domingo, 24 de março de 2019

FODA-SE

Como todo garoto de tenra idade meu sonho era ser um craque da bola feito o Pelé ou Coutinho ou Pepe, o canhão da vila.
Jogava futebol nos arredores da famosa Djalma Forjaz. Na minha cabeça era um craque. Aliás, gols de cabeça eram minha especialidade. O tempo passou e descobri que era um perna de pau. Não lembro, sinceramente. quando o craque decaiu.

Sim, doeu. Logo comecei a ser o último a ser escolhido para a bosta dos times que jogavam futebol no final da rua Garcia Rodrigues lá no Conjunto dos Bancários, alto do Mandaqui.
Nunca entendi a derrocada do craque. Mas, costumo dizer que foi um problema no joelho esquerdo que teimava em falhar na hora da corrida ao gol. Véio Mero nunca acreditou que seu primogênito tinha um "defeito" semelhante ao seu. E, nada de médico. Lembrando que Véio Mero foi goleiro dos "bão" em Rib's quando jovem. Quase titular do glorioso Comercial. O joelho acabou por acabar (ui) com sua carreira.

Enfim, o tempo passou e fomos morar em Jaboticabal (toc, toc na madeira). Jogava bola com um pessoal meio que saídos dos tempos das cavernas. 
Muito pontapé na bola e adversários. Uma vez não entendi muito bem a belicosidade de um sujeito bronco que insistia em tentar quebrar qualquer osso de minha figura.
Depois do jogo a gente sentava no bar da quadra para repor os líquidos perdidos. Criei coragem e perguntei para o homem das cavernas o porque de tentar me assassinar aos chutões. A resposta foi interessante: "eu chego o mio". 
Não entendi. O único sujeito da turma que me aceitava esclareceu. A expressão queria dizer que ele ceifava o milho.
Mais ou menos o seguinte. Aos olhos daqueles que dividiam a quadra eu era o riquinho a ser ceifado.
Sim, o empresário falido.
Tudo bem. Parei com essa turma e, depois de um tempo, fui jogar bola com meninos mais civilizados da turma da locadora de fitas da cidade. Uns caras muito lôcos. Mas, eu já estava na fase de "dou chutão mas, pago minha mensalidade da quadra".
Outro astral. Um grupo que não estava na vibe de matar alguém porque mamãe não dava chupeta nos meus dez anos de idade.

O que tudo isso tem com o post e a F-1?
Explico. 
Valério Botinas ao final do GP de Meuboné, onde mostrou e chacoalhou, saiu com um foda-se aos detratores de plantão.
Lembrei então, daqueles meus tempos do futebol na concha acústica de Jabotica's. Mesmo jogando no estilo bumba meu boi, como disse, a gente se divertia. Numa noite eu estava na minha melhor forma. Ou seja, jogando mal para carai. 
Mas, numa faísca de gênio, peguei a bola no meio da quadra, vislumbrei o goleiro adiantado e o encobri numa jogada genial (a faísca de gênio....).
Fui aplaudido, não de pé, corri para o banco de reservas do adversário. catei minhas bolas e berrei "aqui ó!"
Foi legal principalmente porque não apanhei. 

Mas, meu gesto foi aceito porque alguém que não nasceu para ser o tal Pelé pode ter  uma centelha de genialidade numa noite qualquer lá no fim do mundo, com poucas testemunhas, porém com a cena eternizada na memória.

Valttery Bottas pode não ser um Lewis Hamilton da vida. 
Mas, teve um dia de gênio. 
Para nunca mais esquecer. E, como o Luizão numa noite solitária, catou as bolas e gritou "foda-se".
Com toda propriedade.
"é nóis, Luizão!"




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