas, quando há bandeira vermelha, o resultado final é dado pela posição dos pilotos na volta anterior. E, na volta anterior, Giancarlo Fisichella, com sua Jordan amarela, havia cruzado em primeiro. O bólido vencedor desse Grande Prêmio, aliás, está na casa do bon vivant Otávio Mesquita.
Mas, quando tudo isso ocorreu, o protagonista da prova já estava fora do certame há um bom tempo. Após um início de corrida difícil devido a problemas com o pneu intermediário da Bridgestone, Barrichello ficou para trás. O brasileiro largara na pole e perdeu posições, uma a uma, porque não podia resistir muito a seus concorrentes melhores calçados.
Conforme a pista foi secando, os pneus passaram a aquecer mais e a funcionar melhor. Com isso, Rubens pôde avançar no pelotão. Quando já estava em segundo, perseguiu Coulthard por algumas voltas, até que o escocês cometeu um erro na freada do "S" do Senna, permitindo que Barrichello avançasse para a primeira colocação.
Schumacher estava fora, a Ferrari nº 2 rendia bem - tão bem que, após a ultrapassagem sobre Coulthard, Barrichello abriu aproximadamente 2, 5 por duas voltas consecutivas. Parecia que, desta vez, era dele.
Antes de prosseguir com um desfecho que todos já conhecem, este GP ficou marcado para mim por outras razões que não a atuação de Barrichello e das emoções da corrida em si.
O ano era 2003, eu contava com 18 anos e cumpria meu dever constitucional perante as Forças Armadas do país. Para variar, no final de semana da corrida, estávamos - os atiradores - todos punidos não sei bem por qual razão. Sábado, o sargento dispensou alguns de nós de irmos ao quartel no domingo, em razão do bom comportamento... sempre fui bonzinho.
Pode parecer uma bobagem, mas não ter acordar às 4h30min da manhã no domingo, naquela conjuntura, era um alívio imensurável. Significava, também, que eu poderia ficar ligado na televisão desde a manhã, para acompanhar os andamentos no autódromo.
Mas, havia uma razão ainda mais forte e íntima para a corrida se tornar inesquecível. O colaborador patriarcal deste blog passou 5 anos trabalhando em outra cidade - trabalhava em São Paulo e todos os outros morávamos em Ribeirão Preto. Desde o GP de Silverstone de 1999, aquela era a primeira corrida que assistiríamos juntos, sabendo que na segunda-feira ainda estaríamos todos reunidos.
Algumas palavras sobre este fato foram ditas na hora do almoço, lembrando que nem sempre foi fácil enfrentar a distância. Naquele momento, este que vos escreve, lembrando que poderia ter ido para o quartel naquele dia, que meu pai, em outro final de semana qualquer, teria que ir embora em algumas horas, e sentindo-se bem que tudo correra da melhor forma, pronunciou a seguinte frase: "Agora só falta o Rubim!".
Então Barrichello ultrapassou David Coulthard, abriu 5 ou 6 segundos em duas voltas, em um ritmo impressionante, e, na descida do lago, deu para ouvir quando o motor apagou. Apagou subtamente, sem fumaça, sem barulho estranho, sem perder rendimento. Pane seca? Pareceu pane seca...
Depois, os panacas de vermelho disseram que houve um erro de cálculo, ou coisa que o valha, e por isso não chamaram Barrichello para o reabastecimento.
Na verdade, pareceu coisa do duende vermelho Jean Todt. Como todos sabem, ele mantinha um botão vermelho para quebrar os carros conforme a conveniência da equipe...
Só para fomentar a teoria da conspiração, Schumacher ainda não havia vencido naquela temporada. Barrichello, vencendo o GP do Brasil, abria a temporada de vitórias para a Ferrari, ficando dez pontos a frente do alemão oficial.
Depois, veio toda a confusão. Fisichella saiu vitorioso, mas só recebeu o troféu na corrida seguinte, das mãos do próprio Kimi Raikkönen.
Confesso que fiquei triste naquele dia. Normal ficar triste quando nossas torcidas são frustradas. Mas, realmente importava? Ah, claro que não. Importava é que na segunda estaríamos ainda todos ali.
O mundo gira. Hoje em dia, sou eu quem vai embora às segundas-feiras.


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