sexta-feira, 2 de agosto de 2019

TESTEMUNHA

"Testemunha ocular da história".
Um dos bordões do "Repórter Esso".
Quando o clã Onofri morava em Curitiba (ah, Curitiba!) véio Mero ouvia o "Repórter Esso". Voz inesquecível de Heron Domingues. Ondas curtas. Aquele chiado característico. Eu acompanhava as notícias com interesse e um misto de "puta quo pariu" e "carai" e "merdou", antes mesmo de aprender esse vocabulário tão explícito. E, criança que era, assombrado com o fim do mundo que se avizinhava. Guerra fria e golpe militar batendo nas portas. Lembrando que véio Mero era basicamente contra tudo aquilo que ali estava. Tem um posts aí atrás exemplificando.

O bom de ser véio é falar essa coisas (ondas curtas) e a rapaize não saber do que se trata. Somos (os véios) depositários de um mundo incipiente das coisas cósmicas que vieram aplainar o conhecimento humano e foder com tudo. Basta ver no que esta bosta de brasilis se tornou.

Onde eu estava?

Lembrei. Nesta terra abrasiva de Rib's os motoristas (se é que podemos chamá-los assim) são insanos.
As maiores barbaridades em um quarteirão.

Por conta disso lembrei de um episódio que envolveu meu pai e que serviu de exemplo para que seu filho (eu) escorregasse de ser testemunha ocular da história.
Para isso temos que voltar seiscentos e três anos..
Um belo e ensolarado dia meu pai dirigia em sampa quando um sujeito avança o "semarfe" vremeio e pimba, bate em alguém.
Véio Mero poderia seguir seu caminho. Mas, era um sujeito tremendamente honesto e consciente da tal da cidadania. Parou, forneceu seu telefone para a "vítima" dizendo que viu tudo e que testemunharia num provável processo.

Resumindo: teve um processo. Meu pai era chamado como testemunha e nada se resolvia. Ora o devogado do "culpado" ficava doente, não comparecendo, ora o "culpado" ficava doente.
Um belo dia, véio Mero (de terno!) perdeu a paciência e dirigiu-se ao magistrado dizendo que aquilo era uma palhaçada e que não iria mais perder um dia de trabalho nesta palhaçada porque palhaço ele não era. Conhecendo o dito cujo eu diria que ele causou. O juiz ameaçou prender o xiliquento por desacato. Ora, onde já se viu. Assim funciona o judiciário. Quanto mais pedras no caminho mais pavimentada a prestação jurisdicional. Ah ah.
Bom, sei que depois dessa nunca mais Véio Mero foi chamado. E, lembro que ele sempre se dizia preocupado com o resultado do imbróglio. 

Séculos depois aconteceu um episódio semelhante com este que vos tecla. E, o ocorrido com Véio Mero serviu de exemplo.
Cursava Química em Rib's. De manhã, no busão indo para a USP. Estava em pé no coletivo olhando para a frente quando um carro simplesmente atravessa a preferencial (do ônibus) e leva uma castanhada. O carro, um chevette, rodou e parou encarando o busão. Susto, gritos e alívio. Ninguém se machucou. Eu, o babaca de plantão, desandei a falar que vi que a motorista do chevetão passou direto tal e coisa, e coisa e tal. 
Bom, o motorista do ônibus pediu que o cobrador colhesse os nomes de quem viu o acidente para fins de B.O.. O cobrador veio direto para cima do falador porque ouviu o relato.
Quando pediu meu nome veio, num raio, a lembrança do acontecido com Véio Mero. E, bateu uma amnésia do carai no falador.
Disse que não vi, que ouvi dizer, que só vi o carro virado, que a motorista imprudente era bonita e etc.
Quase apanhei dos carinhas. Mas, imaginando o que viria pela frente valia a pena. 
Mesmo porque não tinha terno para a audiência.


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