sábado, 6 de agosto de 2016

Adeus, Adilson

Acabo de acordar de um sonho gostoso: uma antiga aluna, hoje amiga, estava se casando. A cerimônia era bonita, tinha ares de teatralidade e o noivo utilizava um batom roxo. Preciso contar isso para ela.
Havia, no entanto, uma constante sensação, enquanto sonhava, de que esperava por algo, a forte presença do ausente que me gerava ansiedade. Bom, quem sabe, seja só reflexo das últimas leituras de Paul Ricoeur. 
Enquanto cumprimentava o noivo do casamento sonhado, invadiu-me uma grande vontade de chorar. Julguei estar emocionado com o cerimônia. Talvez, por outro lado, já fosse reflexo dos gritos que, afinal, acordar-me-iam. 
Alguém berrava desesperada e repetidamente na rua: "Adilson!", "Adilson!", "Adilson!". Fiquei prestando atenção para tentar entender o que acontecia, mas não pude distinguir muita coisa, exceto que meu distante interlocutor não fazia parte do sonho e parecia estar tomado de forte comoção. 
Filho do meu pai que sou, passei a arrolar todas as hipóteses trágicas possíveis: a) Adilson morreu; a.1) com um tiro que não ouvi, pois estava em um casamento; a.2) de overdose no final da balada; a.3) atropelado. Não houve sirenes e quem berrou foi apenas um indivíduo, que poderia, por qualquer razão, ter imaginado a morte de Adilson. Levantei, então, a hipótese de que b) Adilson não tivesse morrido. Por que, então, berravam seu nome? b.1) Adilson pode, de fato, ter passado mal e, em desespero por não saber o que fazer, seu namorado e/ou amigo gritou seu nome até acordar alguém que também não ajudou; b.2) Adilson estava em um surto psicótico e gritava o próprio nome; b.3) Adilson encerrou seu relacionamento amoroso, para desespero de meu interlocutor.
No final das contas, não sei nada sobre o Adilson, exceto que alguém que o conhecia chamava seu nome realmente muito alto nas proximidades do nosso apartamento, o que interrompeu uma linda cerimônia de casamento. Espero, sinceramente, que esteja tudo bem com ele e, se não estiver, que se recupere. 
Desenvolveu-se comigo, como efeito do infortúnio do Adilson, o pior tipo de insônia, que é esta que a gente tem depois que já dormiu e acordou pouco depois. Fiquei por ali, tentando dormir de novo e, como se vê, não deu. Levantei e escrevi este texto.

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