Dias desses, escrevemos sobre a persistência da memória. Eu tinha gostado bastante, mas o texto serviu mais para deixar meu pai espantado do que qualquer outra coisa. Entre uma cerveja e outra, conversamos sobre o contexto de cada uma das linhas. E foi interessante, deveríamos fazer mais!
Mas não é só a memória que persiste nesta vida. Vou contar uma historinha, mas, antes, vejam esta plantinha laranja, no auge de sua saúde, alegrando o ambiente:
Dia 21 de dezembro de 2011, este arremedo de ser humano, já com sintomas de que as coisas não caminhavam tão bem nos seus rins, fez a mala e saiu para ir passar o fim de ano com os pais.
Chegando ao andar térreo, a mala já começava a dar sinais de fadiga e as rodinhas se esgarçavam, uma para cada lado, tamanho o peso a ser carregado por elas. Depois de passar pela porta, dizer "boas festas e até breve, Luís" e começar a rezar para que a mala resistisse só até a rodoviária, uma coisa me ocorreu: havia esquecido de deixar os dois vasinhos que moram aqui em casa com a vizinha que tomaria conta deles. Parei na esquina enquanto esperava a boa vontade do semáforo, olhei em volta, olhei para trás e tive um dos pensamentos mais perversos da minha vida: talvez fosse melhor ir e não ter mais aquela planta quando voltar. De certa forma, eu sabotei a plantinha, que não tem nada a ver com a história.
Quando voltei para cá, chovia - tem sempre chovido. Guarda isso aqui, deixa aquilo ali e fui ver o estado das plantinhas. A violeta, coitada, estava meio surrada, mas ainda com flores! A laranjinha acima, bem, não teve tanta sorte. Quase toda essa folhagem verde que se vê abundante estava ressecada, com a cor marrom, todas as flores estavam secas e caídas, uma cena de dar dó.
Um arrependimento sombrio me acompanhava desde Ribeirão Preto por não ter cuidado adequadamente da sobrevivência das plantas na minha ausência. Acho que cheguei a comentar com alguém que não adiantava vociferar contra a existência das plantas e que, ao contrário, era preciso aprender a conviver em paz com elas.
Mas, de uma forma estranhamente simbólica, minha tentativa de não ter mais a laranjinha por perto fracassou. Ela já não é mais aquela planta vistosa de antes, mas ainda tem suas folhinhas verdemente alegres e uma haste que, em breve, carregará uma flor. No meio daquela secura e falta de cuidado, sobrou um monte de vida para ser vivida alegremente.
Fiquei triste pela laranjinha. Isso, sim, foi muito perverso!
ResponderExcluirNão é perdoável, contudo nem semtudo nem comfio, não. Trata de insistir na refazeção dessa foto até ficar do nível da escola fotográfica do 51. Persistência!
ResponderExcluirA flor e a nausea?
ResponderExcluirPois é... e lá se foi a eficácia do crime de omissão de cuidado para com a plantinha. Não adianta: quando algo precisa ficar em sua vida, por mais que você tente arrancar, a coisa sempre fica lá. Seja real, seja memória (se bem que acho as memórias mais perigosas que a realidade). Ainda bem que, neste caso, trata-se de uma companhia laranja, alegre e agradável!
ResponderExcluirTo comecando a perceber uma propaganda subliminar do Resgate. Virou Latrina isso daqui? Diga a parte nordica se acompanha.
ResponderExcluir[Conspiracoes a parte, como ja disse antes - e voce vai tornar a esquecer! - dessa o Poeta ia gostar ;]