sexta-feira, 5 de outubro de 2018

CINEMA

Durante um bom período de minha vida fui um cinéfilo dos bons. 
Minhas primeiras lembranças da tela grande vem lá de Curitiba com incursões nem sempre pacíficas (como veremos) aos cinemas da capital do Paraná.
Engraçado que só lembro das idas com véio Mero. Nas minhas lembranças não estão dona Alzira ou os irmãos recém nascidos. Talvez minha mãe ficasse em casa para cuidar dos meus rivais.
Matinês com Tom e Jerry, por exemplo, eram extasiantes pelo tamanho da tela e o som altíssimo. 
Lembrando que televisão era algo de Marte naqueles tempos.
Esse fascínio me levou aos incríveis devaneios. Uma vez assistimos um "farveste" (como dizia o véio). Saí do cinema andando de pernas abertas em direção ao bandido para um duelo. Mãos prontas para sacar o revólver na primeira piscada do oponente.

Meu pai adorava filmes de "farveste". Eu, por meu lado, gostava das paisagens abertas com os cavaleiros compondo o cenário como pequenos pontos que, afinal, somos nesse mundão véio. E, lógico, gostava de ver o malvado morrer crivado de balas. Inocente menino.

Para finalizar Curitiba duas lembranças mais para o lado negro da força. Assistindo um dos filmes do 007 (não lembro qual) levei um susto do carai. O filme começa com uma cena de perseguição (o mote da franquia) e o herói escapa saltando de paraquedas. Só que não. Os vilões estão esperando lá embaixo, enchem o cara de balas. e quando viram o corpo, puta susto. Era um boneco e não o James. O close no boneco quase me fez cair da cadeira. E, fico a pensar. Como um pentelhinho de uns seis anos entrou num filme desses. Só véio Mero para explicar.
A outra lembrança é bem surreal. Fomos assistir um desenho da Disney na sessão das vinte horas.
Havia alguém, deveria ser fiscal de alguma coisa, que não deixou o pimpolho entrar. Deveria ter por volta de sete anos. Vejam bem. Desenho da Disney. E, a criança impedida de assistir. Bom, lembro que a explicação era mais ou menos o horário, evidentemente. Lembro também que baixou o santo no véio que partiu para a ignorância. Numa certa altura alguém pediu que eu intercedesse porque iriam chamar a polícia. Abri um berreiro assustado com a situação e acabamos de volta para casa. Véio Mero havia tomado umas e continuou o discurso no ônibus para desespero das pessoas. 

Pulando para sampa. Quando comecei no colegial (no velho Cedom) voltou a acender em mim a chama por filmes no escuro do cinema. Houve uma época em que fui picado pela mosca que transmite o vírus acetato. Lembro que saía de casa para a sessão das duas e perambulava até a sessão das dez. Quase perdendo o ônibus e, mais tarde o metrô, porque a última viagem era no horário do vampiro (meia noite). 
Assistia todo tipo de filme. Quando ainda "dimenó" falsificava a carteira do Cedom. Os porteiros não estavam nem aí, na verdade. Com exceções, é claro. Havia um, no cinema da Voluntários da Pátria, em Santana, que era das antigas. Olhava minha cara (já barbada) para a carteira com falsificação rudimentar e desandava em ameaças policialescas. A solução? 
Para esse cinema horário em que o reaça não estivesse na entrada.

O lado interessante é que não me importava muito com as pornochanchadas. Ainda nos tempos bicudos (que, pelo visto, vão voltar) da censura assistia filmes "cabeça" como "A Conversação" com Gene Hackman, um dos meus atores preferidos. Aliás adorei também com ele "Operação França".
Nestas andanças aconteciam coisas engraçadas. Alguns dos cinemas do centro eram terra de ninguém. Porém rolava um certo armistício nas sessões da tarde. Mesmo porque as salas ficavam quase vazias. Mas, em algumas ocasiões tive que mostrar quase belicamente que não queria um encontro casual e gay.
Outras situações engraçadas aconteciam devido à censura. "Laranja Mecânica" foi liberado pela censura com aquelas bolinhas pretas nas partes pudentas dos atores. Eles andavam e as bolinhas corriam atrás. Assisti mais de uma vez na esperança das bolinhas perderam o fôlego. Brincadeira. Fiquei fascinado com o filme.

Confesso que hoje em dia só vou aos cinemas sob protestos. Não pelos filmes em si e o fato de estarem disponíveis na web/TV/internet pouco tempo após o lançamento. Mas, pelo cheiro de pipoca e a falação interminável das pessoas. Pode ser coisa de véio. Mas, penso que na maioria das vezes não existe mais a cumplicidade da platéia com a película. As várias interpretações que os filmes bem elaborados proporcionam. E, a maioria dos filmes estão aí para serem consumidos como as pipocas.


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