quarta-feira, 15 de julho de 2009

Que rei sou eu? (ou carros ainda são guiados por seres humanos)

Sábado, dia 11 de julho, o famoso Rei Beto, também conhecido como Roberto Carlos, fez no estádio do Maracanã um show comemorativo de seus 50 anos de carreira. Um show igualzinho àqueles do final de ano, exceto pelo público muito maior e a chuva. Não foi um show que poderia angariar novos fãs, um espetáculo capaz de atrair um novo público, mas o velho repertório, associado ao velho vestuário, aos velhos músicos, aos velhos amigos Ternurinha e Tremendão, associados a uma dose de emoção e alegria por estar fazendo o que gosta, renderam um bom resultado. Minha avó ficou felicíssima.
Não muitas horas depois, realizou-se, em outro continente, o GP da Alemanha de Fórmula-1. De volta ao velho circuito de Nurburgring, em seu novo traçado de mais de 20 anos de idade. A Fórmula-1 já não tem mais nenhum Rei, com r maiúsculo. Temos o príncipe das Astúrias, o imperador otomano, mas Rei mesmo... só o rei das estratégias, como dizem aos ventos, Ross Brawn.
Já há uns 15 anos Ross Brawn reina. É sem dúvida um sujeito extremamente competente: há um ano e meio assumiu uma Honda que não ia a lugar nenhum, fosse porque o túnel de vento estava desregulado, porque o controle de tração começava a funcionar no meio da reta, ou porque o carro fosse ridículo do ponto de vista aerodinâmico, e a transformou em Brawn GP, que fez um carro vencedor, aliás, arrasadoramente vencedor, e se tornou a equipe sensação da Fórmula-1, tendo um de seus pilotos (ainda) com a mão no campeonato.
Brawn e sua trupe estavam preocupados para o GP da Alemanha, em vista da previsão de baixa temperatura, que parece realmente favorecer os carros da Red Bull. Com isso em mente, a equipe optou por deixar os dois carros bem leves no Q3 no treino de sábado para que Button e Barrichello pudessem sair na frente do grid. Mesmo com consideráveis quilos a mais em seu carro, Mark Webber cravou a pole position. Largando na frente com o carro mais pesado, dificilmente o australiano perderia a corrida.
Um detalhe interessante, ainda com relação ao treino de sábado, foi a conversa flagrada na escuta de rádio das equipes, em que Jenson Button pedia para ir aos boxes, abortando sua primeira volta rápida no Q3, para copiar o acerto de Barrichello para a pista tedesca, àquela altura meio seca, meio molhada.
Pois bem. Button acertou o que deu e marcou o terceiro tempo, enquanto Vettel, companheiro de Webber, fez o quarto melhor tempo.
Pelo que se via nos treinos, a briga ia ser mesmo entre Red Bull e Brawn, com vantagem para o time dos energéticos.
Até agora não pude entender muito bem o que aconteceu com Webber na largada. Aquele chega para lá em Barrichello foi realmente doido. Não fez sentido.
O fato é que, com Barrichello na frente e Webber punido, esse, pela lógica, poderia ter a corrida como perdida. O ritmo forte dos carros da Red Bull era evidente, tanto que Barrichello com o carro mais leve não conseguiu abrir na primeira perna de corrida. Mas recuperar o tempo perdido em um drive thru é muito difícil.
Webber teve essa tarefa um pouco facilitada em vista da parada prematura de Barrichello para o primeiro pit-stop. Seguindo o brasileiro pelo pit-lane, Webber pôde sair a sua frente, mesmo já tendo cumprido a punição, sustentando a primeira colocação na corrida até a sua parada para reabastecimento e troca de pneus.
Mas, ainda assim, Webber tinha um longo caminho pela frente, e a vitória parecia estar nas mãos do Barrichello. Por que perdeu, então?
Ora, a resposta simples: perde quem completa determinado percurso em um tempo maior do que outro ou outros pilotos. E a única forma de se chegar em menos tempo que os demais é pisando mais. Barrichello não pisou, ou não pôde pisar, mais que os outros.
A estratégia de corrida pode ser, sim, determinante para o sucesso ou insucesso no certame. Mas nenhuma estratégia funciona se o cara não for rápido.
Então, a estratégia de 3 paradas não fez Barrichello perder a corrida. Mas é óbvio que o BGP 001 já não é o carro mais rápido do grid. Não tem ritmo para acompanhar a Red Bull, que tanto em Silverstone quanto em Nurburgring ganhou de lavada.
Talvez, mesmo com a punição a Webber, a Brawn tivesse condições de vencer a corrida. O verdadeiro erro da equipe não foi fazer Barrichello perder o primeiro posto para Webber, mas fazer carro n. 23 perder posições para a Ferrari de Massa e a Williams de Rosberg.
Essas duas posições perdidas podem ser creditas apenas na conta de Barrichello? Parece que não. O zigue-zague de Jenson Button pelas retas do circuito indicam que, efetivamente, o carro de Ross Brawn tem problemas de aquecimento de pneus em pistas frias. É claro que isso acarreta alguma vantagem quando a temperatura é alta, pois reduz o consumo de borracha, mas no frio é um tormento. Além de que, a mangueira não entrar no bocal do tanque de combustível custou preciosos segundos...
Tenho a impressão que a estratégia de Barrichello e Button, de fazer três paradas, foi concebida para tentar acompanhar as Red Bull e possivelmente surpreendê-las. Tentar vencer uma corrida é sempre uma atitude correta, todavia, muitas vezes, pode ser irreal. É muito difícil dizer, mas, quem sabe, uma estratégia um pouco mais conservadora, como a do Rei Beto no show mencionado acima, pudesse não ter tido frutos maravilhosos, mas menos desastrosos.
Como espectador, que acompanha as imagens da TV, a cronometragem oficial pelo computador e as notícias e declarações pós-corrida pela imprensa (ou, agora, pelo Twiter), fiquei com a ligeira impressão de Barrichello foi atrasado para que Button somasse um ponto a mais. Não é exagero, diante do quadro atual da temporada, acreditar que esse ponto possa decidir o título a favor de Button no futuro. Do ponto de vista da equipe, é ótimo; do ponto de vista esportivo, não gosto muito, já que, no conjunto do final de semana, Barrichello foi bem melhor que Button.
O inglês, aliás, não esteve bem na corrida, ficando para trás na largada e não conseguindo se recuperar. A partir de agora, vai ter que agir como um autêntico toureiro.

