quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Spa-Francorchamps (que agora não é mais estrada)

Continuando com o "Sinal Verde" - gostei da comparação - pré-GP da Bélgica.
Spa-Francorchamps é, muitas vezes, palco de corridas excelentes, pela dificuldade da pista e instabilidade do clima. Às vezes começa tudo molhado depois seca; às vezes, tudo seco, depois molha; e muitas outras, fica sempre molhado mesmo...
Em 2000, tivemos lá um dos episódios mais marcantes dos últimos dez anos da Fórmula-1. Foi uma ultrapassagem que entrou para a história do esporte como uma das mais belas e difíceis. O GP começou no molhado, com largada atrás do safety-car. Mika Häkkinen e Michael Schumacher lutavam equilibradamente pelo campeonato. Tal equilíbrio, contudo, não parecia estar presente em Spa-Francorchamps. Häkkinen fez a pole-position, a terceira consecutiva na pista belga, em busca de sua primeira vitória em Spa; Schumacher fez apenas o quarto tempo, atrás de Jarno Trulli, com a Jordan e o estreante Jenson Button, com a Williams.
No começo da corrida, com a pista molhada, mas já secando, Schumacher superou Button e Trulli, partindo à caça de Häkkinen.
A pista foi secando e Schumacher conseguia alguma aproximação sobre Häkkinen. O finlandês sucumbiu à pressão e rodou após o pit-stop para troca para pneus slicks, retomando o percurso aproximadamente 5 segundos atrás do alemão.
Häkkinen, contudo, tinha um stint mais longo e fez seu primeiro pit-stop estratégico bem mais tarde em relação a Schumacher. Quando parou, estava uns 16 segundos mais adiantado.
Após as trocas de pneus e reabastecimentos, Schumacher e Häkkinen estavam em primeiro e segundo, respectivamente, com o finlandês tirando a diferença para o alemão, aparentemente por ter um carro mais adaptado às condições de pista daquele momento. O asfalto já se encontrava seco por inteiro e sol iluminava certas partes do circuito.
Faltando cinco voltas para o fim, Häkkinen encostou de vez no líder. Na reta Kemmel, a vantagem de velocidade final da McLaren em relação à Ferrari estava evidente, e Häkkinen, procurou um caminho para ultrapassar Schumacher na entrada da curva Le Combes; o alemão, como de costume, forçou o finlandês para o lado de dentro, deixando-o sem passagem e obrigando-o a recolher.
A corrida estava no fim e Häkkinen, se quisesse vencer, não poderia perder muito tempo. Na volta seguinte, na mesma reta Kemmel, Häkkinen encostou muito em Schumacher na saída da Eau Rouge. Contudo, havia Ricardo Zonta, retardatário, bem no meio da pista, deixando o lado de fora do traçado para Schumacher passar. O normal seria que Häkkinen recolhesse, ultrapassasse Zonta, e tentasse de novo na próxima volta. Mas não foi assim. Mika colocou o carro por dentro de Zonta, arriscando tudo em uma manobra muito corajosa. Havia apenas um "buraquinho" entre o carro de Zonta e a grama, e Häkkinen conseguiu se encaixar ali, superando o brasileiro a tempo de colocar o carro no ponto mais adequado para a tangência da Le Combes.
Após a manobra, ao avistar Häkkinen, Schumacher move sua Ferrari bruscamente para o lado de fora, revelando, talvez, alguma surpresa com a presença do finlandês ali. Bom, a surpresa foi justificada...
Muito melhor do que minha terrível descrição, é ver as imagens.
O primeiro vídeo contém a primeira tentativa de ultrapassagem, onboard com Häkkinen, bem como a tentativa que deu certo, onboard e por fora. O narrador diz, em espanhol, "menos mal que Zonta não se moveu". Pois é.





Este segundo vídeo mostra o ponto de vista de Ricardo Zonta. Aqui, dá para perceber bem que havia pouco espaço para Mika.
Nota-se, também, que Zonta olha para o espelho esquerdo apenas uma vez. Como o próprio Zonta afirmou após a corrida, ele não percebera a aproximação de Häkkinen, já que, pelo retrovisor, só dava para ver Schumacher, que estava na frente. Realmente, não dá para ver muita coisa pelo retrovisor de um Fórmula-1 que, além de ser pequeno, tem o campo de reflexão limitado a uma fresta no aerofólio.




E para quem chegou até aqui, e tiver curiosidade, abaixo está a entrevista após a corrida, com as palavras de Häkkinen e Schumacher sobre a corrida e sobre a manobra de Mika. É engraçado ver o finlandês falar, com seu sotaque peculiar.
Interessante ver Schumacher preocupado com o campeonato, já que, com essa vitória na Bélgica, Häkkinen abrira 6 pontos de vantagem para o alemão, faltando apenas Monza, Indianápolis e Suzuka para o fim da temporada. Mas, como todos sabem, o título acabou mesmo nas mãos de Schumacher, seu tricampeonato, a respeito de que falaremos mais oportunamente.


Um comentário:

  1. Vídeo do Zonta.
    Dá para perceber, pelo movimento da cabeça,o susto que ele leva quando olha para a frente e vê dois carros, um de cada lado, passando por ele.

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