sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

QUE SERÁ DE NÓS?

Leio sobre a chamada reforma do ensino em São Paulo, que resultará em fechamento de escolas e transferência de alunos para outras mais distantes e coisa do gênero.
Houve uma reforma anterior, em 1994, que resultou na chamada progressão automática. Eu dava aula naquele tempo e o caos (que era a escola) se transformou no caos caótico. Os alunos riam na nossa cara quando instados a estudar.
Mas, uma notícia chamou minha atenção. 
A escola onde estudei no antigo colegial está no rol daquelas que vão ser fechadas.
O famoso CEDOM.
Fica num bairro nobre da zona norte e só os mauricinhos da época estudavam lá. Sim, escola particular era para quem não conseguia estudar na pública.
A seleção era democrática como a época. Ou seja, na base se "é filho de algo" merece estudar na escola.
Porém, por volta de 1971 (carai, o tempo voa) houve uma revolução e o CEDOM foi obrigado a fazer o chamado vestibulinho. Juntem a este fato a dedicação de dois professores de matemática (estudantes da POLI) que davam aula no ginásio onde eu estudava e voilá, um monte de periféricos entrou na escola dos riquinhos. Sim, lembro que estes dois professores falaram certa vez que dariam aula aos sábados para quem quisesse entrar no melhor curso colegial da região norte. Hoje sei que existem poucos como eles. A maioria que frequentou as aulas no sábado passou no vestibulinho.
Lógico que fomos "escalados" para o curso noturno. O discurso de boas vindas da diretora Emília não poderia ser de outra forma. Disse que foram obrigados a nos aceitar. Ah, ah. Foda-se.
Quem dava as caras no período noturno era a vice (não lembro o nome) que tinha centos óculos. Cada noite com um. Doida de pedra. Nunca perdeu a oportunidade em nos desmerecer.
Desnecessário dizer que o CEDOM nunca mais foi o mesmo. Tinha de tudo. Desligávamos a energia com tanta frequência que um funcionário passou a vigiar a central de força. Como vingança contra os mauricinhos passávamos papel carbono embaixo das carteiras manchando a calça do uniforme da petizada que estudava pela manhã nas mesmas classes. Eles, usavam uniforme e nós pobres mortais avental.
Espetar bilhetes pornográficos no vão da carteira onde os livros eram guardados era coisa normal. Lógico que na carteira do vizinho. Quem ia ao banheiro externo no intervalo sofria de tudo. Desde banho de xixi até ter as calças arrancadas e jogadas no telhado. Cueca era poupada. Jogar os chatos no lixo era corriqueiro. Nem dava suspensão. Diria que sobrevivi a este tempo. E, participava de algumas traquinagens. Vigiar o funcionário da noite era tarefa minha quando os malucos aprontavam alguma.
Quando passo em frente com a família baixa o véio Mero em mim e digo com voz gutural "aqui é o famoso CEDOM" e encho o saco deles com histórias da época.
A fachada continua igual. Meio escondida como se tivesse vergonha de tanto tempo passado.
Para mim, tempos inesquecíveis. Grandes recordações e, por incrível que pareça, grandes professores.

  

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