segunda-feira, 10 de agosto de 2020

VEM CÁ!

Quando mais jovem que hoje a expressão "vem cá!" tinha significados os mais variados.
Normalmente o frio na barriga, quando ouvia a expressão , era justificado.
Dona Alzira, por mais benevolente que fosse, usava muito esta frase quando a mostrar uma defecada qualquer de seu primogênito.
E, meninos, eu aprontava. Lógico, tantos anos depois, não lembro de nada. Juro. Era um anjo em forma de criança.
Lembro, no entanto, de uma ocasião em que a frase poderia significar chibatadas amarrado ao mastro principal da nau Onofri.
Em uma brincadeira inocente com meu inocente irmão (ah ah) arremessei uma almofada em direção ao cabeção. Época natalina. Sim, já adivinharam.
O cabeção desviou do bólido ultra/atômico/nuclear que atingiu a árvore de natal tão "mimadamente" decorada por dona Alzira.
Foi uma catástrofe. A árvore explodiu em milhões de caquinhos.
Bolas natalinas voando. Papai Noel espatifado. Uns enfeites em forma de foguetinhos que lançados (ué!) explodiram por defeitos de fabricação. E, pior, tudo espalhado no chão da sala. Lá na Djalma Forjaz, em sampa.


onde está o carro é onde morávamos. Imagem de 2010. (ave google)


Dona Alzira surgiu do além. Sim, toda mãe surge do além quando nós tentamos ir ao dito. Os zóiões (dois!) arregalados e a indagação sem precisar indagar: quem?
Meu irmão, sem pestanejar, entregou seu amado (ah ah) irmão.
E, o que veio a seguir, foi pior que tortura. Tipo comer jiló (adoro jiló. Mas, sou o único no universo. Então...) 

Dona Alzira perpetrou o que de pior poderia esperar. Informaria ao véio Mero o autor da destruição de metade da árvore natalina. O terror se apoderou deste que vos tecla. Véio Mero era imprevisível. Poderia morrer de rir (besteira o gordo Noel) mas, poderia incorporar o espírito natalino e exigir, via sapatadas na bunda (ou algo assim) o resgate dos símbolos natalinos destruídos.

Chorando pedi anistia/perdão/ alforria, sei lá. Iria limpar a lambança, imaginando enfiar os restos  goela abaixo do irmão sacana.
Bom, limpar era o óbvio.
Limpei.
Fiquei o resto do dia imaginando quem aceitaria o renegado. Seria expulso da família. Chutado porta afora. Afinal, cometi um pecado capital contra aquele gordo sacana (nunca trazia o que pedia) chamado Noel ( o espírito natalino).
Úlceras, gastrites, visões tenebrosas, santas na janelas (lembram?) com o dedo do meio.  Depois, desta tortura mental, entra em cena véio Mero.

Eu, cagando o que restava de medo. Ele entrou, foi para a cozinha cheirar a janta e etc.
Dona Alzira (a santa) nada falou sobre a catástrofe . Depois do que me pareceu horas, véio Mero jantou, tomou banho, vestiu o famoso pijama (ainda faço um post sobre) e foi para a sala pramó de assistir TV.
Lá estava eu, pronto para ser esganado.
Entrou, sentou.
Colocou a TV, em preto e branco, em sei lá qual canal e entrou naquela sonolência característica de espectador  insatisfeito com o que é oferecido.
Eu, escaneando o chão em busca  de cacos esquecidos. Meu irmão não lembro mas, deveria estar amarrado e amordaçado no quintal.

Um tempo depois véio Mero levanta. Gelei porque deu uma olhada na árvore.
Nem pestanejou. Continuou seu caminho em direção ao quarto.
Não percebeu o desastre dos símbolos natalinos sumidos. Mesmo porque não dava bola para os mesmos.
O que interessava para ele era a confraternização. Nem que houvesse a concessão comercial que sempre acompanhou o Natal.
Lembro que, até hoje, meus melhores natais foram aqueles de "ajuntação" da primaiada e bebedeiras (dos adultos) e festividades independentes de presentes e árvores.
Ah, lógico que dona Alzira, a benevolente, nunca entregou a destruição da árvore.
Afinal, mãe é mãe.

E, o "vem cá" do título "postal" se perdeu em reminiscências da infância deste que vos tecla.

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