quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Há 25 anos

Engraçado que eu já tinha começado a escrever este texto quando fui ler o do Flávio Gomes sobre o mesmo assunto. Minha ideia era começar com "claro que eu não me lembro do GP do Japão de 1988"; ele começou com "claro que me lembro bem do GP do Japão de 1988". Ficou aí um paralelismo involuntário e interessante. 
Mas não lembro mesmo daquela corrida, pois contava com apenas três anos de idade. Era uma pessoinha que havia comido bolo estragado naquele dia, junto com a mãe que, naquela madrugada, também passava mal. 
É interessante, contudo, que mesmo sem ter assistido ao Grande Prêmio - e, ainda que o tivesse visto, não conseguiria lembrar -, aquela foi uma das corridas mais marcantes para mim, pois passei o resto da vida em busca de informações sobre aquele evento. 
Desde logo, ouvia as histórias contadas pelo meu pai: "o Senna ficou lá para trás e venceu. Foi de cagar". E, depois, da minha mãe: "eu estava passando mal e vem o teu pai me acordar de madrugada pra dizer que o Senna tinha ganhado. Tenha dó". Imaginei, então, que deveria ter sido uma corrida sensacional. 
E foi mesmo. As imagens daquela temporada estavam disponíveis no anuário da FISA (era FISA naquele tempo) que, no Brasil, era narrado pelo Reginaldo Leme. Adorava quando meu pai locava aquilo. A certa altura, conseguimos cópias do vídeo para ter em casa e não sei dizer quantas milhares de vezes assisti o resumo da temporada de 1988. Foram inúmeras. Devo saber de cor até hoje alguns trechos da narração do Reginaldo Leme. 
Acho que não é conveniente resumir os acontecimentos daquela corrida. As informações estão disponíveis por aí, há muitos e muitos vídeos no YouTube que condensam melhor que eu aquilo que foi relevante no certame de Suzuka aos 30 de outubro de 1988. Naquela disputa, Senna venceu seu primeiro título mundial de F-1 e começava a se formar, em mim, o gosto pelas corridas de automóvel. Ayrton Senna foi meu herói da infância - acho que foi o de muitos meninos da minha idade - porque ele ganhava corridas espetaculares e demonstrava grande alegria com aquilo. Era contagiante. Quando ele faleceu, eu contava com apenas nove anos e não tinha condições de comparar sua pilotagem com a do Piquet ou do Prost, não podia avaliar seu caráter como homem, nada disso naquele momento estava ao meu alcance. Era tudo muito mais simples que isso. Ele subia no carro, fazia o que pudia, e o meu papel era ficar feliz.
Hoje, buscando de novo uma alegria lúdica e fácil, comecei a montar um modelo na escala 1:8 da McLaren MP4/4 com quê Senna, há 25 anos, conquistou seu primeiro campeonato. Soubesse minha mãe quanto vai custar a brincadeira, teria uma indisposição maior que aquela do bolo estragado. 


Um comentário:

  1. Rá!
    lembro daquela noite estranha. Mulher e filho passando mal em uma cidade com hospitais não confiáveis.
    Quando começou a corrida (e, eles haviam melhorado) esqueci de tudo e torci para carai. Principalmente quando começou uma chuva besta e o Senna tirou a diferença para Prost (ituto).
    Mas, o pior é fazer comentários para as almofadas que bocejam impacientes para que tudo acabe. Ainda hoje é assim.
    Na época eu tinha que contar a proeza sennística. Sobrou para a rainha da mansão...

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