quarta-feira, 24 de março de 2010

SENNA

Muito foi falado sobre as qualidades e humanidades, vamos assim dizer, do Ayrton Senna. Prefiro falar sobre o lado pessoal. Meu lado pessoal. Ele começou a carreira como tantos outros brasileiros e sempre com nossa torcida para que tudo desse certo e que fosse mais um brasileiro a chacoalhar a jaqueira dos gringos. Lembro que, no início de sua carreira, eu o achava meio, digamos, ansioso demais. Para não dizer meio doido. Houve uma corrida na Austrália em 1985 quando ele corria com Lotus em que só não bateu na própria sombra. Naquela época eu era mais o Piquet (ezão). Senna sempre carregou uma teimosia teimosa (ai!) que o levava a tomar certas decisões que significavam um tiro no pé, ou no pneu. Por falar em pneu, muitas vezes, e teimosamente não trocava pneus quando já não conseguia parar na pista. Foi mais ou menos o que acontceu na Hungria em 1987 quando levou aquele drible do Piquet (ezão): não tinha mais pneus e não abria mão em ferrar o outro brasileiro de quem já era desafeto e que disputava o título. Porém, o tempo passou e o jeitão dele foi sendo incorporado ao jeitão brasileiro de gostar dos que se destacam. Tinha um ar de menino desconsolado. Pagou um mico indo ao programa da Xuxa (arghhhh!) quase se declarando ao vivo para a dita. Ao lado disso tudo, corridas memoráveis. Na Tolleman, Lotus (preta principalmente). Conquistou a torcida de vez. Começou a fazer parte da família. Não importava quem tinha razão. Mas, aprendemos a odiar o Prost, o Ballestre, e por aí vai. Essa relação da qual participei intensamente até mesmo escrevendo para jornais espinafrando jornalistas esportivos, transcedeu a esfera esportiva. Senna era nosso irmão e maior amigo. Mas, no fundo é algo inexplicável. O que levou a nação a gostar tanto assim de um piloto de F1? Num país, ainda hoje, de torcedores de futebol. Conversando com aqueles que vem comentar comigo corridas e quetais percebo que não conseguem captar a corrida por detrás da corrida. O rubim sofre com isso. Enfim, o Senna falou a todos. Não importava a classe social, ou o grau de conhecimento do esporte que praticava. A torcida era dele. Daí, veio aquela estranha corrida em Ímola. Passamos o resto do domingo torcendo para tudo não fosse um susto. Mas, eu lembro da enorme mancha de sangue quando o puseram na ambulância. Ela ficou no chão denunciando algo mais grave. Depois, soubemos que foi feita uma traqueostomia ali no chão mesmo. O desconsolo de quem o atendeu na pista era visível. Eu já havia perdido entes queridos, mas o nó na garganta em relação ao Senna não se desmanchou. Ainda hoje, quando a gente vê alguma reportagem as lágrimas aparecem. Acredito que são essas coisas que escapam da nossa compreensão. Dizem que ele acreditava ser um predestinado. Que veio cumprir uma missão. Pois conseguiu. Tornou-se um ícone e uma referência. Por mais que o tempo passe ninguém vai pilotar como ele. Nós acreditamos nisso e, portanto, é fato. Para encerrar: ele tinha dois grandes defeitos. Corintiano e malufista. Ninguém é perfeito.

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