domingo, 23 de agosto de 2009

O número é 100

Minhas colocações podem ser repetitivas em relação àquelas já feitas por meu pai, mas acho que valem a pena algumas palavras.
Rubens Barrichello conquistou a centésima vitória de um piloto brasileiro na Fórmula-1 em um GP cercado por algumas curiosidades.
A primeira delas é que o GP da Europa foi o que, nesta temporada, menos chances ofereceu, em termos de probabilidade, para que pilotos brasileiros vencessem. Isso porque dos habituais três representantes verde-amarelos, apenas Barrichello alinhou no grid em Valência.
Outro dado interessante, como já chamou atenção meu pai, nas duas edições da prova de rua espanhola (européia?) venceu um brasileiro: em 2008, Felipe Massa, e este ano, Rubens Barrichello. Mas, de certa forma, Massa esteve na ponta nas duas provas: no ano passado porque venceu, e este ano pela bonita homenagem que lhe prestou Barichello, que pintou o topo do seu capacete com a frase "Felipe, see you on track soon" (te vejo na pista em breve).
Por fim, a vitória brasileira de número 100 aconteceu pelas mãos daquele que reiniciou os triunfos nacionais após a era Senna. Em 2000, quando Rubens venceu sua primeira corrida na Fórmula-1, naquele memorável GP da Alemanha, o Brasil estava estagnado havia 7 anos nas 79 vitórias. A última havia sido, justamente, a vitória de Ayrton Senna no GP da Austrália de 1993. Nove anos depois, Barrichello crava sua décima vitória, que, somada às 14 de Emerson Fittipaldi, à única de José Carlos Pace, às 23 de Nelson Piquet, às 41 de Senna, às 11 de Felipe Massa e às outras 9 do próprio Barrichello, colocam o Brasil entre os países cujos pilotos atingiram cem vitórias. Creio, pelo conjunto da obra e pela corrida de hoje em si, que a marca está em boas mãos.

A corrida de hoje não foi das mais emocionantes, mas não deixou de ser interessante por isso: havia dois "novatos" para observar - Badoer não é, exatamente, novato, mas não alinhava no grid desde 1999, enquanto Grosjean não havia testado o carro da Reunault este ano -, Red Bull e Brawn continuariam se pegando pelo campeonato, e a McLaren em uma ascensão até surpreendente, despontando como favorita para o final de semana.
Badoer não foi muito melhor do que havia sido nos treinos; foi até penalizado com um drive through por ter "queimado" a linha branca na saída dos boxes. Foi até pior do que os realmente novatos Grosjean e Alguersuari. Esses, por outro lado, não sofrem a pressão de estar em uma Ferrari, possivelmente na última chance da carreira de mostrar serviço.
Grosjean não prejudicou, mas não andou mais do que andaria Nelsinho Piquet. Cometeu um erro em uma freada, mas corrigiu de forma até bonita para não bater no muro. Não dá para dizer muita coisa ainda, já que fez apenas sua primeira corrida e só havia andado em linha reta com o carro até este fim de semana.
Se houve alguma emoção, foi no momento da "disputa" entre Rubens Barrichello e Lewis Hamilton. Tudo bem, não houve disputa de freadas, manobras de ultrapassam, nada nem perto disso. Mas foi bonito a maneira como alternaram voltas rápidas até a parada desastrosa do inglês para seu segundo pit-stop.
Não tenho certeza de que o erro da McLaren tenha sido determinante no resultado final da corrida. Claro que foi uma grande mão para Rubens assumir a ponta. Mas é possível que ficasse em primeiro mesmo sem o atraso de Hamilton. Barrichello perdeu 20s972 em seu primeiro pit-stop, enquanto Lewis perdeu 22s218; no segundo, Barrichello perdeu 19s021, enquanto Hamilton perdeu 25s599. Como parou antes de Barrichello as duas vezes, talvez Hamilton tivesse de fazer um segundo pit-stop mais longo que o brasileiro, ainda que sem o erro da equipe, fato que poderia ser suficiente para que Rubens tomasse a ponta. Mas é chute; não dá para saber e, certamente, teria sido muito mais apertado sem o erro da McLaren.
De todo modo, Barrichello foi muito feliz ao longo de todo final de semana, a começar pela pintura em homenagem ao Felipe Massa em seu capacete. No sábado, botou tempo em Jenson Button, mesmo tendo mais combustível no carro; abdicou da briga pela pole conscientemente, já que sabia do maior potencial de largada da McLaren em relação à Brawn, pela utilização do KERS. Largou com mais peso, fez tudo certo até assumir a ponta e administrar a vantagem construída.
Button, para mim, foi o ponto negativo da corrida, juntamente com Mark Webber. Os dois principais postulantes ao título se apagaram nas posições intermediárias. Button ainda conseguiu dois pontinhos de refresco, enquanto Webber não obteve nenhum.
Vettel, o quarto postulante, sofreu com uma quebra de motor, mas, ainda sim, foi muito elegante ao parar o carro exatamente na abertura do muro, para que o carro fosse imediatamente retirado do caminho dos demais. Seu rendimento anda muito irregular e o alemãozinho vai ter que acertar a mão para continuar na briga pelo campeonato.
Já o inglês da Brawn vai para a Bélgica enfrentando uma certa pressão: andou muito mal nas últimas corridas e teve um desempenho muito apagado diante de uma corrida praticamente perfeita de Barrichello. Vai ter que se impor em Spa-Framcochamps para impedir um eventual progresso do brasileiro na tabela do campeonato.
Destaque, também para Kimi Raikkönen, em mais um pódium para a Ferrari, em uma atuação discreta, mas muito eficiente, após uma excelente largada, pulando de sexto para quarto, chegando a ameaçar Barrichello pelo terceiro.
Por fim, sem me alongar muito mais, um último destaque: foi particularmente interessante o duelo entre Hamilton e Barrichello pela circunstância de o brasileiro ser o "decano" do grid da Fórmula-1, com 37 anos e 280 largadas nas costas, enquanto Hamilton, com apenas 24 anos, já tem um título na carreira com apenas 46 largadas. Chama a atenção o preparo físico de Barrichello, já que o calor em Valência estava forte, a pista de rua é razoavelmente exigente, e ele aguentou realmente bem.


(Foto enviada por Rubens Barrichello via Twitter)

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