domingo, 28 de dezembro de 2014

#somostodosostrogodos

Ela entrou no quarto, animada. Avistou sobre a caixa de som feita de criado o mudo o volume sobre ensino e cultura na Idade Média. 
"Ah, eu adoro coisas medievais. Você joga RPG?" 
"Não, não jogo RPG, não. Você joga?"
"Ah, eu adoro!", respondeu inclinando-se para deitar quanto olhava para mim com as mãos atrás da cabeça, ajeitando os cabelos para que não se amassassem tanto sobre o travesseiro. 
"Eu nunca me interessei muito", disse eu, em pé ao lado da cama, folheando a introdução ao livro. 
"Ah, mas eu sempre fiquei entusiasmada com coisa de dragão, armadura, sabe? Desde pequena gostei da Idade Média". 
Virei-me para ligar o rádio. Sintonizei em uma estação qualquer enquanto procurava um disco na estante. Ela prosseguiu:
"É estranho você não gostar. Meus amigos adoram RPG e eles são muito cultos, professores de faculdade. Você precisa se levar menos a sério, daí você iria se divertir com estas coisas. E Tolkien? Dele você gosta?". 
"Então, todos falam bem, mas ainda não li nada. Ele não escreveu já no século XX?"
"Sim, é verdade. Mas é bem medieval", sentenciou.
Querendo cortar o assunto, perguntei:
"E o Boécio? Você já leu o Boécio? Agostinho? O pseudo-Dionísio Areopagita? Se você gosta de coisa medieval, deve ter lido estes caras, não?".
"Não, não. Não conheço". 
Ficou olhando para mim com olhar meio perdido. Imbecil.

2 comentários:

  1. Sei lá quem é a Ostrogoda do B. Mas Tolkien não deveria ter nada a ver com o latosensismo alheio. Até porque só o que ele aparentava ter em comum com a Idade Média era a fascinação pelas Escrituras.

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    1. Bom, eu não vou explicar, mas é justamente por isso que Tolkien aparece.

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