Felipe Massa, mais uma vez, fez uma corrida impecável. O brasileiro, assim como havia feito em Silverstone, aproveitou bem a estratégia de fazer uma primeira perna de corrida bastante longa. Aproveitou muito bem também o fato de ter Kers instalado em seu carro, segurando Barrichello atrás com muita eficiência. Ótima estratégia, ótima execução pelo piloto, em mais uma corrida madura do “Massa com cara de campeão”.

Mas a grande estrela do show foi Mark Webber. Australiano, 130 GPs nas costas, conquistou sua primeira vitória, superando Barrichello como piloto que mais alinhou no grid antes de vencer pela primeira vez. No caso de Barrichello foram 128 GPs.
Esse dado, que poderia depor contra o piloto, é, na verdade, prova de sua perseverança. Webber, após andar muito, muito, muito rápido em treinos com Minardi e Jaguar, mas sem alcançar grandes resultados em corridas, passou a ser chamado de “Leão de treino, cachorro de corrida”. Parecia-me injusto, já que Webber, em conjunto com seu engenheiro de corridas, conseguia fazer boas atuações, sempre marcando bem seus adversários diretos e cometendo poucos erros.
Mais do que isso, é preciso lembrar que o australiano sofreu um grave acidente no começo deste ano em uma prova de triatlo que ele mesmo organizara. Não participou da pré-temporada devido às lesões em ambas as pernas.
Deve-se levar em conta também o fato de Webber ter como companheiro de equipe o jovem e talentoso Sebastian Vettel. Apesar de o alemão atrair todas as atenções e ser considerado um dos principais talentos de sua geração, Webber tem conseguido superá-lo em algumas oportunidades ao longo desta temporada. Considero sua vitória na Alemanha ainda mais magistral que aquela de Vettel em Silverstone, pois, psicologicamente, não deve ser fácil lidar com uma punição que poderia ter-lhe tirado a possibilidade de vitória após fazer a pole-position e ter acompanhado um carro rápido e mais leve por toda a primeira parte da prova.
A explosão de Webber em choro e gritos dentro do capacete deve refletir não só a alegria de sua primeira vitória, mas a superação de dificuldades não apenas ao longo deste ano, mas de toda sua carreira. Uma vitória muito bem merecida.
Interessante notar que, em uma Fórmula-1 de pilotos robozinhos, duas reações tipicamente humanas causaram comentários diversos após o GP: o choro de Webber causou comoção; a reclamação de Barrichello, a meu ver, plenamente justificável pelo que aconteceu na corrida, foi mal vista mais uma vez.

Nunca é demais lembrar que sobre o volante repousam mãos humanas...

Um comentário:

  1. seguinte: corrida se ganha pisando no da direita (que ainda existe num F1) e parando quase nada...
    Não foi o que aconteceu com o rubim.
    Ele precisa usar mais o pé direito que a língua....
    Reibeto e seu eterno mesmo show mostra bem que mesmo os gênios acabam por se repetir. Ele nos ameaça com novo disco. Vai ser o mesmo novo velho disco.....

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