segunda-feira, 20 de maio de 2013

MORTES A CELEBRAR

O título pode ser cruel. Mas, não.
Quando fazia cursinho pré vestibular havia um professor espanhol (de nascimento) dando aulas,  para nós jovenzinhos recém saídos dos cueiros, nos anos 1975.
Ele ministrava aulas de matemática e eu detestava essas aulas porque, mesmo naquela época, já não interessava (para o vestibular) se "x" é um número casto castrado via binômio grego em uma arena curintiana. E, ele adorava mostrar conhecimento de matemática marciana.
Eram tempos em que até mesmo a epidemia de  meningite em são paulo era escondida do populacho, via censura.
Pois bem. Nesta negra era quem dava as cartas na Espanha era o Francisco Franco, ditador que dispensa maiores explicações, apresentações e etc. Gente fina, diria Adolfo, o Hitler.
Enfim, lembro que nosso Chicão definhou algum tempo e o professor entrava na "arena" com ares pseudo blasê vibrando pela queda/morte iminente do ditador espanhol. Como eram tempos bicudos a manifestação sobre a saúde do Chicão era dada entre risos e sarcasmos.
Naquela época, professor com posição política definida (não alinhada com a ditadura) acabava na cadeia. Nem preciso lembrar.
Um belo dia morre Chico.
20 de novembro de 1975.

hitler, eu?
Nós, pobres estudantes, na  véspera do vestibular, diante de tal notícia estávamos sedentos pela manifestação do professor Álvaro sobre o passamento do ditador de sei país de origem. Ele entrou na "arena", na primeira aula após a notícia, como se nada houvesse sacudido o mundo das ditaduras.
Começou a falar e ninguém se interessou pelo que dizia.
Então, parou no meio de sua aula e disse algo assim: "sei que vocês esperam que eu, como espanhol, manifeste minha opinião sobre a morte do caudilho Franco. Pois este é um dos dias mais felizes de minha vida."
E, a "arena" veio abaixo. Morreu, na nossa opinião, um filho da puta.
De lá para cá muita água passou por debaixo da ponte.
Hoje mesmo, lá na famosa chácara, torrei o saco de um sobrinho lembrando os tempo bicudos que podem nos assombrar a qualquer momento.
Catso!
Sou um tiozão agarrado em lembranças e fatos que, admito, são difíceis de retornar nos moldes daqueles tempos. Mas, paranóias, paranóias, o que acontecerá se houver uma privatização do McDonalds?
Tudo para lembrar que morreu outro filho da puta.
Duplamente porque argentino (rá!).
Vejam. Quantas bocas viradas para baixo?

Jorge Videla.
Entre 1976 e 1981 ele comandou a ditadura da Argentina. Ou na Argentina.
Foi substituído por outro general de nome Viola.
Lógico que, em se tratando de América do Sul, Videla foi uma espécie de porta voz da conclave que mandou e desmandou no hemisfério. Havia uma troca de guarda, em verdade.
Sem descer ao porão, porque não é a intenção deste post ou do blog, lembro que nestes tempos houve o furor nacionalista ridicularista dos hermanos em relação às ilhas Falklands, um arquipélago que os argentinos chamam de Ilhas Malvinas.
A ditadura resolveu invadir as ilhas em busca da popularidade perdida.  Lembro desta época. Era 1982 e a invasão foi de surpresa. A esquadra argentina deixou o porto de Belgrano para manobras e perpetrou a ocupação do arquipélago. Era março e a resposta inglesa foi, de certo modo, inesperada.
A dama de Ferro, Dona Tatcher, vislumbrou a chance de uma grande conquista militar e se dar bem nas eleições. Então, fez aquela pose de cowboy e disparou para a Argentina "ou dá ou desce"
Como os hermanos não acreditavam muito naquela senhora inglesa (esperavam que houvesse uma negociação), não desceram.
O que se seguiu foi digno de novela mexicana. Os ingleses tomaram alguns navios de turismo, encheram de soldados e partiram rumo ao desconhecido (quero dizer uma terra gélida perto do pólo sul).
Toda noite nós acompanhávamos os capítulos pelo noticiário. Até que no final de maio houve o desembarque e por volta do dia 12 de junho a retomada.
A derrota catalisou a queda da ditadura argentina.
Traçando um paralelo entre os regimes de exceção vemos, e lamentamos, que no Brasil uma lei como a da Anistia, é considerada válida, enquanto todas as ações (leis e etc)  para manter longe do cárcere outros criminosos das ditaduras do cone sul vão sendo desmanteladas.
Nossa lei da Anistia foi promulgada para salvaguardar torturadores e outros criminosos. Crimes contra a humanidade.

Videla no auge

quando de seu último julgamento
Enfim, Videla morreu na prisão. Condenado à prisão perpétua. Tantos outros estão presos.
Aqui, torturadores incólumes justificam seus atos dizendo que, por exemplo, "aquela mulher" que hoje ocupa a presidência era terrorista. Então, o Estado fez o que fez e "aquela mulher" detém, finalmente, o poder.
Esta mulher é chefe de Estado. Ou seja, ocupa hierarquia superior a este militar aposentado. Não seria  o caso de chamá-lo às falas, já que o judiciário não tem peito para tanto?

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