terça-feira, 1 de setembro de 2009

Gelo e SPQR


Com mais atraso do que a largada do Barrichello, vamos ao GP da Bélgica.
A chuva esteve presente em Spa-Francorchamps, mas não chegou a influenciar os treinos classificatórios e a corrida. Eu não consigo imaginar como teria sido caso a chuva tivesse caído no sábado à tarde. Se o grid ficou todo invertido no seco, imagine se estivesse molhado.
O romano Giancarlo Fisichella surpreendeu a todos com uma pole completamente inesperada. Se um carro da Force-India passa para o Q2, é um resultado fantástico; se passa para o Q3, nossa, é um sonho! Quem dirá fazer uma pole-position. E o espanto foi ainda maior quando os pesos dos carros foram divulgados: Fisichella não era o carro mais leve do grid. Mais leve do que ele estava Rubens Barrichello, que largaria em quarto, demonstrando que ele e a Brawn não encontraram o melhor equilíbrio no asfalto belga.
E eu não sei que espécie de desequilíbrio fez com que Rubens, pela terceira vez no ano, não conseguisse arrancar no apagar das luzes. Se é um erro do piloto ou se um problema congênito de seu BGP 001, só ele e o engenheiro podem saber. Dizer que a falha é humana ou da máquina seria meramente um chute.
No vídeo do post abaixo, dá para ver que o carro pula e depois entra em ponto-morto já em movimento. O Luciano Burti, na transmissão da TV, informou que é um programa que impede que o carro morra quando o giro cai muito. Será que Rubens acelera pouco para lagar? Ou solta a embreagem muito rápido?? Pessoalmente, não creio que um piloto com trocentos anos de Fórmula-1 possa cometar erros assim. Pode até ser que seja erro dele, mas talvez haja um segredinho para largar que não conhecemos.
O fato é que, depois que o carro andou, a corrida de Barrichello foi até muito boa. Contornando a primeira curva em último, logo ultrapassando vários carros, com a faca nos dentes, como se pode ver na câmera onboard. Gostei de vê-lo combativo.
Os dois pontos foram importantes, mas com o abandono de Jenson Button, era dia para tirar mais diferença, para dar aquela "apimentada" no campeonato.
Button dificilmente vai perder, mas a sua enorme falta de performance desde Silvertone pode possibilitar uma aproximação perigosa das Red Bull. O inglês foi terrivelmente mal nos treinos de sábado, largando em décimo quarto. Sair lá no meio do pelotão, com a La Source logo à frente, em seguida a Eua Rouge e depois a reta para a Les Combes tem sempre uma grande probabilidade de dar merda. E deu mesmo.
Grosjean cantou de galo dizendo que a culpa pela batida foi de Button, mas não é o que parece. Esse franco-suiço, aliás, protagonizou um incidente na GP2, no circuito de Hungaroring, em que colidiu de forma ridícula com Franck Perera, causando a abandono dos dois da qualificação. Perera procurou Grosjean por explicações e ouviu dele: "Quem é você?". Esse acidente da GP2 pode ser visto aqui.
Parece que, no caso com Button, o inglês já estava no contorno da curva quando Romain o acertou no pneu traseiro. Ou seja, a preferência era de Button e quem tinha de esperar era mesmo Grosjean.
Button está sob pressão, mas seus adversários não estão tão eficientes para tirar a diferença. Parece que só verá o título ameaçado se Webber, Vettel ou Barrichello emendarem vitórias nestas cinco corridas que faltam. A Red Bull, contudo, enfrenta problemas de limitação de motores, enquanto a Brawn já não tem o mesmo ritmo do começo do ano, o que dificulta as coisas para o brasileiro. É esperar para ver.
Vettelzinho voltou a fazer alguma coisa em corrida no último final de semana. Largou em oitavo e chegou ao pódio com muita competência, mostrando um pouco do brilho que o tornou um dos pilotos mais cotados do grid. Andou mais que Webber, que, aliás, ficou apagado tanto em Valência quanto em Spa.
E o Luca Badoer? Apelidado pelos ingleses de Look howBadyouare, o italiano deve ter feito sua última corrida na Ferrari, e provavelmente na Fórmula-1, com uma atuação abaixo da média, chegando em último lugar dirigindo o mesmo carro que venceu a corrida.
Mas os grandes nomes do fim de semana só poderiam ser Kimi Raikkönen e Giancarlo Fisichella. Uma boa atuação do finladês em Spa já era até esperada. Como já dito por aqui, dos que alinharam no domingo ele era o único a já ter vencido em Spa. É uma pista em que ele é especialista e já teve atuações de gala lá, como sua vitória sobre Schumacher em 2004, tendo largado em décimo e tirado leite de pedra para superar a Ferrari, muito superior a sua McLaren àquela altura.
O Homem de Gelo é um piloto fantástico, mas que se apaga por não estar nem aí para nada. É o jeito dele. Mas, em um dia inspirado, é um piloto difícil de ser batido. Creio que, de sua geração, é o maior potencial, mas ele mesmo não liga muito para isso, tanto que há rumores que o colocam no WRC no próximo ano.
Mas Fisichella foi fantástico. Correndo com o carro indiano, qualquer pontinho seria maravilhoso. O romano fez muito mais, e arrisco-me a dizer que só não venceu porque a Ferrari conta com o KERS. O dispositivo ajudou Raikkönen a ultrapassá-lo na relargada e impediu que ele pudesse recuperar a posição, muito embora tenha andado o tempo todo no ritmo da Ferrari.
Uma atuação de gala de Fisichella, talvez a melhor de sua carreira, junto com a vitória no GP da Austrália de 2005. Só que, naquela ocasião, ele contava com o melhor carro; domingo, muito longe disso.
O que fez a Force-India andar tanto é um mistério. Se acharam algo no carro, acertaram direitinho a relação arrasto/downforce, não dá para saber. Talvez, o motor Mercedes tenha ajudado bastante, mas não é só isso. E, infelizmente, não sou eu quem pode saber.
O fato é que talvez tenha sido o canto do cisne do romano. Com 37 anos, uma carreira sem lá grande brilho, é provável que Fisichella, em breve, pendure o capacete.
Entretanto, boatos o colocam na Ferrari no GP de Monza, já que o time de Maranello deve dispensar os inestimáveis serviços de Luca Badoer. É conhecido o sonho de Fisichella de guiar o carro vermelho e também é conhecido a vontade de que um piloto italiano tenha sucesso a bordo da Ferrari. Depois do GP da Bélgica, torço mesmo para que isso aconteça. E que o cisne cante mais um pouquinho.


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