segunda-feira, 11 de maio de 2009

Barrichello e o sorriso mais simpático da Formula-1


Não sou torcedor de pilotos brasileiros, Pacheco, como costumam dizer por aí. Mas torço por Rubens Barrichello, desde menino. Quem não torceria depois de Donington 1993? Um pódio garantido e um câmbio (foi câmbio mesmo?) quebrado faltando poucas voltas para o fim. E era apenas sua terceira corrida na Formula-1. Mas torcer pelo Barrichello começou a se tornar difícil com o passar dos anos. Não só porque, nos primeiros tempos, os resultados não vinham com abundância, mas porque todo mundo começou a pegar no pé dele. Virou “Pé de Chinelo”, o que é uma tremenda bobagem.

O problema é que no Brasil não há torcedor de Formula-1. Há poucos. Há, sim, torcedores de futebol adaptados. Quer dizer, o sujeito não entende nada de corridas, mas assiste para ver o brasileiro se dar bem, e não fica satisfeito se o brasileiro não faz o resultado que ele esperava. E, nisso, há o papel da emissora oficial, que às vezes elogia demais e não faz as críticas apropriadas. Se o Nelson Ângelo Piquet diz que não foi ao Q3 por um “pentelho de nada”, é preciso conversar com ele para que ele não repita a tal expressão – que é, na verdade, inofensiva; outras críticas, que poderiam ser mais construtivas, acabam não sendo feitas. E o torcedor adaptado pensa que todo mundo é o novo Ayrton Senna.

E o problema do Barrichello ainda é outro: além dessa questão da emissora oficial, ele próprio promete demais. Se o atacante entra em campo dizendo “vou fazer três gols”, e ao final fez apenas dois, ele está devendo um. E será cobrado.

É exatamente isso o que ocorre com o Barrichello. Ele disse à TV no domingo antecedente à corrida de Barcelona: “vou ser campeão. Por que não seria?”. Certamente seria mais prudente dizer: “vou tentar andar sempre entre os primeiros, vencer, quem sabe, algumas corridas, e a partir daí pensar em vencer o campeonato. Mas é difícil, porque o Jenson está andando muito bem”. Desse modo, fala-se tudo, com prudência, e sem colocar pressão sobre si mesmo.

É claro que estou brincando. Cada um sabe o que fala para a imprensa. Mas eu, como torcedor do Barrichello, gostaria de ter ouvido a segunda versão do depoimento.

Prometendo ser campeão antes de ganhar uma corrida, o Barrichello só está jogando a torcida e a imprensa contra ele. E com isso vem toda a pressão.

Na Espanha ele andou muito bem. Largou de forma arrojada, não deu chances para que o Button se defendesse. Faz um ótimo trabalho até o segundo pit-stop. O problema é que teria que fazer mais um...

Não sei por que parou três vezes. Acho que nunca havia visto uma estratégia para três paradas funcionar bem em Barcelona – e continuo sem ter visto. Mas a Brawn, seus pilotos e engenheiros, haviam calculado e percebido que, precisamente neste ano, daria certo. Fato é que não deu. Se tivesse feito duas paradas, Barrichello provavelmente teria ficado o tempo todo a frente de Button, e com isso teria tido a chance de controlar a corrida. Mas, por qualquer razão, não foi isso o que houve.

(O Norber Haug, diretor esportivo da Mercedes, fornecedora de motores da Brawn GP, disse que acredita ter havido favorecimento da Brawn a Jenson Button. Isso está escrito no blog do Livio Oricchio [http://blog.estadao.com.br/blog/livio/]. A opinião de Haug é importante, mas não deixa de ser uma opinião – e vai entre parênteses).

Eu não quero, e realmente não gosto, de insinuar que tenha havido favorecimento ao Button. Pode ser que tenha havido, mas, deve-se dizer, isso é mérito ou sorte do próprio Button, que fez corridas arrasadoras até aqui. Com 5 x 0 em resultados de corridas a favor do inglês, o também inglês Ross Brawn já deve estar pensando no “melhor para o campeonato”, ainda mais prevendo que pelo menos a Red Bull encoste para brigar pelos primeiros postos. Lembrando que Ross Brawn é o mesmo homem que “pensava no campeonato” na Ferrari. Não quero deixar a entender que ele não goste do Barrichello e o persiga. Não se trata disso. Se fosse assim, ele não teria razões para contratar o Rubens para ser seu piloto. Apenas quero dizer que o Brawn costuma, sim, evitar que seus pilotos desperdicem pontos competindo entre si.

A questão do “inglês na equipe inglesa” eu não vou comentar, pois já ficou batida, e soa como desculpa. Mas basta lembrar os célebres casos Piquet x Mansell, na Williams, e Hamilton x Qualquer Outro na McLaren. E ponto.

Se o Barrichello quer reagir, talvez ele deva se utilizar da tática Mark Webber. “O Vettel é fantástico, o Vettel é o novo Schmacher, o Vettel domina e etc.” O Vettel ficou a corrida toda preso atrás do Massa, e teria chegado ali se não fosse o problema da gasolina no carro do Felipe. Ninguém se lembrou ao longo da corrida toda de procurar o nome Webber na cronometragem oficial (já que a TV não o estava mostrando). E de repente... Webber em terceiro, fungando na traseira de Barrichello, enquanto Vettel continuava atrás da problemática Ferrari de Massa.

É claro que Barcelona não tem pontos de ultrapassagem muito claros. Acho o Vet

tel, sem qualquer ironia, um piloto absolutamente fantástico. Mas o Webber, quietinho, quietinho, quase sumido, sem falar nada de assombroso para a imprensa, sem ameaçar deixar a Formula-1, deu o pulo do gato, e chegando à frente de seu companheiro, ganha confiança e faz com que a equipe confie nele, o que é extremamente importante. É o que Rubens deve fazer.

Acredito que a briga pelo título não tenha terminado. 14 pontos não é uma diferença irreversível. Com o atual sistema de pontos, pode-se ser campeão ganhando 3, 4 corridas. Se em Mônaco, por exemplo, o Button fica sem freio, passa direto na Saint Devote e não completa a corrida, vencendo o Barrichello, temos 4 pontos de diferença; mais duas dobradinhas com o Button em segundo, voilà, estamos empatados.

Mas não adianta ter esperança, nem torcer, se a atitude não mudar. Primeiro andar na frente, depois vencer, e só depois, bem depois, pensar em ser campeão.

Agora, mesmo torcendo pelo Rubens, não tem como torcer contra o Jenson Button: sujeito simpático, que vence e abre aquele sorrisão de “estou feliz para cacete”, e não aquele sorrisinho de “eu sou foda”, que tem um pai doidão e muito simpático, muito diferente do pai Hamilton, que parece dizer com olhar para o filhão: “sim, eu estou pressionando você! Experimente não ganhar!”

Além de que, ele está dando show, andando direitinho, sem errar nada. Como sempre andou, aliás. Só que agora vale muito. E todos estão vendo.

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